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'Tiraram um pedaço de mim', diz mãe de adolescente morto no Morro do Fubá

Alessandra Conceição, de 34 anos, mãe de Ray Pinto Faria, conta que filho tinha o sonho de ser jogador de futebol e não possuía envolvimento com a milícia

Alessandra Conceição, 34 anos, mãe de Ray Pinto Faria, de 14 anosDivulgação/ ONG Rio de Paz
Por O Dia
Publicado 24/02/2021 13:32
Rio - A mãe do adolescente Ray Pinto Faria, de 14 anos, voltou a pedir justiça pela morte do filho. Alessandra Conceição Pinto, de 34 anos, disse estar sofrendo bastante com os apontamentos que o jovem exercia a função de ‘cobrador de impostos’ da milícia na Zona Norte do Rio. Segundo ela, Ray não tinha envolvimento e, assim como muitos meninos de comunidade, tinha o sonho de ser jogador de futebol.
Alessandra só descobriu onde o filho estava pois foi atrás. “Se eu não fosse procurar, eu não ia saberia do meu filho até hoje. Jogaram ele no [Hospital Municipal] Salgado Filho sem eu nem saber de nada”, contou Alessandra em conversa com a ONG Rio de Paz durante o velório do jovem, no começo da tarde desta quarta-feira, na Comunidade do Campinho, ao lado do Morro do Fubá, Zona Norte do Rio.

Desolada, Alessandra e a família de Ray acusam a PM pela morte do adolescente. Segundo os parentes, o menino estava no portão de casa quando foi abordado e levado pelos agentes. Eles afirmam que passaram algumas horas sem saber do paradeiro de Ray, até receberem a informação de que o adolescente estava no Hospital Municipal Salgado Filho, onde foi encontrado morto por sua mãe.

Ray deixa dois irmãos, um de 12 e outro de 17 anos, e uma comunidade de luto. “Os irmãos estão sofrendo e pedem para o irmão voltar. Toda a comunidade está triste”, disse Alessandra. Na noite de segunda-feira, dezenas de pessoas fizeram uma manifestação na comunidade pedindo "Justiça para o Ray". Durante a segunda-feira, um ônibus foi vandalizado e outro, incendiado durante protesto.

Agora, a mãe do adolescente morto tenta se reerguer para descobrir quem matou seu filho. “Tiraram um pedaço de mim mas tenho que seguir a vida pois tenho mais dois filhos para criar. Mas o que fizeram foi uma injustiça com o meu filho. Já houve outra morte de adolescente e a família se calou, mas eu não”, afirmou Alessandra.

Segundo o primo, os policiais levaram o equipamento de câmera de segurança de uma padaria da comunidade que poderia ajudar a esclarecer o caso.
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A Delegacia de Homicídios investiga o caso. Policiais da DH estiveram no Morro do Fubá nesta terça-feira para uma perícia. O objetivo é descobrir de onde partiram os disparos que mataram Ray. O resultado deve sair em pelo menos dez dias.

Sem recurso para o sepultamento

Ray Pinto Faria, de 14 anos, tem corpo velado na tarde desta quarta-feira, na Comunidade CampinhoONG Rio de Paz

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Sem recursos para o sepultamento do adolescente, orçado em R$ 3 mil, a família pediu ajuda à ONG Rio de Paz, que contribuiu com os custos. O corpo do adolescente Ray Pinto Farias, de 14 anos, será enterrado nesta quarta-feira, às 15h, no Cemitério de Irajá, na Zona Norte do Rio.

O presidente da organização, Antonio Carlos Costa, cobrou mudanças para que o Rio pare de perder crianças para a violência. Ele defendeu que armas deixem de chegar às mãos de criminosos, que a sociedade pare de celebrar a guerra e que as Polícias priorizem a preservação da vida dos moradores de comunidades durante as operações.

"Entre 2007 e 2021, 81 crianças foram mortas por bala perdida, ou, permita-me dizer, bala achada, no Estado do Rio de Janeiro. Sempre que um menino ou uma menina morrem de forma tão banal e hedionda, pensamos que tudo vai mudar, mas nada muda. O motivo deve-se ao fato de que esses pequeninos moram em comunidades cujos moradores são considerados, pelo Poder Público e grande parte da sociedade, matáveis", declarou Antonio Carlos Costa.
PM confirma operação na região
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Na segunda-feira, a PM confirmou que o 1º Comando de Policiamento de Área (CPA) e o Comando de Operações Especiais (COE) atuaram na Zona Norte da cidade do Rio. Segundo a PM, a operação tinha por objetivo "coibir movimentações de grupos criminosos na região".
Segundo a nota da PM, houve confronto entre PMs e criminosos armados nas comunidades do Urubu e do Fubá. Na comunidade do Urubu, foram localizados dois feridos; no Fubá, houve um ferido. As três pessoas foram encaminhadas ao Hospital Municipal Salgado Filho e morreram.
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Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde informou que Ray Pinto Faria chegou morto e sem identificação à unidade hospitalar. A família já reconheceu o corpo do rapaz. Ele será enterrado nesta quarta-feira às 15h no Cemitério de Irajá.
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'Tiraram um pedaço de mim', diz mãe de adolescente morto no Morro do Fubá | Rio de Janeiro | O DIA
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'Tiraram um pedaço de mim', diz mãe de adolescente morto no Morro do Fubá

