Allan Borges é gerente-executivo de ESG da CEDAE Divulgação

Nos recantos da exuberante Mata Atlântica, onde segredos e histórias se entrelaçam, um desafio se faz presente: imponentes, as favelas encontram seu espaço nas terras envoltas pela natureza. Nessa coexistência inusitada, a contradição se revela.
A Mata Atlântica, com sua biodiversidade única, é a guardiã do equilíbrio ambiental. Ela regula o clima, reduz o impacto das enchentes, controla os deslizamentos de encostas, oferece refúgio a espécies singulares e proporciona serviços ecossistêmicos indispensáveis, como, a água oferecida à população. Coexistem, ao seu redor, nas entranhas das vielas apertadas, as favelas, que se erguem corajosas, desafiando os limites impostos.
A presença das favelas nas áreas da Mata Atlântica, embora possa ser vista como uma luta pela sobrevivência, também traz consequências indesejadas. O desmatamento avança, a degradação ambiental se intensifica e os riscos naturais, como os temíveis deslizamentos de terra, pairam como ameaças latentes. A carência de infraestrutura básica nas áreas favelizadas agrava a pressão sobre o ambiente. A disposição inadequada de resíduos sólidos e a ausência de saneamento básico são desafios que demandam soluções urgentes. Como garantir que a coexistência complexa seja socialmente justa?
A resposta reside na união de esforços e na implementação de políticas públicas efetivas e articuladas em todos os níveis federativos. É necessário buscar a inclusão social e investir em infraestrutura básica, melhorando o acesso a serviços essenciais, como água e esgotamento sanitário, além de oferecer condições dignas de moradia. Através da legislação ambiental, da regularização fundiária, da assistência técnica em habitação de interesse social e do marco legal do saneamento básico, podemos prover caminho de amplitude do acesso com igualdade.
É essencial fomentar a conscientização ambiental e a participação ativa das comunidades envolvidas. A educação ambiental, aliada ao empoderamento local, desperta o senso de responsabilidade e o cuidado com o ecossistema, conscientizando moradores sobre a importância da preservação e estimulando práticas sustentáveis. Valorizar os conhecimentos tradicionais das comunidades e promover o diálogo constante são passos fundamentais para uma coexistência harmoniosa.
A participação ativa das comunidades afetadas nas decisões relacionadas à preservação ambiental e ao desenvolvimento das favelas é crucial, garantindo inclusão e voz às suas necessidades. A geração de renda sustentável, por meio do turismo, da agricultura urbana e valorização dos recursos naturais, através de ações socioambientais em nível local, proporciona oportunidades econômicas. Sistemas eficazes de monitoramento e fiscalização são indispensáveis para prevenir a degradação do território e integrar políticas de conservação ambiental com desenvolvimento urbano, sendo fundamental para um planejamento local que respeite a Mata Atlântica. Também deve atender às demandas das favelas nas suas múltiplas dimensões, como: saúde, assistência social, habitação e educação.
Que o caminho para um futuro mais equilibrado seja trilhado com comprometimento, respeito, sustentabilidade e solidariedade. Que as contradições se transformem em oportunidades de crescimento e aprendizado mútuo. E que, no encontro entre a grandiosidade da natureza e a resiliência das favelas, a convivência seja socialmente justa, preservando o encanto da Mata Atlântica e garantindo a dignidade dos territórios populares.
* Allan Borges é gerente-executivo de ESG da CEDAE