O espírito do tempo no qual vivemos é notavelmente instável. Vários temas têm ocupado a agenda mundial, com destaque para as guerras e a explosão de intolerância. Paradoxalmente, talvez não tão causalmente, a instantaneidade das comunicações e o imperativo de respostas rápidas tem sido um grande desafio, pois geram simultaneamente tanto informação como distorção. Uma das questões mais relevantes de nossos tempos tem sido o grotesco reaparecimento do antissemitismo. Manifestação que hoje assumiu um verniz mais sofisticado – vale dizer, mascarado – e que usa a alcunha de outros nomes para fazer vingar uma agenda racista e etnofóbica.
Um dos nomes estatisticamente mais significativos para escapar da verve racista do antissemitismo tem sido o uso da palavra "sionismo" em suas várias vertentes e modalidades. Muito frequentemente assumindo uma conotação falsa e caluniosa. Urge desmistificá-la. No cenário brasileiro muitos líderes de várias etnias e crenças religiosas, dentro e fora da comunidade judaica, tem se destacado na luta contra este vergonhoso flagelo que – vale enfatizar – nunca foi extinto.
Esteve sim apenas em estado de animação suspensa e reemergiu no dia 07/10 com os inimigos da humanidade protagonizando em Israel o maior massacre de judeus desde o período do Holocausto. Para tentar entender melhor estes e outros aspectos fizemos a primeira desta série de entrevistas. Desta feita, escolhemos o presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), organização que recentemente fez sua convenção com expressiva participação de políticos, empresários, jornalistas, diplomatas e escritores.
Elaboramos as perguntas a partir dos temas mais frequentes e relevantes. O médico e líder comunitário Cláudio Lottenberg é, nesta ocasião, o nosso primeiro entrevistado. Lottenberg lançou recentemente o livro "Entre a Luz e as Trevas" (Editora Citadel, 2024).
Qual é a sua avaliação da recente convenção da Conib?
A avaliação que faço acerca da convenção da Conib é muito positiva. De pronto nos defrontamos com a dificuldade em poder ter durante um período curto um grupo representativo de todos os estados onde a comunidade judaica está organizada e que destes locais tem que se deslocar. Estas pessoas são voluntários que tem uma mesma tradição e que se expressa dentro de ritos de ortodoxia diferentes e com necessidades muito distintas. Nos procuram e se unem porque querem ter um mesmo discurso e uma capacidade de organização mais uniforme e com recursos nem sempre abundantes.
Independente destas pessoas com papel institucional nós temos tentado incluir mais gente da comunidade ampliando o escopo para além daqueles que ocupam um espaço na liderança constituída nos moldes de nosso estatuto. Esta construção é um grande desafio num momento em que temos um incremento enorme de manifestações antissemitas e a comunidade ansiosa por participar e a única certeza que tenho é que por mais que nos esforcemos não atenderemos todas as demandas deste pluralismo que nos caracteriza.
De forma geral conseguimos segmentar os diferentes blocos explorar necessidades específicas, ouvir e ainda trazer para perto pessoas que nos tem sido solidárias e se interessando por nossa luta que o da luta contra o antissemitismo, a defesa ao direito a existência do estado de Israel e a nossa incansável batalha contra os banalizações feitas com a tragédia do Holocausto. Todos os anos buscamos um parceiro internacional e o deste foi o American Jewish Committee com seu presidente Ted Deutsch assim como já ocorreu no ano passado com o Congresso Judaico Latino-americano. Além disto convidamos políticos tendo sido critério aqueles governantes que apoiaram e assinaram o Protocolo do IRHA e parlamentares que assumiram papel em comissões ligadas a Israel nos fóruns de seus poderes ou que visitaram o estado de Israel.
Como enxerga as questões ligadas à segurança comunitária em relação às ameaças de antissemitismo?
Este é um assunto preocupante pois temos importantes antecedentes da tentativa de casos de infiltração de agentes terroristas em nosso país e as recentes confirmações de que o ataque a Amia e contra a embaixada de Israel em Buenos Aires tem vínculos com organizações desta natureza vinculadas ao atual regime do Irã. No momento que o nosso país dá sinais tão positivos ao Irã que ultrapassam limites de natureza comercial, compartilhando, por exemplo, espaços com líderes terroristas.
