Aliança rebelde assumiu o poder da Síria no dia 8 de dezembro deste anoMohammed Huwais/AFP
Al Sharaa também se comprometeu a pôr fim à "interferência negativa" síria no Líbano, em declarações dadas em Damasco ao lado do chanceler turco, Hakan Fidan.
A Turquia apoiou alguns dos grupos insurgentes que, em uma ofensiva de apenas 11 dias, puseram fim ao regime de mais de meio século do clã Assad.
A aliança rebelde, liderada pelo grupo islamista Hayat Tahrir al-Sham (HTS), entrou em Damasco em 8 de dezembro.
Bashar al Assad, que governou a Síria com mão-de-ferro durante mais de 24 anos, fugiu para Moscou.
Sua queda foi o desenlace de uma sangrenta guerra civil que durou 13 anos.
Al Sharaa assegurou que as facções armadas deviam agora "começar a anunciar sua dissolução e entrar" no exército.
"Não permitiremos de nenhuma maneira que haja armas que escapem do controle do Estado [...], sejam originárias de facções revolucionárias ou de facções presentes na área das FDS [Forças Democráticas da Síria, dominadas pelos curdos]", afirmou o líder rebelde, conhecido até agora por seu nome de guerra, Abu Mohamad al Jolani.
A Turquia considera as FDS, apoiadas pelos Estados Unidos, uma extensão de seu inimigo declarado, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), catalogado como "organização terrorista" tanto por Ancara quanto pelas potências ocidentais.
Al Sharaa reiterou também que trabalharia para proteger as minorias das forças "externas" que tentam "provocar discórdias sectárias" e ressaltou a importância da "convivência" na Síria, um país multiétnico e multirreligioso.
'Apagar da memória a antiga Síria'
As novas autoridades serão examinadas de perto no tratamento que derem às minorias. Assad, que pertence ao braço do islã xiita, se apresentava como um protetor das minorias em um país de maioria sunita.
Al Sharaa também recebeu, neste domingo, os líderes da comunidade drusa libanesa Walid e Taymur Jumblatt. Os drusos são uma minoria religiosa dispersa entre Líbano, Síria e Israel.
Esta foi a primeira reunião com um dirigente do Líbano, que durante décadas sofreu a interferência do regime de Assad, ao qual atribuem muitos assassinatos no país vizinho.
A Síria não exercerá "qualquer interferência negativa no Líbano: respeita a soberania libanesa, a unidade de seus territórios, a independência de suas decisões e sua estabilidade em termos de segurança", declarou Al Sharaa, que pediu para os libaneses "apagarem da memória a antiga Síria no Líbano".
Al Sharaa recebeu a delegação libanesa no palácio presidencial vestindo terno e gravata.
Walid Jumblatt acusa o governo sírio pelo assassinato de seu pai, Kamal Jumblatt, em 1977, durante a guerra civil libanesa (1975-1990).
O líder druso, que cumprimentou o povo sírio por ter "se livrado da tirania e da opressão", pediu o julgamento de "todos os que cometeram crimes contra libaneses".
Pedido de suspensão de sanções
Rússia e Irã, este último por meio do poderoso movimento islamista libanês Hezbollah, eram os principais aliados de Assad durante a guerra civil, que eclodiu em 2011 e deixou 500.000 mortos e milhões de deslocados.
O Irã "não tem" forças aliadas no Oriente Médio e "não precisa delas", afirmou, neste domingo, o líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei.
"A comunidade internacional deve se mobilizar plenamente para garantir que a Síria volte a se erguer e que os deslocados retornem ao seu país", instou o chefe da diplomacia turca, que defendeu a suspensão "o quanto antes" das sanções internacionais contra a Síria.
Após a queda de Assad, os Estados Unidos e a União Europeia intensificaram os contatos com os novos líderes do país.
A Arábia Saudita, potência regional, também está em contato direto com as novas autoridades e enviará em breve uma delegação ao país, informou um alto diplomata à AFP em Riade.
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