Publicado 23/02/2021 07:21
Rio - O tio de Ray Pinto Faria, que foi morto na segunda-feira aos 14 anos durante operação policial na comunidade do Fubá, em Campinho, Zona Norte do Rio, denunciou que os policiais não deram assistência ao adolescente. Ele nega que tenha havido troca de tiros no momento do ferimento e diz que a família não tem condições de realizar o sepultamento. A Delegacia de Homicídios investiga o caso e realiza a perícia de local.
"Os policiais não deram nenhuma assistência. Levaram ele pra outra comunidade, junto com dois corpos que já estavam lá e levaram pro Salgado Filho. Sequer teve amor pela vida de outra pessoa. Ele era menor de idade. Entram na nossa comunidade, fazem arruaça como sempre fizeram, entra na casa de moradores. Aí, dessa vez, vieram e mataram meu sobrinho", critica o parente em entrevista à ONG Rio de Paz.
A Rio de Paz informou, na tarde desta terça, que vai pagar o enterro do menino. "Como se trata de um sepultamento, situação que não se pode esperar, faremos uma campanha para arrecadar a quantia para nos ajudar nessa despesa, uma vez que não recebemos verba pública e contamos apenas com as doações de nossos colaboradores para as várias ações que promovemos, principalmente nesse período de pandemia em que nossa demanda aumentou muito", destacou a ONG.
O tio disse que a mãe do menino estava procurando Ray desde as 6h.
"Ela rodou a comunidade toda e não achou. Ele estava jogando no celular no portão de casa. Ela foi ali pra cima, perguntou aos policiais, disseram que não tinham visto ele. Depois, ela perguntou a outro policial e ele disse que tinha um menor atingido. Mas não teve troca de tiro. Meu sobrinho não é bandido. Ele só tem 14 anos", relata.
A família contesta a versão da polícia de que houve confronto com bandidos no local. "Como teve troca de tiro, se nenhum morador ouviu tiro?", questiona o tio.
O adolescente morreu nesta segunda-feira, durante uma ação da PM no Morro do Fubá, em Campinho, Zona Norte do Rio. Segundo os parentes, o menino estava no portão de casa quando foi abordado e levado por PMs. Ele será enterrado nesta quarta-feira às 15h no Cemitério de Irajá.
Na noite de segunda-feira, dezenas de pessoas fizeram uma maifestação na comunidade pedindo "Justiça para o Ray". Durante a segunda-feira, um ônibus foi vandalizado e outro, incendiado durante protesto.
Moradores pedem 'Justiça por Ray', após morte de adolescente em operação na Zona Norte do Rio.#ODia
Os familiares afirmam que passaram algumas horas sem saber do paradeiro de Ray, até receberem a informação de que o adolescente estava no Hospital Municipal Salgado Filho, onde foi encontrado morto por sua mãe.
Um primo de Ray reconheceu seu corpo, e contou que o adolescente tinha duas marcas de tiro: um na perna e outra na barriga.
Em resposta a demanda do DIA, a Polícia Militar confirmou que o 1º Comando de Policiamento de Área (CPA) e o Comando de Operações Especiais (COE) atuaram na Zona Norte da cidade do Rio, nesta segunda-feira (22). Segundo a PM, a operação tinha por objetivo "coibir movimentações de grupos criminosos na região".
Segundo a nota da PM, houve confronto entre PMs e criminosos armados nas comunidades do Urubu e do Fubá. Na comunidade do Urubu, foram localizados dois feridos; no Fubá, houve um ferido. As três pessoas foram encaminhadas ao Hospital Municipal Salgado Filho e morreram.
A PM não informou se Ray Pinto Faria está entre os óbitos decorrentes da operação desta segunda-feira. Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde informou que Ray Pinto Faria chegou morto e sem identificação à unidade hospitalar. A família já reconheceu o corpo do rapaz.
Operação nesta terça-feira
A comunidade do Fubá é novamente alvo de operação nesta terça-feira, dessa vez, com apoio da Polícia Civil. Veículos blindados são vistos no entorno da comunidade e há registros de tiros na Praça Seca. O motivo da ação ainda não foi divulgado pelas polícias.
Rio Ônibus e Fetranspor criticam depredação de ônibus em protesto
A Rio Ônibus e a Fetrapor divulgaram nota para repudiar o incêndio e depredação de dois ônibus, em protesto pela morte de Ray na noite de segunda-feira. O sindicato das empresas de ônibus disse que está sem orçamento para insumos básicos e que as empresas não têm recurso para repor a maior parte dos ônibus vandalizados todos os dias no Rio de Janeiro.
A primeira ocorrência, às 11h, retirou de circulação um ônibus da linha 636, que liga Praça-Seca e Saens Peña, vandalizado. Um motorista da Viação Redentor foi agredido por manifestantes e precisou de atendimento médico. Por volta das 20h, o segundo carro, de linha 562L intermunicipal da Viação Vera Cruz, com trajeto de Duque de Caxias ao Méier, equipado com ar-condicionado, foi intencionalmente incendiado na Avenida Ernani Cardoso, no Campinho. Não houve ferido.
"Menos 800 lugares por dia no sistema de ônibus. Com dois veículos destruídos, a frota sofreu novas baixas", diz a Rio Ônibus.
Já a Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor) disse que ontem foi o sexto ataque a ônibus em apenas dois meses do ano e classificou o incêndio como criminoso.
"Com o incêndio ao ônibus da linha 562L sobe para 223 o número de ônibus queimados no Estado do Rio desde 2016. Destes 223, 42% eram climatizados. O custo de reposição chega a R$ 95,5 milhões, recursos que poderiam estar sendo investidos na melhoria do transporte público com a renovação da frota", diz a Fetranspor.
Um ônibus incendiado deixa de transportar cerca de 70 mil passageiros em seis meses, tempo necessário para a reposição de um veículo no sistema. A Federação diz, no entanto, que a inexistência de seguro para este tipo de sinistro e a crise econômica do setor, que tem feito as empresas perderem a capacidade de investimento em renovação da frota, tornaram completamente inviável a reposição de ônibus incendiados.
Um ônibus incendiado deixa de transportar cerca de 70 mil passageiros em seis meses, tempo necessário para a reposição de um veículo no sistema. A Federação diz, no entanto, que a inexistência de seguro para este tipo de sinistro e a crise econômica do setor, que tem feito as empresas perderem a capacidade de investimento em renovação da frota, tornaram completamente inviável a reposição de ônibus incendiados.
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