Além disso, não verbaliza de forma clara e contundente posições mais firmes contra estes vínculos, e assim cria-se um cenário de questionamento e insegurança. Felizmente, os órgãos técnicos e aí menciono a Polícia Federal, o Ministério da Justiça e as secretarias de Estado de Segurança têm dado sinais claros de muito profissionalismo e independência não permitindo uma politização num tema que nos é muito caro.
Os números relacionados ao antissemitismo são preocupantes. Comparando períodos semelhantes a no ano, o nosso monitoramento constatou incremento da ordem de 900 por cento considerando manifestações e atos antissemitas. O antissemitismo se combate através de educação e ações de natureza jurídica, e, nesse sentido, temos sido impecáveis: temos hoje mais de 40 advogados voluntários que ao menor sinal notificam, questionam e se necessário processam. Procuramos não deixar nenhum movimento sem resposta.
Como enxerga o que tem sido desenvolvido no projeto 'Ecoa', e como aumentar o engajamento de empresas e empresários no combate à discriminação?
As empresas têm assumido um protagonismo importante na defesa das minorias. Entretanto o judeu não se enquadra e pior, para as minorias ele se confunde com uma maioria opressora e parte de uma cultura de colonialismo e para os brancos ele não e tido como parte desta maioria, parece ser o pior dos mundos. Felizmente no ambiente corporativo começam a surgir movimentos que passam a se preocupar com o assunto. Acho muito positivo pois trabalha de uma forma mais ampla uma minoria dentro do capítulo da intolerância
Qual a importância do trabalho voluntário no combate ao antissemitismo nas mídias sociais, como estas pessoas são reconhecidas?
O trabalho dentro da comunidade judaica se caracteriza por uma jornada onde o voluntarismo e uma marca constante. Faz parte do DNA judaico o ativismo e isto pode ser observado ao longo de uma história milenar. A questão e até quando e se o momento permite que assim permaneça. E aí não se trata de reconhecer, mas sim da necessidade de respostas mais rápidas, mais consistentes e de uma estratégia mais estruturada. O modelo tradicional a meu ver se encontra em processo de exaustão, mas felizmente ainda hoje posso dizer que o que temos depende de uma força incrível destes voluntários que se dedicam com propósito.
O povo judeu até por pressões de seus inimigos ganhou a caracterização de ser um povo e assumiu dentro de uma responsabilidade que classifico como sendo um exercício de cidadania, mas em forma de uma cultura que tem suas raízes na religião, mas que hoje já não se restringe a um culto ou a uma ortodoxia.
Um traço cultural que se manifesta através de ações comportamentais cujas raízes foram religiosas como eu dizia, mas hoje se amplia dentro de uma cultura com valores muito fortes e que combina muito com aquilo que a sociedade maior tanto almeja na forma de respeito e justiça. Somos os irmãos mais velhos, como falou o Papa Francisco!
Qual sua avaliação sobre a inserção política da comunidade judaica?
Este e um grande desafio a começar pelo fato de os judeus serem plurais e diversos. Temos judeus de esquerda, temos judeus de direita, temos judeus mais ou menos conservadores, temos judeus liberais. Portanto, temos que buscar uma forma de construir uma baliza dentro dos temas que não são caros e é isto que pode nos unir dentro de uma participação política.
A questão é que cada um dos movimentos que um líder toma, muitas vezes ou está alinhado com determinado governo ou é contrário e no mundo polarizado que vivemos, posso dizer que se torna impossível que alguns não interpretem como sendo um alinhamento ideológico partidário Além disso política se faz com políticos e em ambiente político e de novo, sem um mínimo de inserção, não se constrói uma relação sem aproximação.
Temos tentado ao máximo tratar dos assuntos de forma estruturante e com certa distância, mas temos certeza de que muitas vezes a interpretação será necessariamente positiva, com gente que sempre contestará.
Temos a obrigação de conversar com todas as lideranças, temos a responsabilidade de nos fazer representar em todas as frentes, e vamos seguir trabalhando desta forma sabedores que dificilmente iremos agradar a todos. Entretanto, hoje temos que nos conscientizar que alguns grupos políticos não querem falar conosco e só fariam mediante uma adesão ou, em outras palavras um alinhamento absoluto. E isto nós não faremos, mesmo porque não temos mandato para uma ação desta natureza.
