Mariana GinoDivulgação

Quem tem medo de mulher preta? Essa é a pergunta que vem guiando as nossas ações e trabalhos dentro dos projetos voltados para a promoção da luta antirracistas e principalmente, pela emancipação das mulheres negras e pretas. Destarte, dentro dos nossos trabalhos destacamos as ações voltadas para o “Julho das Pretas”, um tema que é pensado, gestado e desenvolvido por diversos coletivos vem quem encampando as lutas coletivas pelas igualdades de raça e gênero. Cá do nosso canto, o nosso “Julho das Pretas”, que tem como tema central a pergunta Quem tem medo de mulher preta? É uma ação de incidência política que propõe a movimentação social de mulheres negras do Brasil através de engajamentos em diversos setores da sociedade com o objetivo de fazer valer o fortalecimento das ações, produções, saberes e conhecimentos coletivos e autônomos das mulheres negras. Voltando ao tema coletivo, “Julho das Pretas”, não podemos deixar de mencionar que a proposta foi criada em 2013, pelo Odara – Instituto da Mulher Negra em celebração ao dia 25 de Julho, Dia Internacional da Mulher Negra Afro Latina Americana e Caribenha. A data recorda o ano de 1992, quando na República Dominicana, em São Domingo, foi realizado o primeiro encontro de Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas.

O referido encontro, foi um dos alicerces para despertar o valor da união de mulheres negras em prol de suas demandas para composição das agendas políticas de suas sociedades. Contudo, a data passou a evidenciar um marcointernacional de resistência da mulher negra reafirmando seu valor contributivo de luta no enfrentamento do sexismo e racismo que perdura até os dias atuais. A data hoje é símbolo de luta internacional e foi reconhecida pela ONU, ainda em 1992 como Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. A nível nacional, a Lei 12.987/2014, estabeleceu o dia 25 de julho, como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, compartilhando os princípios do evento de 1992. Assim, damos visibilidade às ações e as demandas históricas das mulheres pretas brasileiras, através da figura de Tereza de Benguela, líder do Quilombo Quariterê, considerada por todos como “Rainha Tereza”.

Passados mais de 30 anos desse evento, multiplicam-se agendas no mês de Julho para reforçar a importância da luta da mulher preta, latino-americana e caribenha contra as discriminações que ainda afetam corpos de mulheres e seus familiares. Dizemos isso porque a luta de uma mulher preta, latino-americana e caribenha, reverbera ao seu redor e é capaz de mexer, questionar e alterar estruturas da sociedade, como nos diz Angela Davis “quando uma mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”. Talvez por isso, a parte conservadora das sociedades, em especial a sociedade brasileira, tenha tanto medo do movimento de mudança das mulheres pretas, pois elas são capazes de transformar não só a si como aqueles ao seu redor. Precisamos pontuar que a sociedade brasileira ainda vive sobre a glorificação de uma passado colonial que objetifica as mulheres negras, naturaliza os racismo e nos delega a
responsabilidade sobre as lutas contras o racismos e a misoginia. Por isso,ao buscarmos responder a pergunta “Quem tem medo de mulher preta? Almejamos também evidenciar os processos entrelaçados entre o racismo, o machismo e a misoginia como barreiras sociais, políticas e econômicas enfrentadas por mulheres negras no Brasil.
Profa. Dra. Mariana Gino é Secretária Executiva Adjunta do CEAP e Coordenadora do Coletivo Maitê Ferreira do CEAP
Profa. Msa. Lavini Castro é Doutoranda no PPGHC e Coordenadora Rede de Professores Antirracistas