Jerson Laks, psiquiatra, cientista, pesquisador e PhDDivulgação

Suicídio completado ou tentado, ou mesmo que apenas ideias suicidas, são um problema de saúde pública de primeira magnitude. O número de mortes por atentado contra a vida no mundo suplanta a mortalidade por guerras e acidentes, malária, câncer de mama e HIV. No Brasil, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a cada 45 minutos um indivíduo sacramente a própria morte. Lembrando que, para cada óbito deste tipo, estudos apontam a ocorrência de outras 20 tentativas no mesmo espaço de tempo.
A questão epidemiológica dá uma dimensão da gravidade do problema, mas é no campo médico e psicológico que o suicídio mostra todo o seu drama e dificuldade de manejo. Tentativas de suicídio de variados graus de gravidade chegam todos os dias às emergências dos hospitais clínicos, que, em grande
parte das vezes, ainda não estão preparados para reconhecer, diagnosticar e manejar estes casos.
No mais, mesmo quando possam existir motivos que levem a pessoa a pensar em desistir da vida, e as razões vão de problemas financeiros graves e término de relacionamentos a vínculos sentimentais conturbados, dentre outros, isso demanda que seja feito um diagnóstico adequado. A síndrome de ideias
suicidas, de humor irritado e descontrolado, de depressão e insônia, de abuso de substâncias lícitas ou ilícitas... Tudo isso não pode e não deve ser tratado sem a devida profundidade.
A maior parte das tentativas de suicídio ocorre por depressão, seja ela bipolar ou unipolar. Mas também pacientes com transtornos de personalidade, especialmente borderline, apresentam este comportamento. É importante notar que a tentativa de suicídio é um evento agudo de uma história muitas vezes longa. Não é raio em céu azul, evento espontâneo e sem outras concausas. História de vida traumática, com abusos sofridos na infância e adolescência, e presença de doenças mentais na família costumam aparecer com frequência.
Pacientes com ideias suicidas em sua grande maioria planejam o ato em silêncio, muitas vezes sem dar sinais. Não esconder o tema, ter coragem de perguntar sem medo sobre ideias de suicídio e encarar o fato como um problema que pode ser resolvido é fundamental. Seja para diminuir a subnotificação de casos tão graves, como também dar início a um tratamento que melhore a qualidade de vida da pessoa com um sofrimento tão agudo.
Jerson Laks, psiquiatra, cientista, pesquisador e PhD