Rodrigo Tortoriello é vice-presidente de Relações Institucionais da Semove, que é a Federação das Empresas de Mobilidade Urbana do Estado do Rio de Janeirodivulgação
Rodrigo Tortoriello: A crise no sistema de transporte do Rio tem solução?
Entender os motivos dessa crise sistêmica pode ser um bom caminho na busca de soluções para os problemas enfrentados atualmente
Planejar mobilidade urbana é uma tarefa de alta complexidade e, em geral, para problemas complexos não existe solução simples. É fundamental que os diversos atores que fazem parte do ecossistema possam interagir e trocar informações para que o desenho da rede atenda aos desejos de deslocamento da população. Além disso, deve haver racionalização para que os custos sejam acessíveis a todos e o sistema de mobilidade não gere exclusão social.
Não bastasse esse enorme desafio que é dimensionar e gerir essa rede, a crise que vinha atingindo há alguns anos o setor de mobilidade agravou-se ainda mais com a pandemia causada pelo coronavírus. O impacto foi tão significativo que o modelo de custeio do transporte público chegou ao seu limite de desgaste. Ainda durante a pandemia, iniciou-se a Guerra da Ucrânia, que trouxe aumento de preços de insumos essenciais para a mobilidade, como o diesel.
Essa crise atingiu, em maior ou menor proporção, os diversos estados brasileiros, mas o cenário no Estado do Rio de Janeiro é ainda mais preocupante. Em todos os seus modos, as concessionárias dos serviços de transporte público passam por sérias dificuldades. A SuperVia, que opera o serviço de trens metropolitanos, está em recuperação judicial e acabou de fechar um acordo com o Estado em busca da viabilização da continuidade da prestação dos serviços.
As barcas, que fazem o serviço aquaviário na Baía de Guanabara, se mostravam dispostas a paralisar as operações quando um acordo judicial permitiu que o serviço não fosse interrompido, garantindo o seu funcionamento por até mais dois anos. O Metrô ainda não recuperou os níveis de demanda pré-pandemia e tem agora, com a tarifa social concedida pelo governo do estado, uma forma de não tornar a tarifa inacessível à população.
Nos serviços de transporte por ônibus, aproximadamente 14% das empresas faliram e encerraram suas atividades, muitas outras se encontram em regime de recuperação judicial, o BRT do Rio de Janeiro está sob gestão pública após um período de intervenção.
Entretanto, é preciso chamar a atenção do leitor para o fato de que essa crise nas concessões do Estado do Rio não se restringe ao setor de mobilidade. A concessionária do Galeão está em processo de devolução do contrato, a Light enfrenta problemas de caixa e informou à Agência Nacional de Energia Elétrica que não tem condições de garantir a sustentabilidade das operações. Destaca-se que é vedado às concessionárias de energia elétrica a adoção do regime de recuperação judicial.
A maior parte dessas empresas concessionárias que enfrenta problemas muito graves por aqui também opera serviços concedidos em outros estados e países. Nas demais operações, no entanto, a situação não se parece com a que se vê no Rio de Janeiro. Entender os motivos dessa crise sistêmica pode ser um bom caminho na busca de soluções para os problemas enfrentados atualmente.
Retomando o foco para o transporte público, o mesmo precisa ser enxergado por toda a sociedade como um direito social. É fundamental que seja dada segurança jurídica para que os atuais e futuros contratos de concessão sejam respeitados em sua plenitude por todas as partes: concessionário e poder concedente.
No primeiro parágrafo, mencionou-se que se tratava de um problema complexo, e não há mesmo soluções mágicas nem rápidas, mas esta talvez seja uma janela de oportunidade para se fazer um grande rearranjo institucional e de governança envolvendo toda a sociedade nessa discussão. É papel da Semove promover esse debate e nos colocamos à disposição para buscarmos soluções viáveis para a mobilidade urbana no Estado do Rio de Janeiro.
Rodrigo Tortoriello é vice-presidente de Relações Institucionais da Semove, que é a Federação das Empresas de Mobilidade Urbana do Estado do Rio de Janeiro
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