Paulo Melgaço da Silva Jr. Doutor e mestre em Educação, professor e vice-diretor da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa (Theatro Municipal do RJ) - Carol Lancelloti / divulgação
Paulo Melgaço da Silva Jr. Doutor e mestre em Educação, professor e vice-diretor da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa (Theatro Municipal do RJ)Carol Lancelloti / divulgação
Este ano, comemoram-se os 20 anos da Lei 10.693/03, que torna obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileiras nas escolas. Ao longo desses anos, graças às incansáveis lutas dos movimentos negros, principiamos mudanças de estados de coisas, mas ainda há muito a ser feito.
Uma pesquisa do Instituto Alana e Geledés mostrou que escolas de 53% dos municípios brasileiros realizam atividades pontuais em datas comemorativas e que 18% nada fazem. Apenas 29% dos municípios têm escolas que buscam tornar constantes as discussões antirracistas em seu cotidiano. Se lutamos por uma educação de qualidade e por um país mais justo, é necessário abraçar uma educação antirracista.
Ao lado do familiar, a escola é o principal núcleo social em que as crianças têm contato com as diferenças. As salas de aulas são fundamentais para o desenvolvimento da reflexão sobre as 'verdades' enraizadas no senso comum. A educação antirracista é responsabilidade de toda a comunidade escolar e deve ser rotineira. Isso significa que não basta realizar uma atividade em dia específico. É necessário muito mais.
Creio que seja urgente pensar que somos construídas/os pela linguagem que hierarquiza as pessoas. A escola é o local ideal para se discutirem as questões raciais e como elas impactam no desenvolvimento dos sujeitos; para refletir como os discursos da meritocracia, da democracia racial, dentre outros, têm sido cruéis em especial com a população negra, pobre, de baixa escolaridade. A representatividade é necessária: nossas crianças precisam saber quais pessoas abriram seus caminhos. Pouco adianta falar sobre pessoas negras em posição nas quais as/os brancas/os são responsáveis pelas principais decisões. Isto é uma mera repetição da realidade vivenciada.
Igualmente necessário: lembrar que a branquitude é raça. Conversemos sobre os privilégios das pessoas brancas e os lugares que têm ocupado, por exemplo, nos livros didáticos e na constituição de cada disciplina escolar. Educar também significa questionar os conhecimentos propostos: por que tão racializados e eurocentrados? Onde estão os outros sujeitos não brancos desses saberes? É nesse sentido que defendo que, apesar de todas as dificuldades, as escolas possuem um papel central na construção de uma educação antirracista.
Paulo Melgaço da Silva Jr
Doutor e mestre em Educação, professor e vice-diretor da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa (Theatro Municipal do RJ)
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