Quase 60% da população passou os últimos 13 meses sem saber se teria o que comerThais Alvarenga/Ação da Cidadania

Por O Dia
Rio - Das 169 metas analisadas por organizações não governamentais, entidades e fóruns da sociedade civil brasileira, mais de 80% delas estão em retrocesso, estagnadas ou ameaçadas, incluindo a erradicação da pobreza, fome zero e redução de desigualdades, segundo a quinta edição do "Relatório Luz da Sociedade Civil sobre a Agenda 2030", que será lançada na próxima segunda-feira (12), em audiência pública no Congresso Nacional.
O documento aponta o retorno do Brasil ao Mapa da Fome. O ano de 2020, de acordo com o relatório elaborado com a participação da Ação da Cidadania, encerrou com 113 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar, o que representa mais da metade da população do país. Dessa forma, quase 60% da população passou os últimos 13 meses sem saber se teria o que comer no dia seguinte ou já com o comprometimento da qualidade para manter a quantidade de alimentos necessária à família, e 19 milhões de pessoas vivenciaram situação de fome.
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Além disso, aponta o documento, 27 milhões de pessoas passaram a viver em situação de extrema pobreza, com menos de R$246 ao mês, diante de uma inflação que oficialmente cresceu 4,52% (IPCA) no mesmo período que a alta de preços dos alimentos foi de 14,09% em relação a 2019. Por conta do comprometimento da renda das famílias, a Ação da Cidadania já vinha, desde o início da pandemia de covid-19, intensificando as doações de alimentos, com as campanhas Ação Contra o Corona, Natal sem Fome e Brasil sem Fome. Foram doados o equivalente a 146 milhões de pratos de comida em todos os estados do país e Distrito Federal, beneficiando mais de 11,5 milhões de pessoas.
"Os dados só confirmam a situação desesperadora que o país vem atravessando nos últimos anos. O Mapa da Fome mudou muito, principalmente por conta do desemprego e da pobreza. Se antes tínhamos uma concentração maior no Norte e Nordeste, onde a Ação da Cidadania inclusive intensificou a entrega de doações para áreas ribeirinhas, quilombolas e indígenas nos últimos meses, a fome hoje está presente na vida das pessoas que foram para os grandes centros em busca de oportunidades. O que estamos vendo é um retrocesso, um total descaso", alerta o diretor-executivo da Ação, Kiko Afonso.
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O relatório também chama atenção para o retrocesso na desigualdade financeira da população preta e parda. O rendimento domiciliar da população negra em 2019 foi em média R$981, enquanto a população branca ganhou em média R$1.948. O mesmo ocorre com relação à desnutrição na primeira infância.
O documento observou ligeira tendência de crescimento da desnutrição por baixo peso para crianças entre zero e cinco anos, evidenciando que é necessário não só aumentar o acesso a alimentos, mas garantir às crianças uma alimentação mais saudável, juntamente com a reeducação alimentar.