Marielle Franco e seu motorista, Anderson, foram assassinados em 2018Câmara Municipal do Rio de Janeiro
Publicado 12/07/2021 20:51 | Atualizado 13/07/2021 15:44
Rio - Antes de deixarem as investigações da morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, as promotoras Simone Sibílio e Letícia Emile, que integravam a força-tarefa do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), denunciaram o delegado da Polícia Civil, Maurício Demétrio, depois que descobriram que ele recebeu, de uma pessoa ainda não identificada, informações sigilosas do caso Marielle e Anderson. As informações são do RJ2 da TV Globo. O delegado foi preso no fim do mês passado, suspeito de comandar um esquema que exigia propina de lojistas, que vendiam roupas falsificadas.
Os dados, que fazem parte do processo, estavam no e-mail de um ex-policial civil que teve o sigilo telemático quebrado durante as investigações. Ele seria ligado à contravenção e também investigado pelas mortes da vereadora e do motorista. Demétrio dizia que esse ex-policial civil era um desafeto dele, que o estaria monitorando, colocando sua vida em risco. Segundo o delegado preso, ele seria vítima de uma suposta organização criminosa.
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Mas, de acordo com as promotoras, esta foi uma demonstração de força e poder contra antigos adversários. Com as informações, o delegado protocolou petições no Ministério Público Eleitoral (MPE) e também no Ministério Público Federal (MPF). Informações secretas do caso acabaram expostas, sem autorização judicial e Maurício Demétrio denunciado por crime de violação de sigilo. Demétrio chegou a procurar a DHCapital, onde o caso Marielle é investigado, para formalizar o acesso aos dados sigilosos.
De acordo com a denúncia, o então responsável pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHCapital), delegado Moysés Santana, disse em depoimento ter recebido Demétrio a pedido do secretário de Polícia Civil, Alan Turnowsky, para que o ajudasse no que fosse possível, mas que, em nenhum momento, forneceu qualquer documento de conteúdo sigiloso. Santana entregou a Demétrio um documento confidencial com informações que dão conta de que ele estaria sendo monitorado pelo titular das contas de telemática identificadas. O então titular foi exonerado da DH por Turnowsky.
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Em pouco mais de três anos, foi a quarta troca no comando na delegacia que apura as mortes de Marielle e Anderson. As promotoras estavam no caso Marielle praticamente desde o início. Ainda de acordo com o RJ2, a insatisfação de Simone e Letícia é antiga. Elas decidiram abandonar o caso porque discordaram da forma como estavam sendo conduzidas as negociações para a delação da viúva do ex-capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), Adriano da Nóbrega, Julia Lotufo, que revelaria informações sobre homicídios, contravenção e também sobre o caso Marielle e Anderson.
Adriano da Nóbrega foi morto em fevereiro do ano passado em um confronto com a polícia da Bahia. Ele estava foragido e era acusado de chefiar um grupo de matadores de aluguel e também uma milícia. Sibílio e Emile também comandaram a investigação que levou à prisão de vários integrantes da quadrilha de Adriano. A viúva de Adriano cumpre prisão domiciliar. Julia já havia conversado com três delegados da Polícia Civil que integram a Coordenadoria de Investigação de Agentes com Foro (Ciaf), do MPRJ.
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Fontes ouvidas pela TV Globo contaram que as duas promotoras não participaram, pelo menos, dos dois primeiros encontros, apesar de estarem designadas para o caso Marielle. Quando puderam ouvir o relato da viúva, elas consideraram as informações sobre Marielle superficiais e sem provas. Por não haver fatos relevantes, elas decidiram não aceitar a delação premiada. Apesar disso, a proposta de delação continua sendo analisada por promotores de outra área do Ministério Público, o que teria causado desconforto.

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