Criminosos explodiram agência do Banco do Brasil no Centro de São João de MeritiMarcos Porto/Agência O Dia
Publicado 05/09/2022 14:00
Rio - Para coibir assaltos e tentativas de assaltos a agências e caixas eletrônicos, as instituições financeiras têm investido R$ 9 bilhões ao ano no aprimoramento da segurança bancária. Com apenas três dias de diferença, quatro estabelecimentos do setor foram alvos de criminosos no Rio de Janeiro, sendo um deles na sexta-feira (2), na Taquara, e o outro nesta segunda-feira (5), em São João de Meriti. De acordo com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), o valor desembolsado é o triplo do que era gasto há dez anos.
Entre as medidas adotadas pelas instituições para evitar ocorrências como as que aconteceram nesta segunda, em que os assaltantes explodiram as agências da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil para roubarem o dinheiro, estão ações tecnológicas que ajudam a reduzir o uso de dinheiro em espécie, além de melhoria de recursos, procedimentos e gerenciamento de risco.
"O setor bancário está fortemente empenhado em ações tecnológicas e novos produtos que reduzem a necessidade do uso de dinheiro em espécie e em grandes quantias, o que tem sido fundamental para desestimular as ações criminosas, das quais os bancos também são vítimas", afirmou o presidente da Febraban, Isaac Sidney.
Ainda segundo a Federação, tanto as agências quanto os postos de atendimento contam com sistemas de capturas de imagens, câmeras de visão noturna, sistemas de reconhecimento facial e sensores que identificam situações fora do comum, que possam indicar a ação de bandidos, como aumento repentino de temperatura na agência ou movimentação dos caixas eletrônicos. Já os caixas contam com dispositivos de entintamento das notas, previsto em lei, que inutilizam cédulas nos casos de ataques aos terminais de autoatendimento.

A Febraban afirmou também que os estabelecimentos contam com centrais que monitoram as agências em tempo real, no esquema 24 horas por dia, sete dias da semana, além de vigilantes profissionais, sendo uma média de três profissionais por agência bancária, fornecidos por empresas especializadas, com autorização de funcionamento expedida pelo Departamento de Polícia Federal.
No cenário nacional, os esforços resultaram na queda de 36,2% dos assaltos e tentativas, caindo de 58 ocorrências em 2020, para 37 em 2021. Já os ataques a caixas eletrônicos recuaram 38,7% na comparação entre os dois períodos, passando de 434 para 266, respectivamente. Mas, no Rio de Janeiro, o panorama parece ser diferente neste ano. Segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), entre os meses de janeiro e julho, foram registrados oito roubos a bancos em todo o estado, apenas dois a menos do que o total de casos do último ano
Entretanto, no mês passado, pelo menos mais dois casos aconteceram em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, no último dia 18, e em Vila Isabel, na Zona Norte do Rio, em 3 de agosto, além dos dois casos que aconteceram já nos primeiros dias de setembro. Para o diretor regional da Associação Brasileira de Profissionais de Segurança (ABSEG), Vinícius Cavalcante, as explosões em bancos provocadas por assaltantes têm acontecido com frequência, porque a prática oferece baixo risco e um bom lucro para os criminosos. Além disso, as quadrilhas têm facilidade em obter e produzir artefatos explosivos.
"Eles conseguem obter explosivos comerciais com alguma facilidade e o caixa eletrônico dá para eles uma grande liquidez. Eles não se expõem, eles têm muito pouco risco e o caixa eletrônico dá para eles um lucro bom. (...) Com o material que a gente encontra naquelas lojas de fertilizantes e plantas e as fórmulas que a gente acha na internet, infelizmente, a gente faz um artefato explosivo", afirmou o diretor.

A cientista social e coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESEC), Silvia Ramos, disse não acreditar que esse tipo de crime seja facilitado por falhas na segurança dos bancos, mas cogitou que os assaltantes podem ter informações privilegiadas sobre as agências.

"Não acho que exista facilidade. As agências adotam sistemas de segurança, com caixas blindados e câmeras. Resta investigar se os criminosos estão tendo informações privilegiadas sobre caixas (eletrônicos) abastecidos com quantidade de dinheiro. Mas, para isso a polícia precisa investigar e fazer trabalho de inteligência. Não adianta confronto, tem que ter polícia investigativa", disse a cientista, que ressaltou a importância do trabalho de inteligência da polícia.

"É muito preocupante verificar essa modalidade de crime se estabelecendo no Rio de Janeiro. São tipos de ação criminal que só podem ser combatidas com atividade de inteligência da polícia: de onde vêm as bombas, que tipos de explosivos são usados, como os criminosos se articulam para promover ações tão bem organizadas? Para onde vai o dinheiro retirado das agências? Muito se gasta no Rio com caveirão, fuzis, munições e confrontos. Mas, nessas horas, nada disso adianta e a polícia precisa desarticular essas quadrilhas antes que elas façam as ações", destacou Ramos.

"Esse tipo de crime, lamentavelmente, a gente não consegue desencorajar apenas com policiamento ostensivo, porque você não pode colocar um policial em cada agência, ou uma viatura nas proximidades de cada agência. Esse é um tipo de crime que só pode ser evitado com atividades de inteligência policial. Você vai ter que trabalhar em cima das fontes, descobrir quem são as quadrilhas que estão atuando dessa forma, quem são os técnicos de explosivos das quadrilhas, e aí você vai ter sucesso. Não é fácil e não é instantâneo", completou Cavalcante.


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