O que o inspirou a se engajar na liderança da Conib, e qual momento você considera o mais marcante dessa trajetória? Qual foi o maior desafio que enfrentou na presidência da Conib e como ele moldou sua visão sobre o futuro da comunidade judaica? E, complementando, se você pudesse deixar uma mensagem para a próxima geração de líderes comunitários, o que diria?
Minha família sempre esteve envolvida no trabalho comunitário. Meu pai atuou também na própria Conib tendo participado de muitas instituições judaicas e não judaicas. Foi minha inspiração, cresci assim. Desde jovem estive envolvido e minha primeira participação foi dentro da Congregação Israelita Paulista onde fui aluno do ensino religioso e atuei nos movimentos juvenis muito estimulado pelo rabino Sobel. No período acadêmico fui diretor de Juventude da Hebraica e seu conselheiro mais jovem naquele momento e nunca mais sai.
Participei de processos eleitorais na Federação Israelita, trabalhei em eventos do fundo comunitário e fui cantor de sinagoga inaugurando a sinagoga do Hospital Albert Einstein. E foi atuando nesta organização que tive a oportunidade de crescer tendo sido convidado para ser vice-presidente na década de 90 e seu presidente por 15 anos. Hoje eu presido seu conselho e mais no final de meu mandato enquanto presidente da diretoria fui convidado para presidir a Conib, onde permaneci por 6 anos e retornando para um novo período há 4 anos.
Gosto muito de política e sempre atuei e me relacionei com várias lideranças do mundo da política brasileira. Fui secretario da Saúde de São Paulo, participei de conselhos em todos os níveis na esfera municipal, estadual e federal, criei organizações na esfera representativa na área médica e fora dela e, portanto, esta é minha vida ao lado da medicina e de minha família.
Tive muitos momentos de dificuldade. Em minha primeira passagem pela Conib, o Brasil já flertava com o Irã e tanto que o seu presidente veio ao Brasil e nos causou muito trabalho. Foram momentos de tensão com o presidente Lula, mas com quem posteriormente procurei reconstruir uma relação. Ao longo dos tempos acredito que me transformei num líder mais convicto de minhas posições até porque o mundo atual nos dá mais ferramentas para compreender onde estamos e melhores instrumentos para nossas argumentações.
Entretanto deixo claro a todos e principalmente aos jovens: quem imagina que está agradando a todos, não agradará ninguém. A liderança é solitária e ter lado também e fazer política. É necessário 'ter estômago', paciência e suportar. Napoleão Bonaparte registrou: "A glória é passageira, mas a obscuridade é para sempre. Um líder é verdadeiramente julgado apenas pelos resultados que deixa ao final de sua liderança".
Qual a importância e o significado dos diálogos inter-religiosos e multiétnicos?
Somos uma minoria e as minorias têm algo em comum: todas são uma minoria. Aprendi que o intolerante tem dentro de si uma intolerância que é mais aparente, mas certamente oculta dentro de si outras intolerância classificadas na linguagem médica como sendo subclínicas: só uma questão de tempo para aparecer. As minorias têm que se ajudar para se tornarem mais presentes até para acentuar que quando somadas elas até são uma maioria e que devem construir entre sim um verdadeiro cinturão de solidariedade e inclusão
Como transmitir e fazer chegar às pessoas o que estamos passando? Parece que só a linguagem racional tem sido insuficiente. Como mobiliar a empatia? Utilizar a linguagem da dor, mostrando o aspecto afetivo e emocional que envolvem os conflitos?
A linguagem da dor é uma ferramenta poderosa para a conexão humana. Ao dar voz ao sofrimento, ela cria a possibilidade de empatia e solidariedade, desde que haja uma escuta genuína e ativa. Reconhecer a dor do outro não apenas valida sua experiência, mas também promove um senso de comunidade e cuidado mútuo. Pode, de fato, trazer um ganho de entendimento na medida que for feita com laços de verdade e honestidade!
