Painel de abertura foi sobre as oportunidades de investimentos que o Rio ofereceEDUARDO UZAL

Como manter o ritmo de crescimento do estado do Rio de Janeiro? Esta pergunta guiou o ‘Desenvolve RJ’, seminário realizado pelos jornais O DIA e Meia Hora na última quarta-feira (1º). Com apoio da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços, o evento reuniu autoridades, especialistas e empresários no Auditório do Hotel Prodigy, no Aeroporto Santos Dumont, para quatro debates que apontaram para além da manutenção do crescimento, indicando o capacidade do Estado do Rio para potencializar o desenvolvimento socioeconômico após os avanços registrados nos últimos dois anos e meio.
Ao abrir o seminário, o secretário de estado de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços, Vinicius Farah, apresentou dados que comprovam a transformação em curso no Rio, como os R$ 12 bilhões em caixa, a menor taxa de desemprego em 6 anos, quase 300 mil empreendimentos registrados em 2022, mais de R$ 100 bilhões em investimentos em andamento, geração de emprego formal acima da média nacional e o crescimento de 42% da empregabilidade na indústria.
“O estado do Rio viveu muitos desafios e problemas nas últimas duas décadas. Enquanto tentavam resolver problemas econômicos, administrativos e políticos que não deveriam existir, perderam o foco. Hoje, o Rio vive o seu melhor momento em termos de desenvolvimento econômico, batendo todos os recordes, inclusive em outras áreas, como segurança”, comentou o secretário Farah.
O QUE VEM POR AÍ
Além de apresentar os avanços registrados no estado, em termos de desenvolvimento econômico, Vinicius Farah anunciou novos projetos, validados pelo governador Cláudio Castro em reunião realizada no dia anterior ao seminário, que seguem o objetivo principal: gerar mais empregos e renda para toda a população fluminense. Entre as novidades, está a criação de um polo tecnológico em Petrópolis. "O Governo do Rio está adquirindo uma área à margem da BR 040, onde há uma fábrica desativada há mais de 50 anos, para instalar o maior projeto tecnológico deste país", disse o secretário, ressaltando que o polo vai fortalecer o segmento de tecnologia nas cidades ao redor, como Teresópolis e Itaipava.
O investimento de R$ 400 milhões para obras de infraestrutura em condomínios industriais foi um dos grandes anúncios do dia. “Investir nesses condomínios industriais é o futuro do Rio de Janeiro, que vai se tornar um polo industrial. Além de revitalizar os que já existem pela Codin, vamos instalar condomínios em diversos municípios, criando 16 microrregiões”, disse o governador Cláudio Castro. Para abrigar um condomínio, o município se candidata e a Secretaria de Desenvolvimento Econômico faz um estudo de aspectos que incluem, por exemplo, quantas empresas estão interessadas. Havendo demanda, o Governo do Rio enviará projeto de lei para a Assembleia Legislativa solicitando a criação de um imposto especial que vai beneficiar não apenas o município sede, mas os que estão próximos, cumprindo o objetivo de gerar mais empregos e renda em todos os 92 municípios do Rio de Janeiro.
MAR DE OPORTUNIDADES
O desenvolvimento socioeconômico baseado na sustentabilidade está no centro da discussão para os próximos avanços do Estado do Rio. Além da Secretaria de Meio Ambiente, comandada pelo vice-governador Thiago Pampolha, as demais pastas também estão conectadas ao compromisso ambiental. “O Estado do Rio de Janeiro tem investido em ações sustentáveis que ajudam, inclusive, a movimentar a economia verde fluminense. A meta é tornar o Rio a capital verde da América Latina. Já garantimos recursos do orçamento para os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, metas estabelecidas pela ONU (Organização das Nações Unidas) e que fazem parte da agenda mundial para a criação de políticas públicas que visam guiar a humanidade até 2030”, disse Pampolha.
Intimamente ligada ao tema, a mais recente secretaria criada pelo Governo do Rio contempla áreas que até então faziam parte da Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Comandada por Hugo Leal, a Secretaria de Energia e Economia do Mar tem entre seus objetivos o investimento em energia renovável e descarbonização. “Uma secretaria tinha um escopo muito grande para lidar, por isso a ideia de desmembrar para que os empreendedores da área pudessem ter equipes mais focadas em cada segmento”, explicou o governador Cláudio Castro, anunciando que em pouco tempo haverá novidades que são fruto da boa interlocução do Governo do Rio de Janeiro com o novo presidente da Petrobras, Jean Paul Prates.
