Isa Colli: A era pós-pandemia e o aumento da depressão
Nas minhas andanças pelas escolas para conversar com a garotada sobre meus livros, percebo que há uma ansiedade nesses meninos e meninas que se acentuou depois da covid-19
Quando eu escolho falar de política, é porque algo está me preocupando. O que me inquieta neste momento é o aumento dos casos de depressão, principalmente entre crianças e adolescentes. Há um projeto de lei avançando no Congresso Nacional que aborda esse assunto tão importante: o PL 4.712/2019. A matéria foi aprovada na Câmara dos Deputados em maio e agora aguarda apreciação pelo Senado. O projeto cria o Programa Nacional de Prevenção da Depressão.
Segundo o substitutivo, o programa terá oito objetivos, entre eles combater o preconceito social contra as pessoas com depressão, realizar campanhas educativas voltadas principalmente à juventude e garantir o acesso integral à atenção psicossocial e ao tratamento adequado das pessoas com depressão no Sistema Único de Saúde (SUS), com prioridade para as ações preventivas.
Nas minhas andanças pelas escolas para conversar com a garotada sobre meus livros, percebo que há uma ansiedade nesses meninos e meninas que se acentuou depois da covid-19. Para fazer um trabalho de campo mais fiel à realidade, conversei com algumas profissionais da área da Educação e também com a psicóloga Juliane Gigoski. Todas foram taxativas ao afirmar que a pandemia acentuou os quadros de depressão. Juliane diz que o afastamento de forma integral dos nossos costumes rotineiros despertou na psique das crianças várias emoções acarretadas de medo, insegurança, tristeza e ansiedade.
“O aumento dos casos de depressão tornou-se inevitável, considerando o fato de que até mesmo os pais, em muitos momentos, não souberam lidar com a velocidade das mudanças por conta da pandemia. O afastamento presencial das escolas trouxe um paradoxo emocional, uma vez que muitos alunos sentiram a ausência de amigos e professores, e ao mesmo tempo, puderam estreitar a convivência familiar. Entretanto, os relacionamentos familiares também enfrentaram dificuldades e, com isso, as crianças foram submergidas em sentimentos ainda mais complexos, promovendo e instaurando não apenas emoções de tristeza, mas a própria depressão infantil, que vem com o sintoma não somente do choro, mas de sentimentos de desesperança, angústia, pessimismo, alteração alimentar e até mesmo agressividade”, pontuou a especialista.
Neste ano em que a covid-19 deixou de ser emergência sanitária, precisamos, segundo Juliane, ter estratégias e nos adaptarmos às mudanças que a pandemia nos apresentou. “Percebo que, em muitos casos, a depressão é acompanhada de outros transtornos, como a fobia social e ansiedade. Ainda estamos vivenciando sentimentos de ansiedade que expressam nossos medos e preocupações e a incerteza com o amanhã ainda toma conta dos pensamentos das nossas crianças”, apontou.
Juliane e todas as professoras com as quais conversei ressaltam que é preciso estimular crianças e adolescentes a expressarem seus sentimentos dentro de casa ou na escola. Para isso, é importante um olhar atento dos pais ou responsáveis para que sempre que avaliarem necessário, encaminharem a outros profissionais da Saúde.
Se aprovado, desejo que o Programa Nacional de Prevenção da Depressão seja útil ao que se propõe. Afinal, prevenir é sempre o melhor remédio.
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