Como está a integração das instituições judaicas no Brasil e na América Latina? Qual é a possibilidade de conseguir que o governo brasileiro perfile-se às grandes democracias do mundo e reconheça como grupos terroristas Hamas e Hezbollah perante a justiça do Brasil? Como as últimas eleições nos USA podem afetar o Brasil nos aspectos antissemitismo/antissionismo?
Os laços entre as instituições judaicas da América Latina vem se fortalecendo através de órgãos de natureza internacional, e em particular entre aqueles que se interessam por isto em nosso continente e vale destacar o Congresso Judaico Latino-Americano, o American Jewish Committee e o Anti Defamation League. A situação na América Latina tem hoje uma forte influência de um segmento da ideologia de esquerda que perdeu parte de seu discurso e abraçou a causa dos assim chamados "oprimidos". E o faz sem o devido peso, sem a análise profunda e com forte sentimento antiamericanista.
Entretanto estas situações não são gerais pois temos exatamente neste momento o Paraguai mudando a sua capital em Israel para a cidade de Jerusalém o que simbolicamente tem um impacto muito forte. Não preciso falar sobre a Argentina e mesmo Uruguai que terá uma troca de governo nos próximos dias, embora agora alçado à esquerda, mas que também seguirá apoiando o estado de Israel. A posição brasileira conhecemos que aliás não coincide com o pensamento do povo brasileiro e da comunidade política e sobre Colômbia, Venezuela e Chile, também algo lamentar.
Causa-me surpresa porque não vejo nada de esquerda dos países que se associam a esta tendência e que são de fora da América Latina como é o caso do Irã, um país que oprime as mulheres, repudia as minorias e que nada tem a ver inclusive com espírito do povo brasileiro. Portanto, a lógica do comportamento na América Latina, foge do ideário democrático porque quem quer defender a democracia e para quem consegue ler o perigo que representa o fanatismo islâmico, deveria neste momento estar ao lado do Estado de Israel.
O atual governo brasileiro não dá sinais de que pretenda mudar sua posição, ela tem natureza ideológica, mas logicamente nos limites da legislação. Não fosse o Itamaraty um órgão maduro, não existisse uma legislação mais forte, teremos o cenário ainda pior neste festival de avaliações equivocadas e as recentes comparações esdrúxulas.
Neste sentido, o que nos resta fazer é continuar trabalhando nos pontos que precisam de um embasamento legal e principalmente no capítulo do antissemitismo. Infelizmente, a ideologia que acompanha a polarização dos sistemas políticos em nosso continente, está nos afastando dos valores universais que tanto defendemos.
A eleição do presidente Trump nos Estados Unidos trará a meu ver mais pontos positivos que negativos pois alguém tem que dar um basta nesta onda de terror. Dissociar o conflito do Oriente Médio do mundo do terrorismo, estar aliado a um país teocrático e fanático como é o regime atual do Irã, maquiar o legítimo direito da existência de um estado palestino, tudo isto o presidente Trump tem muito claro e saberá como agir tanto que já avisou o que fará casos reféns não sejam liberados. A propósito, considero non sense e absurdo comparar presos terroristas com os reféns inocentes que ainda estão sequestrados pelos terroristas em Gaza.
Política interna de Israel não é um assunto a ser tratado pela Conib. Somos cidadãos brasileiros e a nossa vida política partidária acontece aqui de maneira individual e não em nome da comunidade. Entendo que críticas ao atual governo de Israel podem até existir, mas a forma e o tom com que tem sido veiculadas, vem causando um enorme dano, notadamente com um acentuado aumento da intolerância e do antissemitismo.
Quais são os aprendizados ou boas práticas que a Conib pode trazer de outras comunidades judaicas ao redor do mundo, especialmente aquelas que enfrentam desafios semelhantes? A cooperação com organizações judaicas fora do Brasil está avançando? Existem planos para parcerias específicas. Como o conflito no Oriente Médio tem impactado o trabalho da Conib no Brasil? Existe uma estratégia específica para abordar a polarização em relação a Israel?
Esta guerra fez surgir um sentimento de união muito forte. Guerras e discriminações, embora sejam causas de sofrimento e divisão, têm o potencial paradoxal de unir pessoas sob certas condições. Essa união pode ocorrer tanto como uma reação ao conflito quanto como uma tentativa de superação. Grupos marginalizados ou ameaçados tendem a criar laços mais estreitos ao buscar apoio mútuo, solidariedade e estratégias de resistência.
