Arte coluna opiniao 06fevereiroarte paulo márcio

Passei boa parte de minha vida na Light, de onde sou aposentado. Fui diretor, conselheiro fiscal e de administração na empresa, quando estatal e depois privada. Empresa de prestígio junto à população, exemplo para o setor elétrico, boa performance no mercado de capitais, sempre lucrativa, e presença em causas nobres, fossem culturais ou filantrópicas. Quando privada, foi dirigida por um executivo-estadista, Antônio Gallotti.

Fico perplexo com o derretimento da empresa nos últimos quatro anos. As ações, que chegaram a R$ 30, andam abaixo dos R$ 5. As perdas crescem e parece que os gestores atuais não percebem o que acontece.

Na teoria, a equipe é de excelência, mas inexperiente em relação ao que é uma prestação de serviço, de lidar com o setor público e as comunidades. No mais, consta que muitos não conhecem a área concedida à empresa, com mais de 60 municípios, de história e cultura diferentes, morando até em outros estados. Com políticos, querem distância, mas sem o poder público acabar com os problemas nas áreas de risco é impossível e faz parte do negócio. O Rio é complicado, tem um perfil de demanda diferente de outros estados.

Os antigos funcionários e pequenos acionistas não conseguem entender a ausência de um projeto realista para estancar o drama da fraude e da inadimplência. A Light já foi reforço de caixa da Eletrobras, quando controlada, e hoje está endividada e não credora. Nunca deixou de dar lucro e distribuir dividendos.

A gestão atual relaxou inclusive na administração do fundo de pensão do qual é patrocinadora, a ponto de, surpreendentemente, incluir na carteira de investimentos debentures da própria Light, o que é legal, mas não parece recomendável. E ainda há as perdas com aplicações em instituições menores. Falta sensibilidade e preocupa os assistidos.

Os defensores da privatização nunca imaginaram ver a empresa nesta situação. Mas, a bem da verdade, o desmonte se deu na área confiada de início à CSN, acionista relevante, que a delegou a controvertido executivo, que acabou com a base de eletricistas que atuavam no controle das ligações clandestinas e, também por ganharem bem, eram incorruptíveis. Por economia, substituíram por prestadores de serviços que custavam menos da metade e deu no que deu.

A falta de humildade parece endêmica no país. Não é só no setor público, mas também no privado. Compensa?
Aristóteles Drummond é jornalista