Nascido em Portugal, João XXI buscou promover reformas na cúriaReprodução

Entre os muitos personagens que ocuparam o trono de São Pedro ao longo dos séculos, João XXI se destaca por um fato singular: foi, até hoje, o único papa cuja língua materna era o português. Nascido Pedro Julião Rebolo, conhecido como Pedro Hispano, por volta de 1215 (alguns historiadores registram o ano de 1205), em Lisboa, no então Reino de Portugal, sua eleição ao papado em 1276 representou não apenas um marco para a Igreja Católica, mas também para a história portuguesa.
Filho de Julião Rebelo, um médico da corte de Afonso III, Pedro Julião teve uma formação ampla e refinada. Estudou nas escolas catedralícias de Lisboa e, mais tarde, em Paris e Montpellier — dois dos principais centros do saber europeu na época. Lá aprofundou-se em filosofia, medicina e teologia. Sua fama como médico e pensador era tão grande que seus escritos, especialmente o Summulae Logicales, foram usados como referência nas universidades europeias até o século XVII.
Antes de ser eleito papa, Pedro Julião atuou como professor, médico, arcebispo de Braga e, posteriormente, como cardeal. Em 1276, após um conclave breve, foi eleito sumo pontífice, adotando o nome de João XXI. Curiosamente, o número XXI decorre de um erro na contagem dos papas com o nome João, causado por confusões medievais na cronologia pontifícia.
O pontificado de João XXI foi curto, durando apenas 242 dias. Ainda assim, ele buscou promover reformas na cúria e manifestou interesse em reconduzir o papado a uma linha mais intelectual. Seu fim trágico veio em maio de 1277, quando o teto de seu aposento no palácio papal de Viterbo desabou, ferindo-o mortalmente.
A trajetória de João XXI é uma rara combinação de erudição e poder e seu legado sobrevive tanto nos escritos filosóficos quanto no símbolo que representa: o único papa a ter o português como língua pátria. Algo digno de nota considerando os mais de 260 papas ao longo da história.
A língua portuguesa tornou-se o idioma oficial de Portugal oficialmente apenas em 1290, depois de um decreto assinado pelo rei Dom Dinis. No entanto, a língua já era falada e escrita na Península Ibérica desde o século XII, com suas raízes no galego-português, o que ratifica o fato de João XXI falar o idioma. O português clássico, que pode ser considerada a língua falada nos dias de hoje nos países lusófonos, ganhou força e se expandiu apenas no século XVI.