Publicado 28/06/2021 13:39
Rio - "Foi um ato de desespero", revelou a mãe do bebê abandonado na comunidade Nova Brasília, no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, no último sábado. A mulher, que teve a identidade preservada, prestou depoimento na 22ª DP (Penha) na manhã desta segunda-feira e disse que já é mãe de cinco filhos e esse bebê é seu sexto. A jovem afirmou que por estar passando por um "momento difícil" em casa preferiu esconder a gravidez de todos, inclusive do pai da criança.
"Eu resolvi não falar da minha gravidez para ninguém. Então, o dia que eu dei à luz, fiquei um pouco nervosa e resolvi deixar ele nesse colégio, perto da lixeira", contou ela.
No sábado (26), a mulher foi vista por garis da Comlurb deixando uma sacola perto das escadas do colégio municipal Caic Theophilo de Souza Pinto. O gari Alan Almeida Costa foi quem encontrou o bebê. Ele também esteve na delegacia para prestar depoimento e revelou que foi uma "cena chocante". Ele contou que viu a jovem deixando uma sacola no local. Em seguida, foi ver o que era e achou a criança.
Ela contou que logo depois de abandonar o bebê se arrependeu e voltou para buscar o filho. "Eu estava muito arrependida de tudo que eu fiz, não foi certo isso. Se eu criei cinco filhos, eu tenho capacidade para criar esse também". Contudo, quando ela chegou no local, muitas pessoas já estavam cientes que um bebê tinha sido abandonado, tinham tirado foto da criança e contado diversas histórias, inclusive que ela teria sido torturada por traficantes.
"Contaram que meu filho estava fedendo, foi colocado na lixeira, que eu tinha ido parar na mão de traficantes. Não foi nada disso, ontem mesmo eu já estava com o meu bebê, mas ele precisou ir para o hospital para uma consulta". A criança está internada no Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha Circular, na Zona Norte.
Ela contou que vive com os cinco filhos em uma vila, onde sua mãe também mora. A mulher relatou que o ato de deixar o bebê nas escadas do colégio motivado por dificuldades financeiras e por medo dos julgamentos que sofreria por ter tido mais um filho.
"Eu vou lutar por ele até o fim. Eu quero meu filho de volta, apesar das dificuldades", disse, emocionada.
O gari Alan Almeida contou que logo após ver a mulher passar, ele foi ver o que tinha na sacola. "Foi muito rápido, menos de dez minutos. Ela passou, a gente estava do lado da lixeira. Na hora que eu abri, era criança e deu tudo certo. A criança estava em perfeito estado, ainda com cordão umbilical, não estava suja, nem chorando, nem nada, tudo certo, graças a Deus".
Alan, que é gari há 14 anos e pai de seis filhos, relatou que nunca tinha passado por uma experiência como essa e chegou a se emocionar. "Na hora eu fiquei muito emocionado porque a gente conseguiu resolver aquele caso. Ali tem cachorro vira-lata, podiam ter pego a criança. Ou uma outra pessoa também com intenção ruim podia ter pego".
O gari ainda contou que logo depois que ele encontrou a criança, várias pessoas estiveram no local para ver o que estava acontecendo. "Todo mundo querendo levar a criança como se fosse um objeto, eu não entreguei. Só depois de muito tempo que uma senhora que faz parte da família que reconheceu".
O delegado titular da 22ª DPª (Penha), Wellington Vieira, disse que logo após o caso os pais da criança procuram uma viatura da Polícia Militar na comunidade para informarem sobre o que tinha acontecido. Com isso, a Polícia Civil foi acionada e investigará o caso.
"O bebê está internado no Hospital Getúlio Vargas, sob cuidados do hospital. A polícia agora aguarda o boletim de atendimento médico e vamos fazer um laudo pra verificar as condições físicas dele. Parece que ele está bem, se for assim a mãe vai responder pelo crime de abandono de incapaz", informou Vieira.
O delegado ainda disse que por enquanto a mulher não corre o risco de ser presa porque ela procurou a delegacia e confessou o que fez, mas ela irá responder pelo crime. "O que a gente tem que ver agora é se ela tem condições para criar essa criança. Ela cometeu um ato grave e agora vão fazer todo um estudo, inclusive psicológico, para verificar se ela tem condições. É claro que a última palavra é do poder Judiciário".
De acordo com Vieira, o bebê está sob cautela do estado e o serviço de Assistência Social do hospital está responsável pelos cuidados. O Conselho Tutelar também já foi acionado e as medidas cautelares serão decididas.
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