Presidente do Equador, Daniel Noboa e candidata de esquerda, Luisa GonzalezAFP

Uma missão da União Europeia (UE) que monitora as recentes eleições presidenciais no Equador disse, nesta terça-feira (11), que não tem evidências de uma possível fraude eleitoral após a denúncia do presidente Daniel Noboa sobre "irregularidades" na apuração dos votos.

"Não temos um único elemento objetivo que indique que tenha havido algum tipo de fraude", disse o chefe da delegação, eurodeputado Gabriel Mato, apresentando uma avaliação em entrevista coletiva em Quito.
Na apuração dos votos, Noboa supera por menos de um ponto sua rival esquerdista Luisa González, herdeira política do ex-presidente socialista Rafael Correa (2007-2017). Ambos disputarão um segundo turno em 13 de abril.

Os resultados inesperados e apertados foram um golpe para Noboa, que havia dito que venceria no primeiro turno.

"Houve muitas irregularidades e continuávamos contando. Seguíamos revisando em certas províncias que havia coisas que não batiam ou, inclusive, não batiam com a contagem rápida da OEA, que nos colocava com um número maior, o trabalho ainda não está terminado", disse o presidente, de 37 anos, em uma entrevista à Rádio Centro de Guayaquil.

Noboa explicou desta maneira o motivo de não ter celebrado nem discursado ao final do dia de eleição, no domingo, quando os resultados já indicavam um empate técnico com González, do partido Revolução Cidadã.

"Há dezenas e dezenas de casos em que ameaçaram as pessoas para que votassem na Revolução Cidadã. Temos provas (...). Os eleitores recebiam ameaças de grupos armados para que votem na candidata que os representa", insistiu o presidente.

Pouco depois, em coletiva de imprensa em Quito, os observadores da União Europeia (UE) afirmaram não ter "nem um único elemento objetivo que indique que houve qualquer tipo de fraude".

Gabriel Mato, chefe da missão, lamentou "profundamente" que haja "uma certa narrativa de fraude nessas eleições".

Polarização 
O Equador está polarizado rumo ao segundo turno, impulsionado pela sua pior crise em 50 anos, de acordo com especialistas.

A feroz guerra às drogas e a crise econômica levaram a "um nível extremo" de polarização, disse o cientista político Santiago Cahuasquí.

"Em nosso país, vemos há anos como sequestraram a nossa democracia. Não confio nos resultados, ainda mais que houve um empate técnico", disse à AFP Angela Almeida, uma aposentada de 68 anos, em Quito.

Embora a maioria das pesquisas já previsse um segundo turno, um empate tão acirrado foi inesperado.

Os resultados "foram surpreendentes", Noboa e González "estavam lado a lado" durante o processo de apuração, disse à AFP o estudante Ronald Armas, de 19 anos, em Quito.

Para ganhar a presidência no primeiro turno, é preciso obter mais de 50% dos votos ou 40% e uma diferença de 10 pontos sobre o adversário mais próximo.

Durante a campanha, Noboa e González mencionaram suspeitas sobre possíveis fraudes nas eleições.

No poder desde 2023, o presidente busca a reeleição com um plano de assumir uma posição firme contra as gangues em um país devastado pela violência.

Sua rival, González, busca devolver o poder à esquerda para enfrentar a insegurança e a crise com uma abordagem social. Ela também pretende se tornar a primeira mulher eleita presidente do Equador.

No segundo turno, os candidatos repetirão o duelo das atípicas eleições de 2023, nas quais Noboa se tornou um dos presidentes mais jovens do mundo.

Sobre a apuração dos votos, "veremos o número final nos próximos dias", alertou Noboa.

'Anomalias'
Na segunda-feira, a candidata Luisa González também denunciou "anomalias" na apuração, expressou sua desconfiança na autoridade eleitoral e afirmou que a polícia impediu alguns de seus observadores de entrarem nas seções onde ocorria a contagem dos votos.

"Muito provavelmente, a Revolução Cidadã está em primeiro", disse ela em entrevista ao Teleamazonas.

No entanto, a missão de observação da UE descreveu as eleições como "transparentes, bem organizadas e pacíficas", apesar da atmosfera tensa no país.

"Entramos na campanha, nesse processo, com incertezas, com riscos, com inseguranças, com acusações de todo tipo, com uma certa desconfiança nos órgãos eleitorais e judiciais e em um cenário realmente complexo e muito polarizado e também com um clima de violência no ar", disse Mato.

A polarização e as denúncias de fraude obscurecem a reta final da escolha do futuro presidente. Os equatorianos voltarão às urnas com uma gama renovada de preocupações.

A população lamenta os danos provocados por um Estado endividado, com uma taxa de pobreza de 28% e concentrado em financiar a cara guerra contra o tráfico de drogas. Em 2023, o país registrou o recorde de 47 homicídios para cada 100 mil habitantes, mas após 14 meses de governo de Noboa o número caiu para 38/100 mil, segundo informações oficiais.