Primo de Ray, Lucas Isaías da Silva, acusa PM de morte de adolescente de 14 anos - Estefan Radovicz / Agencia O Dia
Primo de Ray, Lucas Isaías da Silva, acusa PM de morte de adolescente de 14 anosEstefan Radovicz / Agencia O Dia
Por O Dia
Rio - O primo de Ray Pinto Faria, morto durante operação no Morro do Fubá na segunda-feira, acusou policiais militares de terem abordado e matado o adolescente de 14 anos. A família chegou no fim da manhã no Instituto Médico Legal (IML) para reconhecer o corpo. Lucas Isaías da Silva negou a versão de que o primo seria 'cobrador de impostos' da milícia, disse que o adolescente havia cursado o 4º ano do Ensino Fundamental na Rede Municipal do Rio e acusou policiais de ter abordado e levado a vítima pela comunidade.
Publicidade
"Às 6h da manhã (de sgeunda-feira), me disseram que teriam abordado o Ray na porta de casa e saído à pé com ele na comunidade. Saí de casa, falei com a minha prima e ela já estava à procura do Ray. Os policiais disseram que não tinham pego nenhuma criança. Andamos de ponta a ponta da comunidade e não conseguimos achá-lo. Nós encontramos o Ray com dois tiros, no Salgado Filho, com outros dois mortos. Ele chegou no hospital como bandido. Foi pego por policiais na porta de casa", afirmou Lucas.
Publicidade
Agora, a família cobra Justiça. "Ray não era cobrador de imposto. Não era miliciano. Era mais um morador que a Polícia Militar matou", disse o primo. Queremos Justiça porque Ray era uma criança com uma vida toda pela frente. Hoje foi com a minha família, amanhã pode ser com outras", declarou. O adolescente estudava em Madureira e sua mãe havia acabado de buscar o kit escolar, segundo o parente.
Segundo o primo, os policiais levaram o equipamento de câmera de segurança de uma padaria da comunidade que poderia ajudar a esclarecer o caso.
Publicidade
A família diz que Ray Pinto Faria não recebeu assistência adequada após ser baleado. Os familiares também negam que a morte tenha sido provocada por troca de tiros com bandidos. A Delegacia de Homicídios investiga o caso e realiza a perícia de local.
Na noite de segunda-feira, dezenas de pessoas fizeram uma maifestação na comunidade pedindo "Justiça para o Ray". Durante a segunda-feira, um ônibus foi vandalizado e outro, incendiado durante protesto.
Publicidade
A Polícia Militar ainda não retornou sobre as denúncias. Na segunda-feira, a PM confirmou que o 1º Comando de Policiamento de Área (CPA) e o Comando de Operações Especiais (COE) atuaram na Zona Norte da cidade do Rio. Segundo a PM, a operação tinha por objetivo "coibir movimentações de grupos criminosos na região".
Segundo a nota da PM, houve confronto entre PMs e criminosos armados nas comunidades do Urubu e do Fubá. Na comunidade do Urubu, foram localizados dois feridos; no Fubá, houve um ferido. As três pessoas foram encaminhadas ao Hospital Municipal Salgado Filho e morreram.
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde informou que Ray Pinto Faria chegou morto e sem identificação à unidade hospitalar. A família já reconheceu o corpo do rapaz. Ele será enterrado nesta quarta-feira às 15h no Cemitério de Irajá.
Publicidade
Sem dinheiro para sepultamento
Sem recursos para o sepultamento do adolescente, a família pediu ajuda à ONG Rio de Paz, que vai contribuir com os custos. A data do enterro ainda não foi marcada. O presidente da organização, Antonio Carlos Costa, cobrou mudanças para que o Rio pare de perder crianças para a violência. Ele defendeu que armas deixem de chegar às mãos de criminosos, que a sociedade pare de celebrar a guerra e que as Polícias priorizem a preservação da vida dos moradores de comunidades durante as operações.
Publicidade
"Entre 2007 e 2021, 81 crianças foram mortas por bala perdida, ou, permita-me dizer, bala achada, no Estado do Rio de Janeiro. Sempre que um menino ou uma menina morrem de forma tão banal e hedionda, pensamos que tudo vai mudar, mas nada muda. O motivo deve-se ao fato de que esses pequeninos moram em comunidades cujos moradores são considerados, pelo Poder Público e grande parte da sociedade, matáveis", declarou Antonio Carlos Costa.
Operação nesta terça-feira
Publicidade
A comunidade do Fubá é novamente alvo de operação nesta terça-feira, dessa vez, com apoio da Polícia Civil. Veículos blindados são vistos no entorno da comunidade e há registros de tiros na Praça Seca. O motivo da ação ainda não foi divulgado pelas polícias.
Rio Ônibus e Fetranspor criticam depredação de ônibus em protesto
Publicidade
A Rio Ônibus e a Fetrapor divulgaram nota para repudiar o incêndio e depredação de dois ônibus, em protesto pela morte de Ray na noite de segunda-feira. O sindicato das empresas de ônibus disse que está sem orçamento para insumos básicos e que as empresas não têm recurso para repor a maior parte dos ônibus vandalizados todos os dias no Rio de Janeiro.
A primeira ocorrência, às 11h, retirou de circulação um ônibus da linha 636, que liga Praça-Seca e Saens Peña, vandalizado. Um motorista da Viação Redentor foi agredido por manifestantes e precisou de atendimento médico. Por volta das 20h, o segundo carro, de linha 562L intermunicipal da Viação Vera Cruz, com trajeto de Duque de Caxias ao Méier, equipado com ar-condicionado, foi intencionalmente incendiado na Avenida Ernani Cardoso, no Campinho. Não houve ferido. 
Publicidade
"Menos 800 lugares por dia no sistema de ônibus. Com dois veículos destruídos, a frota sofreu novas baixas", diz a Rio Ônibus. 
Já a Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor) disse que ontem foi o sexto ataque a ônibus em apenas dois meses do ano e classificou o incêndio como criminoso.
Publicidade
"Com o incêndio ao ônibus da linha 562L sobe para 223 o número de ônibus queimados no Estado do Rio desde 2016. Destes 223, 42% eram climatizados. O custo de reposição chega a R$ 95,5 milhões, recursos que poderiam estar sendo investidos na melhoria do transporte público com a renovação da frota", diz a Fetranspor.

Um ônibus incendiado deixa de transportar cerca de 70 mil passageiros em seis meses, tempo necessário para a reposição de um veículo no sistema. A Federação diz, no entanto, que a inexistência de seguro para este tipo de sinistro e a crise econômica do setor, que tem feito as empresas perderem a capacidade de investimento em renovação da frota, tornaram completamente inviável a reposição de ônibus incendiados.