A dor gerada por conflitos pode ser transformada em aprendizado e união mais ampla. Temos inúmeras passagens ao largo da história que demonstraram isso e, portanto, posso dizer que a comunidade judaica local e internacional está mais unida. Fato é que a história se repete e os ciclos fazem parte desse cenário de repetição E no mundo de tanta incursão digital, com tanta informação, qual será a duração desse ciclo? Isto desta vez trará um ciclo virtuoso? Neste sentido, eu acredito muito mais na ação das comunidades pelas redes sociais e, portanto, sou mais otimista.
No Brasil temos assistido grupo segmentados dentro da comunidade judaica, grupos que querem atuar no segmento corporativo, as embaixadoras e, portanto, essas mesclas de interesse específicos, mas onde também existe o interesse da comunidade pode ser uma oportunidade para manutenção da nossa tradição e de nossos valores afinal não vivemos mais num judaísmo hermético em qualquer parte do mundo.
Nós temos todo um projeto em construção para combate de antissemitismo junto a ADL. Esta diretriz antecede até mesmo o período da atual contraofensiva de Israel na guerra, e as próprias organizações internacionais judaicas estão criando frentes e áreas de ação de comissários na luta contra o antissemitismo.
O Congresso Judaico Mundial acaba de me convidar para assumir uma posição justamente nesta frente. As ferramentas para tal serão aquelas que fazem parte do mundo e logicamente dentro disso a inteligência artificial virá com grande potencial. Poderemos antecipar movimentos, detectar espaços para atuar no sentido educacional e mesmo na frente jurídica.
A Conib irá abraçar tudo isso, mas dependerá também de amadurecermos as ideias, capacidade de executar os projetos, e evidentemente também do orçamento disponível.
Vimos algumas mesas de discussão na convenção que chamaram muito a atenção. A abordagem e a ação comunicativa nas mídias sociais são muito mais complexas do que o senso comum imagina, um exemplo clássico é transformar involuntariamente o antissemita e o racista em um campeão de acessos através de respostas que só fazem aumentar/impulsionar o algoritmo. Dito de outro modo, pois nos parece uma questão essencial: as vezes as denúncias e respostas intempestivas através da replicação e de divulgação em mídias de massa acabam provocando um efeito adverso. Terminam criando holofotes para o preconceito e palco para os discursos de ódio. Como conscientizar as pessoas sobre isso?
Analisar os comportamentos frente às manifestações junto às redes sociais envolvem muita complexidade, pois requer muito equilíbrio, treinamento e entendimento de como isso funciona. Sabemos que, no mundo das redes sociais, a polêmica gera muito mais engajamento que assuntos eventualmente mais sérios e muito mais preocupantes.
Temos procurado trazer gente com expertise na área para poder criar uma mentalidade de entendimento mais profundo a respeito deste novo mundo, que é desafiante não só nas questões relacionadas à comunidade, mas em todas aquelas que tratam de assuntos de interesse do tecido social seja ele qual for Ao mesmo tempo temos toda uma base de atuação nas mídias sociais buscando trazer informações em notícias consistentes e verídicas.
Atuamos monitorando e de forma estratégica trabalhando no combate ao antissemitismo e na defesa do Estado de Israel lembrando sempre qual foi a origem do atual conflito: Israel foi atacado por um grupo terrorista e que ainda mantém reféns sequestrados em condições inaceitáveis.
Como a cultura judaica pode ser usada como uma ferramenta para combater preconceitos e fortalecer os diálogos inter-religiosos e interétnicos? Existe algum plano para aumentar o conhecimento da história e cultura judaica no Brasil como forma de combater a desinformação e preconceitos? Daqui para frente o que priorizar nos aspectos de marketing? Como implementar um plano preventivo de longo prazo no combate à intolerância étnico-religiosa?