Hugo Leal destacou a importância da decisão do governador em criar a nova secretaria e comentou sobre parte do trabalho que cabe a ele e sua equipe. "A economia do mar, que abarca desde a atividade da pesca à indústria do petróleo, incluindo turismo, defesa e segurança, é estratégica para o estado. É importante a expansão da distribuição do gás natural do Rio de Janeiro, com novos gasodutos. Nós vamos receber uma quantidade muito grande de gás das plataformas de Campos e de Santos, e precisamos estar preparados", disse o secretário, que também ressaltou um dos principais objetivos da pasta: a revitalização da indústria naval.
PAINÉIS DA MANHÃ
Ao longo do dia, o jornalista George Vidor conduziu quatro painéis sobre temas fundamentais para a continuidade do projeto de desenvolvimento do estado do Rio de Janeiro. O primeiro debate da manhã, dedicado às oportunidades de investimentos que o Rio oferece, reuniu Luiz Césio Caetano, vice-presidente e atual presidente em exercício da Firjan; Mauro Andrade, diretor executivo de Desenvolvimento de Negócios da Prumo, responsável pelo Porto do Açu; Bruno Quick, diretor técnico do Sebrae Nacional; e Vinicius Farah, secretário de estado de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços.
Mauro Andrade destacou a curva de crescimento do Porto do Açu e o que ele representa para a atração de mais empresas. “Nosso porto tem o maior parque termoelétrico a gás natural em funcionamento na América do Sul, e o secretário Farah teve papel fundamental para viabilizá-lo. Quando a segunda termoelétrica estiver operando, teremos 3 megawatts de energia gerados a partir de gás natural no estado”, disse o diretor executivo da Prumo.
Os acertos que precisam ser realizados para gerar mais crescimento foram mencionados. "Precisamos consolidar o Estado do Rio como um hub logístico nacional. Há investimentos em andamento pelas concessionárias de rodovias federais, mas ainda precisamos avançar mais na melhoria da logística do estado. É fundamental, também, avançar nos investimentos no setor ferroviário", disse o presidente em exercício da Firjan.
Bruno Quick fez questão de ressaltar a importância do ‘Desenvolve RJ’: “Espero que este encontro seja um ponto de alinhamento de forças e construção de convergência, já que oportunidade com dispersão não gera resultado. Um evento bem elaborado como este é muito útil e capaz de promover transformações”.
Na sequência, as oportunidades da Economia do Mar estiveram no centro do debate, que reuniu Fernanda Delgado, diretora executiva corporativa do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP); André Sochaczewski, assessor do Cluster Tecnológico Naval do Estado do Rio de Janeiro; Edésio Teixeira Lima Junior, presidente da Empresa Gerencial de Projetos Navais (EMGEPRON); e Marcos Bastos, coordenador de Oceanografia da UERJ.
Fernanda abriu a conversa apresentando um panorama sobre o setor de óleo e gás: “O Rio representa 80% da produção nacional de petróleo, concentra mais de 80% das reservas do país e possui o pré-sal, com mais de 2 milhões de barris produzidos por dia. A expectativa bastante expressiva é pelo aumento das exportações, o que significa arrecadação maior da balança comercial nacional. Em 2022, o Rio de Janeiro recebeu 24 bilhões de royalties e participações especiais. Estamos falando de um setor que representa 15% do PIB industrial e que tem a expectativa de criação de mais de 400 mil novos postos de trabalho diretos e indiretos”.
Edésio Teixeira ressaltou que o mar é a última fronteira de desenvolvimento humano neste planeta. “Temos nos valido de duas externalidades, como destacou a doutora Fernanda: a agenda de desenvolvimento sustentável da ONU e o movimento da OCDE, que tem a economia do mar como uma de suas grandes políticas. Todas as riquezas que o mar tem a oferecer devem ser exploradas de maneira sustentável, não predatória, com fiscalização, e revertendo benefício para a sociedade. A OCDE compreende a economia do mar em 19 setores, e todos eles estão presentes no Rio. Essa realidade nos traz a visão da enorme vantagem competitiva do estado”, disse o presidente da EMGEPROM.
O investimento em descomissionamento, um dos objetivos da Secretaria de Energia e Economia do Mar, foi esclarecido pelo coordenador de Oceanografia da UERJ. “Nada mais é do que a interrupção definitiva das instalações. Nos navios, a retirada dos equipamentos e sistemas é facilmente realizada. No caso das plataformas, a operação é mais complexa pelos riscos ambientais. O desmonte das cerca de 60 plataformas deve gerar R$ 58 bilhões até 2028. Hoje, o valor da venda dos ativos descomissionados está indo para fora do Brasil. Precisamos ocupar esse espaço”, pontuou Marcos.
