Paulo Kendi é presidente da Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro (AEERJ)Divulgação

As fortes chuvas de verão provocando tragédias não surpreendem ninguém. As intempéries causadas pelas mudanças climáticas estão cada vez mais letais e intensas. Imagens de ruas cobertas por lamas, pessoas desesperadas com perda de casas, transbordamento de rios, bueiros entupidos estão virando rotina em diversas cidades brasileiras e também no Estado do Rio de Janeiro.
O questionamento que fica é sobre a ausência de planejamento de obras públicas na prevenção desses problemas. Entre os dias 12 e 14 de janeiro, o Rio de Janeiro foi atingido por fortes chuvas em diversos pontos do estado. O saldo foi triste: 12 mortes, além de transtornos na Baixada Fluminense e na Zona Norte da cidade, com perdas incalculáveis para grande parcela da população. Numa rápida retrospectiva, podemos relembrar a tragédia ocorrida na Região Serrana, em 2011, deixando 918 mortos e 100 desaparecidos. Em 2010, 48 pessoas morreram em um deslizamento de terra no Morro do Bumba, em Niterói. Em 2009, no dia 31 de dezembro, 53 pessoas morreram em Angra dos Reis. Como se não bastasse, no dia 15 de fevereiro de 2022, há menos de dois anos, a Região Serrana novamente foi atingida, precisamente em Petrópolis, provocando mais 233 mortes e cerca de 4.000 desabrigados/desalojados.
O fator surpresa não existe. O que há de concreto é a falta de investimento em obras públicas. A geografia do Rio tem como característica um extenso litoral e as montanhas. Temos municípios ao nível do mar e rios assoreados, com estreitamentos, mudanças de cursos e lixo acumulado. Somando a esses fatores, obras de drenagens que precisam ser realizadas, população residindo em área de risco e muitas questões, que o aporte em infraestrutura com qualidade e seriedade poderia evitar danos e mortes.
A verdadeira solução não está na instalação de sirenes em comunidades situadas em áreas de riscos, embora fundamentais para salvar vidas. O ideal seriam ações preventivas de obras e a manutenção de uma política habitacional que evitasse esse tipo de ocupação. É inaceitável que o poder público seja conivente com tragédias anunciadas. Os sistemas de drenagem existentes precisam ser revistos. São necessárias novas intervenções com os devidos estudos e planejamentos em função do relevo da cidade, contenções de encostas, assim como desassoreamento de rios, pavimentação de logradouros com os devidos estudos, bem como a despoluição e dragagem de trechos da Baía de Guanabara.
A Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro (AEERJ) já se manifestou nesse sentido em outras oportunidades e acredita no esforço conjunto dos órgãos públicos para redução dos impactos nos desastres climáticos. Planejar é evitar riscos, proteger a economia do país e salvar vidas. Com vontade política e trabalho sério, não poderemos mudar as chuvas de verão, um evento natural, mas nos distanciamos de tragédias como as recentes, com ações responsáveis.
Paulo Kendi
Presidente da Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro (AEERJ)