Witzel e o vice-governador, Cláudio CastroArmando Paiva / Agência O Dia
Por O Dia
Publicado 28/08/2020 10:02 | Atualizado 28/08/2020 12:50
Rio - Com a determinação do afastamento do governador Wilson Witzel por 180 dias, o vice-governador Cláudio Castro assume o comando do Palácio Guanabara nesta sexta-feira. Ele, no entanto, também está entre os alvos da operação. Policiais federais estiveram em sua casa no condomínio Península, na Barra da Tijuca. O vice-governador não estava em casa, mas em Brasília, de onde retorna.
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Castro exercia seu primeiro mandato de vereador pelo Rio de Janeiro quando candidatou-se na chapa de Witzel, sem imaginar que os dois venceriam as eleições.
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De semblante fechado nos compromissos públicos, mas simpático ao conversar, Castro tem trajetória longa em outro meio: o de cantor católico. O '02' do Palácio Guanabara já lançou dois discos solo e, antes, integrava a banda Em Nome do Pai. É fácil achar vídeos - que até hoje são postados em seu canal no YouTube - nos quais o vice exibe a cantoria. Num dos clipes mais recentes, ajoelha-se diante do Cristo Redentor.
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Na política, antes de compor a chapa, Castro havia trabalhado como chefe de gabinete na Assembleia Legislativa (Alerj). Chegou à parceria com o atual governador meio por acaso.
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O PSC, partido de ambos, não conseguiu compor aliança com outras legendas para a eleição, o que acabou levando à indicação de um nome interno para a vice. Sobrou para Castro. Assim como a maioria dos moradores do estado, naquele momento, o vereador não tinha ideia de que eles poderiam ser eleitos.
O cantor católico assumiu como missão, no início do governo, de lidar com órgãos como o Detran, um dos mais conhecidos pelos esquemas de corrupção dos anos anteriores no Rio. O departamento é um dos que têm, hoje, influência do Pastor Everaldo, presidente nacional do PSC, preso nesta sexta-feira.

Durante a pandemia do novo coronavírus (covid-19), Castro vinha coordenando um mutirão de distribuição de cestas básicas e foi escalado recentemente para correr atrás do prejuízo político de Witzel na Alerj - o governador exonerou, há duas semanas, o secretário de Casa Civil, André Moura, responsável pela interlocução com os deputados. A casa de Moura no Sergipe foi alvo de mandado de busca e apreensão na operação de hoje.

Castro foi chefe de gabinete de Márcio Pacheco (PSC), com quem também já dividiu os palcos de shows católicos. Ex-líder do governo na Casa, o deputado entregou a função após a exoneração de André Moura. Até agora não há um novo líder estabelecido, e o que sobrou foi a aposta na capacidade de diálogo do vice.
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PAULISTA DE SANTOS
Assim como Witzel, Castro não nasceu em terras fluminenses. É de Santos, no litoral paulista, e foi para o Rio ainda criança. Entre os que o acompanham no trabalho, é tido como conciliador. Nas agendas públicas do governador, está sempre lá, mas pouco fala.

Há uma grande preocupação, entre aliados, em evitar que ele seja acusado de traição - algo comum num país que tem história conturbada de vices. O vice, dizem interlocutores, jamais imaginava que poderia assumir tão cedo o governo. O horizonte mais próximo, na sua avaliação, seria a eleição de 2022, caso Witzel de fato concretizasse o desejo de concorrer à presidência

DIÁLOGO

A abertura ao diálogo é um elogio feito por aliados de diferentes esferas, como prefeitos do interior que precisam de interlocução com o governo e também parlamentares. Ambos os grupos reclamam da dificuldade de conversar com Witzel e classificam Castro como uma espécie de antítese dele.
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"Sabe conversar e aprimorar ideias, sabe o lugar que ocupa", comenta um prefeito, referindo-se ao fato de o governador ter se perdido no cargo. "Witzel está sendo vítima de si mesmo."

Nessa tentativa de não parecer um traidor, há quem esteja aconselhando o vice a moderar no nível de defesa que faz do governador. Isso porque, caso os supostos crimes cometidos pelo mandatário sejam provados no futuro, Castro pode acabar sendo pintado como alguém que defendeu um condenado pela Justiça.

No curto período como vereador, o vice tinha bom trânsito entre políticos de diferentes visões ideológicas. Entre os projetos apresentados, orgulha-se do que destina 10% da arrecadação das multas de trânsito para pessoas com deficiência.

Convicto de que ele e Witzel não seriam eleitos para o governo, Castro caiu na gargalhada quando o resultado da apuração do pleito de 2018 começou a aparecer na televisão.