PAINÉIS DA TARDE
O terceiro painel do ‘Desenvolve RJ’ foi dedicado à discussão sobre a valorização do empreendedor fluminense, com destaque para o "Compra RJ", que gerou mais de R$ 218 milhões em potencial de negócios nos últimos 10 meses. Os debatedores foram Brunno Eudes, gerente de Micro e Pequenas Empresas da Agerio; Fernanda Curdi, superintendente da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico; e Pedro Teixeira, vice-presidente da Ternium.
Eudes explicou que a AgeRio foi criada para estimular o desenvolvimento no estado por meio do apoio financeiro a empreendimentos e projetos que gerem mais empregos e renda, sinalizando para a importância da agência nos últimos dois anos. “Para colaborar com os empreendedores diante das dificuldades impostas pela pandemia, o programa ‘Supera RJ’ investiu mais de R$ 300 milhões em 24 mil micro e pequenas empresas do estado. Apesar deste e de outros projetos, muitos não conhecem nossos serviços, que apoiam do pequeno ao grande empresário, além das prefeituras”, disse o gerente, destacando uma nova linha de crédito especial para mulheres.
O vice-presidente da Ternium, por sua vez, ressaltou o compromisso da empresa com a comunidade na qual está localizada. “Todas as nossas ações são locais. Investimos muito em educação e qualificação, criando oportunidades para uma juventude que existe em abundância e tem sido esquecida pelo poder público por décadas. Parte do nosso trabalho é resgatar a honra que pertence à Santa Cruz”, disse Teixeira.
“O estado do Rio é a segunda economia do Brasil e tem muitas possibilidades. Identificamos que os brasileiros gastaram mais de R$ 4 trilhões em 2018, sendo que o Rio representou R$ 440 bilhões desse consumo. Dados como este evidenciam nossa potencialidade”, enfatizou Fernanda Curdi.
A relevância do setor energético para o estado do Rio de Janeiro foi o tema do último painel do seminário, que reuniu Hugo Leal; secretário de Estado de Energia e Economia do Mar; Flávio Rodrigues, vice-presidente de Relações Corporativas da Shell Brasil; Paulo Henrique Van der Ven, vice-presidente de Operações Compartilhadas da Equinor Brasil; Rafael Chaves, diretor executivo de Relacionamento Institucional e Sustentabilidade da Petrobras; e Daniel Lamassa, subsecretário adjunto de Energia.
Lamassa apresentou um panorama sobre as mais diversas formas de geração de energia do estado do Rio, destacando as renováveis. “No Rio, temos uma produção de hidrogênio limpo que quase ninguém conhece. São quase 50 toneladas produzidas por ano, sendo que podemos dobrar. Entrando em funcionamento Angra 3, o potencial será de 170 toneladas”, disse o subsecretário. Paulo Henrique comentou a origem da Equinor, na Noruega, e reforçou os investimentos que impactam o Rio de Janeiro, lembrando que a empresa possui “um portfólio em franco desenvolvimento no segmento da energia renovável.
O vice-presidente de Relações Corporativas da Shell Brasil também falou sobre investimentos em energia. “O Porto do Açu tem grande potencial para energia eólica, offshore e hidrogênio. Não foi por acaso que, em 2022, submetemos seis projetos de licenciamento ao Ibama, sendo que um deles está alocado no Rio. Temos muitos outros projetos nessa agenda de energia para o estado, inclusive de gás e petróleo”, disse Flávio Rodrigues.
Rafael Chaves forneceu importantes dados sobre a vantagem competitiva do Rio de Janeiro no segmento petrolífero. “O estado do Rio é abençoado com uma quantidade enorme de petróleo. Estamos em um momento de transição energética acelerada e sabemos que a tendência é a retração do volume de petróleo sendo consumido na matriz energética mundial. Mas se a gente avaliar o petróleo de água ultra profunda, a emissão por barril entregue é menor que 10 kg de CO2 equivalente. A média mundial é 20”, disse o diretor-executivo de Relacionamento Institucional e Sustentabilidade da Petrobras.
As dificuldades enfrentadas pelos empresários por falta de energia foram discutidas no evento, deixando claro que uma aparente simples queda de energia pode comprometer a produção de forma radical. "Estamos atentos às duas concessões de energia elétrica, que embora sejam de responsabilidade do governo federal, são acompanhadas por nós porque prestam serviço no nosso estado", explicou o secretário Hugo Leal.