A cultura judaica, com sua rica história, valores universais e ênfase no diálogo, pode ser uma ferramenta poderosa no combate aos preconceitos e no fortalecimento destes diálogos. Isso se dá porque ela oferece exemplos concretos de persistência, aprendizado mútuo e busca por justiça que são relevantes para toda a humanidade. O povo judeu possui uma história marcada por migrações, perseguições e discriminação, mas também por resiliência e contribuições significativas à sociedade. Essa trajetória pode ser usada como ponto de partida para fomentar a empatia e conectar experiências.
A Torá repete diversas vezes a instrução de amar e respeitar o "estrangeiro", uma mensagem poderosa em tempos de xenofobia e exclusão. Falar a verdade, acreditar no que se fala e ter certeza de que estamos aqui para construção de um mundo melhor, este é o nosso maior marketing!
Sua exposição e até mesmo risco pessoal tem sido uma questão, qual é a sua sensação? O que o inspirou a se engajar na liderança da Conib, e qual momento você considera o mais marcante dessa trajetória? Qual foi o maior desafio que enfrentou na presidência da Conib e como ele moldou sua visão sobre o futuro da comunidade judaica?
Tenho plena convicção que o exercício da liderança é algo que acontece de forma solitária e da mesma forma entendo que ela não pode ser objeto de um consenso ou de uma aprovação total. Sem esta segurança, torna-se impossível exercer o papel de um líder neste momento.
O verdadeiro líder é aquele que muitas vezes renuncia ao populismo e da empatia para construir uma imagem de respeito e admiração. Portanto, a raiz da boa liderança é manter a firmeza de valores, e não desistir deles em meus movimentos.
A cultura judaica é fundamentada em uma rica herança histórica, religiosa e filosófica que molda valores éticos e sociais profundamente significativos. Esses valores têm raízes na Torá, no Talmud e na vivência histórica do povo judeu, refletindo princípios que orientam a vida individual e coletiva. Não sou um estudioso profundo dessas frentes, mas procuro me apoiar nelas e aprimorar a minha vivência e o meu conhecimento.
O compromisso de melhorar o mundo é um princípio central da ética judaica. Seja por meio de ações sociais, ambientais ou de justiça, o Tikun Olam reflete a responsabilidade individual de contribuir para uma sociedade melhor. E é este o sentimento que tenho ao encarar o conflito do Oriente Médio: ele não é o conflito entre Israel e os palestinos mesmo porque não foi dada a chance para que esses dois países se entendessem na medida em que o segundo foi subtraído pela força de um grupo terrorista.
Minha visão é que esta guerra é uma guerra entre dois modelos de sociedades uma que defende a liberdade e a democracia e outra que luta pela opressão e pela intolerância. Ao defender o povo de Israel, ao lutar por nossa comunidade, estou convicto de que estou trabalhando pela sociedade que acredito ser a mais adequado, a sociedade do mundo livre, a sociedade do respeito a diversidade e o pluralismo, a sociedade da tolerância.
Isto é mais forte que qualquer medo. Isto significa lutar por um mundo melhor. Isso que significa transmitir aos meus filhos valores maiores do que o materialismo do cotidiano e cada vez que reflita acerca deste compromisso, reforço minha força e minha fé. Estou confiante, teremos uma sociedade melhor quando tudo isso passar.
Por todos os momentos que participei da vida comunitária, desde o início de minha vida nos movimentos juvenis, minha formação religiosa, minha vida no campo da saúde dentro e fora do nosso Hospital Israelita Albert Einstein, espero poder transmitir as gerações mais velhas um sentimento cada vez mais forte de solidariedade, de inclusão e de equidade.
O mundo precisa ser mais justo, mas a justiça se constrói através das oportunidades e não através de mecânicas compensatórias. Como judeus sabemos que os caminhos curtos não nos levam a lugar nenhum, e que os lugares de maior realização são justamente aqueles que exigem muito suor. Esta é a minha mensagem, a mesma que espero transmitir as gerações que me seguiram dentro e fora de nossa confederação.
Espero que esta confederação seja cada vez mais respeitada não só dentro da comunidade judaica, mas principalmente por aqueles que não são de nossa comunidade como uma organização que luta pelo bem e que tem na justiça social um de seus mais importantes pilares.
Participaram desta entrevista Ariel Krok, Nuno Vasconcelos, e Paulo Rosenbaum com apoio do Grupo Internacional Judaísmo sem Partido
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