Alessandra Conceição, de 34 anos, mãe de Ray Pinto Faria, conta que filho tinha o sonho de ser jogador de futebol e não possuía envolvimento com a milícia

Alessandra Conceição, 34 anos, mãe de Ray Pinto Faria, de 14 anosDivulgação/ ONG Rio de Paz
Por O Dia
Publicado 24/02/2021 13:32
Rio - A mãe do adolescente Ray Pinto Faria, de 14 anos, voltou a pedir justiça pela morte do filho. Alessandra Conceição Pinto, de 34 anos, disse estar sofrendo bastante com os apontamentos que o jovem exercia a função de ‘cobrador de impostos’ da milícia na Zona Norte do Rio. Segundo ela, Ray não tinha envolvimento e, assim como muitos meninos de comunidade, tinha o sonho de ser jogador de futebol.
Alessandra só descobriu onde o filho estava pois foi atrás. “Se eu não fosse procurar, eu não ia saberia do meu filho até hoje. Jogaram ele no [Hospital Municipal] Salgado Filho sem eu nem saber de nada”, contou Alessandra em conversa com a ONG Rio de Paz durante o velório do jovem, no começo da tarde desta quarta-feira, na Comunidade do Campinho, ao lado do Morro do Fubá, Zona Norte do Rio.

Desolada, Alessandra e a família de Ray acusam a PM pela morte do adolescente. Segundo os parentes, o menino estava no portão de casa quando foi abordado e levado pelos agentes. Eles afirmam que passaram algumas horas sem saber do paradeiro de Ray, até receberem a informação de que o adolescente estava no Hospital Municipal Salgado Filho, onde foi encontrado morto por sua mãe.

Ray deixa dois irmãos, um de 12 e outro de 17 anos, e uma comunidade de luto. “Os irmãos estão sofrendo e pedem para o irmão voltar. Toda a comunidade está triste”, disse Alessandra. Na noite de segunda-feira, dezenas de pessoas fizeram uma manifestação na comunidade pedindo "Justiça para o Ray". Durante a segunda-feira, um ônibus foi vandalizado e outro, incendiado durante protesto.

Agora, a mãe do adolescente morto tenta se reerguer para descobrir quem matou seu filho. “Tiraram um pedaço de mim mas tenho que seguir a vida pois tenho mais dois filhos para criar. Mas o que fizeram foi uma injustiça com o meu filho. Já houve outra morte de adolescente e a família se calou, mas eu não”, afirmou Alessandra.

Segundo o primo, os policiais levaram o equipamento de câmera de segurança de uma padaria da comunidade que poderia ajudar a esclarecer o caso.
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A Delegacia de Homicídios investiga o caso. Policiais da DH estiveram no Morro do Fubá nesta terça-feira para uma perícia. O objetivo é descobrir de onde partiram os disparos que mataram Ray. O resultado deve sair em pelo menos dez dias.

Sem recurso para o sepultamento

Ray Pinto Faria, de 14 anos, tem corpo velado na tarde desta quarta-feira, na Comunidade CampinhoONG Rio de Paz

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Sem recursos para o sepultamento do adolescente, orçado em R$ 3 mil, a família pediu ajuda à ONG Rio de Paz, que contribuiu com os custos. O corpo do adolescente Ray Pinto Farias, de 14 anos, será enterrado nesta quarta-feira, às 15h, no Cemitério de Irajá, na Zona Norte do Rio.

O presidente da organização, Antonio Carlos Costa, cobrou mudanças para que o Rio pare de perder crianças para a violência. Ele defendeu que armas deixem de chegar às mãos de criminosos, que a sociedade pare de celebrar a guerra e que as Polícias priorizem a preservação da vida dos moradores de comunidades durante as operações.

"Entre 2007 e 2021, 81 crianças foram mortas por bala perdida, ou, permita-me dizer, bala achada, no Estado do Rio de Janeiro. Sempre que um menino ou uma menina morrem de forma tão banal e hedionda, pensamos que tudo vai mudar, mas nada muda. O motivo deve-se ao fato de que esses pequeninos moram em comunidades cujos moradores são considerados, pelo Poder Público e grande parte da sociedade, matáveis", declarou Antonio Carlos Costa.
PM confirma operação na região
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Na segunda-feira, a PM confirmou que o 1º Comando de Policiamento de Área (CPA) e o Comando de Operações Especiais (COE) atuaram na Zona Norte da cidade do Rio. Segundo a PM, a operação tinha por objetivo "coibir movimentações de grupos criminosos na região".
Segundo a nota da PM, houve confronto entre PMs e criminosos armados nas comunidades do Urubu e do Fubá. Na comunidade do Urubu, foram localizados dois feridos; no Fubá, houve um ferido. As três pessoas foram encaminhadas ao Hospital Municipal Salgado Filho e morreram.
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Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde informou que Ray Pinto Faria chegou morto e sem identificação à unidade hospitalar. A família já reconheceu o corpo do rapaz. Ele será enterrado nesta quarta-feira às 15h no Cemitério de Irajá.
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