Washington Quaquá (ex-prefeito de Maricá)Foto: Divulgação

A tarifa zero no transporte público muitas vezes é tratada por seus críticos como devaneio, um projeto impossível de ser implementado. Este é, como todo preconceito, atravessado pela desinformação e distante da realidade, já que o transporte gratuito funciona hoje em mais de 40 municípios do Brasil e em incontáveis cidades no exterior.
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Como prefeito de Maricá, implementei o programa de tarifa zero nos ônibus municipais a partir de 2014. Até hoje, é a única cidade com mais de 100 mil habitantes no país onde a política está em vigor. Era um desafio enorme à época, mas decidimos encará-lo. Hoje o projeto está consolidado e ajuda a mostrar ao mundo que o transporte gratuito gera emprego e dinamiza a economia.

Os comerciantes passaram a contratar mais moradores, já que o incentivo público representa uma economia considerável. Levantamento de 2022 da Prefeitura de Maricá apontou que os cidadãos economizaram R$ 12 milhões por mês por não precisarem pagar pela viagem nos vermelhinhos, como os ônibus são carinhosamente chamados pela população. No início da implantação, o serviço funcionava em três linhas, e no ano passado já eram 38, em 120 mil deslocamentos por dia.

As cidades que tiveram firmeza para adotar a gratuidade no transporte público relatam resultados semelhantes. Caucaia, no Ceará, teve 30% mais vendas no comércio após o programa Bora de Graça. Em Vargem Grande Paulista, na Região Metropolitana de São Paulo, uma pesquisa da prefeitura apontou que os comerciantes também tiveram vendas maiores. Em Volta Redonda, no Rio de Janeiro, os ônibus gratuitos no centro melhoraram o trânsito e turbinaram o comércio.

O debate em torno da tarifa zero começa a ganhar força no Congresso Nacional, e até mesmo as grandes cidades estão dando os primeiros passos para tirar as catracas do transporte público. Neste início de ano, São Paulo e Fortaleza colocaram o projeto em seu horizonte e aceleraram os estudos sobre como implementar esta política. Um dos maiores empecilhos apontados é a questão orçamentária, um ceticismo que encaramos em 2014 em Maricá. A dúvida pode ser dirimida com a implantação de forma gradativa ou a promoção de ciclos de experiências sem catraca.

No fim do ano passado, cidades norte-americanas como Boston, Washington e até Nova York resolveram fazer testes de gratuidade no transporte para atrair mais público e incrementar a Economia. Esses experimentos incluíram desde viagem gratuita em algumas linhas de ônibus até tarifas mais baixas no fim de semana ou descontos especiais.
Para implementar a tarifa zero é preciso ter determinação, mas, acima de tudo, consciência sobre seus efeitos sociais e econômicos. Para cidades com um percentual grande de famílias de baixa renda, como as da Baixada Fluminense, São Gonçalo, Itaboraí ou a periferia de qualquer região metropolitana, o peso da passagem no bolso das famílias pobres é um inibidor do desenvolvimento econômico.
A média mundial de gasto com transporte é de 8% da renda, enquanto no Brasil ele chega a 20%. O transporte precisa ser visto como direito, não mercadoria como outra qualquer. Sem transporte, as pessoas não têm acesso à Saúde, à Educação e ao emprego. É por isso que não faz sentido encarar a tarifa zero como utopia. Ela é um direito a ser respeitado.
Washington Quaquá é deputado federal (PT-RJ)