O miliciano Adriano Nóbrega estava foragido há mais de um ano e se escondia num sítio no interior da Bahia, onde foi morto pela polícia - Arquivo Pessoal
O miliciano Adriano Nóbrega estava foragido há mais de um ano e se escondia num sítio no interior da Bahia, onde foi morto pela políciaArquivo Pessoal
Por ESTADÃO CONTEÚDO
Rio - O miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega foi morto por dois tiros de fuzil, disparados a, no mínimo, um metro e meio de distância, e chegou ao Instituto Médico-Legal de Alagoinhas, a pouco mais de 135 quilômetros de distância de Salvador, com os dois pulmões destruídos e o coração dilacerado. Os detalhes foram divulgados na tarde de ontem, na sede do Departamento de Polícia Técnica (DPT), em Salvador.

Pela primeira vez depois da morte de Adriano, o responsável pela autópsia do corpo, Alexandre Silva, perito médico legista, deu detalhes sobre o estado do miliciano. A entrevista coletiva reuniu, também, o diretor do IML, Mário Câmara, e Elson Jefferson Neves da Silva, diretor geral do DPT-BA.

"Eram dois disparos de arma de fogo", explicou Silva. "Teve um primeiro, que passou por baixo do peito, saiu rasgando o pescoço, e entrou na submandibular. Eu encontrei o projétil na região do pescoço. O segundo foi na região da clavícula. Esse aqui entrou e saiu nas escápulas. Essas foram as lesões provocadas por armas de fogo."

Caminho

Os tiros foram de fuzil, determinou a autópsia, mas o calibre ainda não foi determinado. O laudo parcial divulgado pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) ainda aponta seis fraturas nas costelas.

Os peritos negaram, diversas vezes, que o disparo tenha ocorrido numa distância de menos de um metro e meio. "Se você pega um fuzil calibre 762, por exemplo, bota perto da mandíbula, vai ter mandíbula para tudo que é lugar", afirmou Mario. Logo depois, comparou: "Assistam ao assassinato de John Kennedy, explodiu a cabeça dele, isso o sujeito [O ASSASSINO]lá longe".

Não se sabe quanto tempo, exatamente, Adriano ainda conseguiu sobreviver depois dos disparos. Mas os peritos acreditam que tenha sido de 10 a 15 minutos. "É por isso que muitos policiais atiram até derrubar. O cérebro continua vivo", tentou justificar Câmara. Depois, o corpo do miliciano foi levado para o IML de Alagoinhas, a 72 quilômetros de Esplanada. A liberação aconteceu no dia seguinte, e não se sabe, depois da retirada pela família, onde ele está. É o que afirmou a SSP-BA ao Estado. A família tentou autorização para cremar o corpo, mas a Justiça negou, na última terça (12).

O perito também encontrou uma área de equimose avermelhada no peito e na testa uma lesão "cortocontusa" - atrito que machuca e corta, como quando uma pessoa recebe um forte cotovelada ou um murro, por exemplo. As equimoses são causadas por vasos rompidos, abaixo da derme (camada mais superficial da pele), causada por uma superfície, quando Adriano ainda estava vivo. "Foi de forma passiva ou ativa? Não sei. Isso foi antes dele morrer", pontuou Câmara. "Ele bateu, provavelmente, em alguma quina", complementou.

Os peritos evitaram calcular a distância exata do tiro. Disseram que é "impossível" estimar a distância, exceto se conseguirem recuperar a arma que fez o disparo, usarem munição similar e disparar contra um alvo repetidas vezes até que se faça uma marca igual na "zona de tatuagem" - causada pela absorção de partículas de pólvora que atingem o corpo da pessoa atingida por um tiro. Câmara reforçou, em quase todas as respostas, que a distância está mais para "longa" - de um metro e meio a dois - que "curta".

Ainda restam três laudos - como o de balística - a ser divulgados, mas nenhum dos peritos estipulou prazo.

Região vive clima de tensão após morte

Investigado pela polícia baiana por supostamente ter dado abrigo ao miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, o fazendeiro Leandro Guimarães desapareceu nos últimos dias, em meio a ambiente de tensão na região. Em Esplanada, o Parque Gilton Guimarães, fazenda onde Adriano se escondeu, aberto e acessível até a quinta-feira, 12, foi fechado com corrente a forasteiros. A equipe do Estado tentou achar o fazendeiro. Foi recebida com temor e quase nenhuma informação por moradores.

Leandro Guimarães é uma espécie de celebridade local em Esplanada. Pertence a uma família abastada que, além de promover vaquejadas com prêmios de mais de R$ 100 mil, tem atuação política em Pojuca. Nas duas cidades, os Guimarães são figuras conhecidas. Para descobrir onde moram, basta perguntar no posto de gasolina, na lanchonete ou na beira da estrada.

Em Pojuca, um dos irmãos de Leandro, Lucas José Abreu Guimarães, é secretário de Serviços Públicos e Meio Ambiente, além de filiado ao PDT. Leandro tem filiação ativa no Podemos desde 2003 "São meninos bons", disse uma vizinha, sem se identificar.

O envolvimento - ainda nebuloso - de Leandro com o miliciano foragido da Justiça do Rio intriga moradores das duas cidades. Na fazenda de Esplanada, os funcionários demonstravam preocupação com o futuro, já que não veem o patrão desde o sábado, 8. Foi quando policiais prenderam Leandro por porte ilegal de arma. Esta semana, ganhou da Justiça a liberdade, com uso de tornozeleira eletrônica e pagamento de fiança. "Leandro arranjou um problemão pra ele, vai ser difícil se explicar", disse um funcionário.