Niterói – Uma cidade não vive só da sua evolução, mas também da história de seus personagens. Pessoas que deram seu sangue e dão a vida pela evolução e o crescimento de diversos setores em Niterói. Certamente um deles é o jornalista e multifacetado colaborador da cultura Mário Sousa -- que já viu de tudo um pouco pelas plagas de araribóia e acumula bastante história para contar.
Natural de Bragança, cidade do Pará, Mário mora em Niterói há mais de 40 anos e é membro da Academia Fluminense de Letras. Mario Sousa é jornalista, diretor e professor de teatro e escritor. Bacharel em Comunicação Social na área de jornalismo, tem pós-graduação em Assessoria de Imprensa e é formado em teatro pela UniRio (ex-Conservatório Nacional de Teatro) e pela Escola de Teatro da Universidade Federal do Pará; além de ter participado do curso do Teatro do Oprimido, com Augusto Boal – primeira turma no Brasil. Também é o presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro. E, como os amigos mais chegados conhecem, arrisca criando obras de artes plásticas, escreve sonetos, poesias e contos.
De todas as atividades de Mário Sousa em arte e comunicação, é difícil mensurar a qual ele mais se dedica. “Ser presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro, atuando em 91 municípios, exige uma dedicação e uma ação permanente, principalmente nesta era das fake news e da banalização da profissão. Estamos construindo acordos coletivos e a luta para melhoria da categoria. Acabamos de realizar dois fóruns, um na Baixada Fluminense e outro em Niterói. Estamos também na fase de organização de uma sub-sede na Baixada e também um grande encontro estadual de Jornalistas”, explica ele.
Ainda nesta área da Comunicação, Mário colabora com jornais de Niterói e edita o seu próprio veículo: Jornal da Cidade. Já no setor público, como Coordenador de Comunicação da Niterói Empresa de Lazer e Turismo (Neltur) ele atua diariamente conectando informações com todo o universo da mídia e com os colegas, mostrando a importância de Niterói como uma cidade atrativa e com equipamentos significativos para o Turismo.
“Na área pessoal tenho vários projetos em andamento como dois livros, um de conto -- Contos Mutilados – já quase pronto para ir a gráfica e fazer o lançamento previsto para outubro; mais um livro infantil – As Borboletas em Cor –, que também está em fase de conclusão; e, ainda, uma experiência que fiz durante a pandemia: fotografar mais 100 flores do bairro de São Francisco e produzir uma exposição. Ainda pretendo fazê-la”, conta Mário Sousa, inquieto e sempre agitador da arte, da cultura e da comunicação.
TEATRO E DRAMATURGIA
Mario Sousa, em dramaturgia, tem uma companhia teatral buscando montar o Auto de São Lourenço, de autoria de José de Anchieta, no Morro de São Lourenço.
“O teatro sempre fez parte de minha história como autor e diretor. Não posso falar do teatro da cidade sem fazer um histórico do que fiz e participei. Resumindo: vim pra Niterói à convite de Paschoal Carlos Magno, que foi o presidente do IV Centenário de Niterói. Na época trouxe para a cidade toda a escola de teatro da Fefieg (Conservatório Nacional de Teatro), com os maiores nomes da dramaturgia. Era um sonho de criar uma escola de teatro na cidade. Mesmo com vários outros movimentos e uma pulsante atividade de companhias de teatro da cidade, e também com o teatro Estável de Maria Jacintha, a escola até hoje não saiu”, conta ele, sem desistir de colocar em prática sua ideia. “No IV Centenário de Niterói minha companhia foi a oficial da festividade. Haja tempo e ciclos. Como Diretor de Cultura da Funiarte (hoje FAN) realizamos mostras, seminários e os projetos Domingo Boa Praça, Sabado é dia de Criar – quando transformamos as escolas municipais em espaços culturais – e um encontro nacional de Teatro Não Empresarial, buscando uma alternativa entre o amador e o teatrão”, enumera.
Com sua verve que mistura empreendedorismo e cultura, foi um dos cofundadores da Associação dos Trabalhadores de Artes Cênicas de Niterói (Atacen), criada pelo também antológico colaborador da dramaturgia em Niterói, o saudoso ator e diretor Sohail Saud -- que nos deixou em 2021, vitima da Covid 19 --, além de vários amigos da classe. “Foram grandes as experiências da Atacen no Teatro Leopoldo Fróes, com Dema, Sohail, Ricardo Sanfer e tantos outros. Lutas que foram minguando pelo tempo. Há 13 anos criamos, com Elyzio Falcato, Lúcia Cerrone e Antonio Carlos De Caz, o Fórum de Artes Cênicas e até hoje dois projetos daquele tempo permanecem, das 21 propostas apresentadas ao prefeito. Avançamos com editais, mas a sensação é que a cidade não conhece ainda o potencial dos fazedores de teatro de Niterói. A Atacen se acomodou em dois projetos e a FAN e a Secretaria de Cultura, mesmo com várias reivindicações, até hoje não possuem uma Coordenação de Teatro no seu organograma. Existem dos setores de livro, dança, música, e agora só falta de teatro”, aponta o estudioso do tema.
A VIDA COMO ELA É
De tudo que já viu e viveu, uma das histórias mais marcantes que viveu foi quando ganhou seu primeiro prêmio no teatro, como revelação de cenógrafo, em Belém do Pará. Depois ganhou um prêmio de melhor texto infantil e outro de melhor contista nacional.
"Duas histórias me marcaram muito na área teatral. A primeira foi uma experiência feita dentro da prisão com presos políticos na época da ditadura, com abordagem do próprio momento em que o grupo vivia dentro da prisão. A segunda história também é emocionante: uma vivência teatral com com moradores de rua recolhidos num centro de recuperação de Niterói. Fui convidado pela Secretaria de Assistência Social do Estado para este trabalho, que resultou num espetáculo no Leopoldo Fróes. Um dos moradores de rua que trabalhou na peça como cantor, pediu para não ser identificado no palco por sua família ser conhecida na cidade Pouco antes de começar o espetáculo, a TV Globo chegou para fazer uma reportagem. Ele percebeu a TV e me procurou pedindo para aparecer como cantor. Perguntei: Você pediu para não aparecer e agora quer? Ele respondeu: Me perdoe, meu sonho sempre foi cantar para uma multidão e aparecer na TV, não quero perder esta oportunidade. E assim ele acabou sendo destaque na matéria, causando emoção”, encerrou este baluarte da nossa cidade. Vida longa ao Mário Sousa.
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