Precisamos falar do crescimento de nossas cidades, especialmente no que se refere ao desafio das moradias para abrigar populações crescentes, com equilíbrio entre qualidade de vida para as pessoas e um meio ambiente urbano saudável.
No Rio de Janeiro, temos uma cidade que está em constante mudança, com o esvaziamento de certas regiões e o superadensamento em outras, o que implica na expansão de áreas habitadas para os arredores das regiões mais tradicionais, com notável crescimento populacional nos subdistritos da zona oeste. Sem um planejamento adequado anterior à expansão, corremos o risco de ocuparmos grandes extensões territoriais sem agregar valor algum à qualidade de vida por meio de acesso a infraestrutura de transportes, saneamento e serviços públicos em geral.
Além disso, a aparência de várias partes da cidade está cada vez mais próxima de uma “selva de pedra”, ao passo que sempre fomos uma cidade intimamente relacionada com suas belezas e paisagens naturais, provida de florestas, montanhas, lagoas ou praias, em quase todas as direções que se olha.
Lamentavelmente, parte de nossa própria população vêm se desconectando dessa identidade urbana e paisagística. Me parece haver um conceito deturpado no imaginário popular de que é melhor de se viver em uma cidade com muitas casas ou condomínios residenciais horizontais.
Entretanto, conquistar esse objetivo de moradia se torna cada vez mais caro e cada vez menos pessoas conseguem viabilizar este desejo. Os terrenos tendem a serem maiores para garantir espaço suficiente para casas nesses padrões, o que eleva os custos de construção e, consequentemente, os preços de mercado.
Este cenário também acaba por favorecer indiretamente a invasão e construção de moradias inadequadas em áreas que deveriam ser ambientalmente preservadas.
Planejar um crescimento vertical por meio de prédios que abrigam um número maior de apartamentos, é algo benéfico para a qualidade de vida urbana quando pensado para aproximar mais pessoas dos seus locais de trabalhos, reduzir a sobrecarga dos transportes públicos, otimizar a gestão de resíduos e esgoto em áreas espacialmente concentradas de maior adensamento populacional, bem como preservar o patrimônio ambiental paisagístico à nossa volta.
Existem casos para nos inspirar em Miami e Singapura, onde muitos prédios de enorme gabarito ajudaram a abrigar um número expressivamente maior de famílias, de forma integrada com áreas verdes e de convivência. Temos uma ótima oportunidade de seguir esses modelos com a renovação da nossa área central portuária que já começa a receber muitos novos prédios.
O caminho para essa evolução, chama-se Plano Diretor, um instrumento nacional de política pública, criado pelo Estatuto da Cidade em 2001, o qual estabelece as diretrizes de para onde e como as cidades podem crescer. No Rio, o plano foi acertadamente atualizado entre 2021 e 2023, e passará agora por mais um ciclo de 10 anos até que seja reavaliado e atualizado conforme observações, aprendizados, erros e acertos, não só do próprio Rio de Janeiro, mas também o que vem acontecendo em outras cidades. Esperamos acelerar a modernização da cidade nos próximos anos.
* Helio Secco é doutor em ciências ambientais pela UFRJ, empreendedor na área de consultoria ambiental e graduado em gestão pública e biologia
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