Protesto levou mais de um milhão de pessoas as ruas na FilipinasJame Sta Rosa / AFP

Mais de um milhão de pessoas, membros de uma seita poderosa nas Filipinas, se reuniram em Manila nesta segunda-feira (13) para se opor ao processo de impeachment da vice-presidente Sara Duterte.
Ela enfrenta três processos de impeachment. O último foi registrado em 19 de dezembro por padres católicos que a acusam de gastar "de forma anômala" milhões de dólares durante seu mandato como vice-presidente e quando foi ministra da Educação.
Ela também é acusada de conspirar para assassinar o atual presidente, Ferdinand Marcos.
Várias manifestações ocorreram em várias partes do país, organizadas pela seita Iglesia ni Cristo (INC, Igreja de Cristo), uma organização cristã com mais de dois milhões de membros.
"Somos contra o impeachment porque isso não traria nada de bom. É inútil para o país", disse John Carlo Guinbgab, de 23 anos, que viajou mais de 150 quilômetros para participar deste protesto.
"Se o país está dividido, quem sofre é a população", disse Rodante Marcoleta, membro da seita, em um discurso aplaudido pelos presentes.
Sara Duterte agradeceu à seita por sua disposição em trazer "compreensão e unidade ao povo filipino".
Sua possível destituição deve ser aprovada por pelo menos um terço dos deputados na Câmara Baixa e dois terços na Câmara Alta.
O presidente Marcos pediu publicamente aos parlamentares que não votassem pelo impeachment.
A vice-presidente filipina - apontada para suceder seu pai, o ex-presidente Rodrigo Duterte, na eleição presidencial de 2022 - acabou se retirando da disputa para apoiar Ferdinand Marcos, filho do ditador de mesmo nome. Mais tarde, ela foi nomeada vice-presidente.
No entanto, a aliança entre as duas dinastias ficou abalada nas últimas semanas, à medida que as eleições de meio de mandato se aproximam.
Haia
O ex-presidente das Filipinas Rodrigo Duterte partiu, nesta terça-feira, para Haia depois de ter sido preso no aeroporto de Manila por um mandado do Tribunal Penal Internacional (TPI) que o acusa de crimes contra a humanidade vinculados à guerra mortal contra o narcotráfico durante seu mandato.

As organizações de direitos humanos estimam que essa campanha durante seu mandato (2016-2022) tirou a vida de dezenas de milhares de pessoas, em sua maioria homens pobres, frequentemente sem provas de seu vínculo com o narcotráfico.

Assim que chegar a Haia, Duterte, de 79 anos, tem que ser transferido à sede do TPI, que abriu uma investigação sobre essa campanha que começou em 2016.

O voo que o leva a Haia "decolou às 23h03 (12h03 em Brasília) dessa noite e saiu do espaço aéreo filipino", confirmou o chefe de Estado, Ferdinand Marcos, durante uma coletiva de imprensa pouco depois da decolagem.

"O avião se dirige a Haia, nos Países Baixos, para que o ex-presidente responda às acusações de crimes contra a humanidade em relação à sua sangrenta guerra contra as drogas", acrescentou.

O ex-governante, de 79 anos, enfrenta uma acusação do TPI por "crimes contra a humanidade por assassinato" pela campanha contra as drogas travada durante a sua presidência.

Após a decolagem do avião em Manilla, o TPI confirmou ter emitido um mandado de prisão. "Uma vez que o suspeito está sob custódia do TPI, se programa uma audiência de comparecimento inicial", declarou Fadi Abudallah, porta-voz do TPI.

"Qual é a lei e qual o crime que cometi?"
Duterte exigiu conhecer a base jurídica de sua detenção, em um vídeo publicado na conta de Instagram de sua filha mais nova, Veronica.

"Qual é a lei e qual o crime que cometi? Mostrem agora a base legal para que eu esteja aqui", declarou no vídeo. "Fui trazido para cá não por minha própria vontade, mas de outra pessoa... vocês têm que responder agora pela privação de liberdade", acrescentou.

O local de gravação do vídeo não foi revelado, mas o partido de Duterte divulgou uma foto que indica que ele estava detido na Base Aérea Villamor, ao lado do aeroporto de Manila.

A atual vice-presidente filipina e filha do ex-presidente, Sara Duterte, confirmou que o plano era enviá-lo rapidamente: "Enquanto escrevo isso, ele está sendo levado à força para Haia esta noite. Isso não é justiça, isso é opressão e perseguição", afirmou em um comunicado.

Duterte foi detido no aeroporto da capital após uma rápida viagem a Hong Kong.

Em um discurso no domingo para milhares de trabalhadores filipinos em Hong Kong, o ex-presidente criticou o processo contra ele e chamou os investigadores do TPI de "filhos da puta", embora tenha afirmado que "aceitaria" a detenção.

As Filipinas abandonaram o TPI em 2019 por ordem de Duterte, mas o tribunal manteve a jurisdição sobre o caso das chacinas, assim como em outro caso de assassinatos na cidade de Davao (sul do país) quando Duterte era prefeito, três anos antes de tomar posse como presidente.

Duterte recebeu um apoio velado da China que, por meio de um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, fez um apelo para que o TPI "exerça seu poder com prudência, em conformidade com a lei, e evite a politização e padrões duplos".

Caso interrompido
O TPI iniciou uma investigação formal em setembro de 2021, mas a suspendeu dois meses depois, quando o governo filipino afirmou que estava examinando centenas de casos de operações antidrogas que resultaram em mortes executadas por policiais, milicianos e assassinos.

O caso foi retomado em julho de 2023, depois que um painel de cinco juízes rejeitou a objeção do governo sobre a jurisdição do TPI.

Desde então, o governo do presidente Ferdinand Marcos disse que não vai cooperar com a investigação.

Duterte tem grande popularidade entre muitos filipinos que apoiaram sua forma drástica de combater o crime e mantém a influência política.

No momento, ele era candidato para tentar voltar a ser prefeito de Davao, seu reduto eleitoral, nas eleições de maio.

Durante sua presidência, Duterte instruiu os policiais a atirar para matar os suspeitos de narcotráfico se suas vidas estivessem em risco. Ele insistiu que a política de linha dura salvava as famílias e impedia que as Filipinas se tornassem um "narco-Estado".

Em outubro, durante uma investigação do Senado filipino sobre a guerra às drogas, Duterte declarou que não daria "desculpas ou pretextos" por suas ações.