Fotos da escultura "Corte seco - Marielle" de 11 metros de altura, que foi doada pelo artista Paulo Nazareth para o Instituto Marielle Franco. Foi inaugurada hoje e está no Museu de Arte do Rio (Endereço: Praça Mauá, 5 - Centro).Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia

Rio - Dezenas de pessoas se reuniram na manhã desta terça-feira (14) na Igreja Nossa Senhora do Parto, no Centro do Rio, para a missa em homenagem a Marielle Franco e Anderson Gomes. Neste dia 14 de março completam-se cinco anos da execução dos dois. A vereadora e o motorista foram assassinados a tiros enquanto passavam de carro entre os bairros Estácio e Cidade Nova, na região central do Rio em 2018. A celebração religiosa foi uma das atividades, esta mais emocional e afetiva, da data cheia de atividades que reivindicam justiça para as vítimas. 

Na primeira fileira, a filha de Marielle, Luyara, e os pais, Marinete da Silva e Antônio Francisco da Silva Neto, acompanharam a celebração ao lado da viúva, vereadora Monica Benicio (Psol). A família da vereadora estava próxima à de Anderson. A viúva do morotrista, Agatha Arnaus, também acompanhou emocionada a celebração, vestindo uma camiseta que pedia justiça em nome do marido.
Entre os presentes, estavam políticos, em sua maioria mulheres, jovens e ativistas dos direitos humanos, a diretora-executiva da Anistia Internacional no Brasil, Jurema Werneck, além de amigos e familiares das vítimas. A deputada estadual Renata Souza acompanhou a cerimônia ao lado da vereadora Luciana Boiteux, ambas do Psol. A vereadora Mônica Cunha, do mesmo partido, a deputada estadual Marina do MST (PT), o vereador Edson Santos (PT) e os ex-deputados Waldeck Carneiro e Mônica Francisco também participaram da missa. 
A vereadora e viúva de Marielle, Monica Benicio, afirmou que a falta de respostas sobre o mandante e a motivação do crime impede que as famílias e amigos vivam o luto em paz. Cinco anos é pouco tempo para a saudade que os entes próximos sentem das vítimas e muito tempo sem a elucidação do caso para a democracia, disse Benicio.
"Tem momentos políticos, que o estado nos obriga pelos cinco anos sem resposta sobre quem mandou matar Marielle e porque. E momentos como esse, que o nosso luto deveria permitir, que é rememorar a saudade, mas não de um lugar violento, e sim de um lugar de vibrar muito amor e paz para Marielle e para o Anderson. Mas infelizmente, o estado brasileiro ao não responder, faz com que a gente precise não só revisitar as saudades, mas também revisitar a violência para seguir cobrando justiça para que nunca mais aconteça nada parecido", disse a parlamentar.
A viúva de Anderson, Agatha Arnaus, agradeceu às pessoas que apóiam sua família e afirmou que cuida da vida do filho Arthur, de 6 anos, para que Anderson tenha orgulho dos dois. "Agora só venho agradecer às pessoas que estão do meu lado, que estão caminhando com a gente, presentes nesse dia de dor e de busca por resposta. Nesses cinco anos tenho buscado focar muito no Arthur. Seguir em memória do Anderson para que ele tenha muito orgulho da gente também", declarou.
Os familiares de Marielle foram a uma reunião no Ministério Público do Rio após a cerimônia religiosa, e em seguida, a uma reunião com o governador Claudio Castro e membros da Anistia Internacional. A irmã da parlamentar, ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, veio ao Rio durante a tarde participar das atividades.
O Instituto Marielle Franco promoveu um festival cultural para pedir respostas sobre as mortes na Praça Mauá, no Centro do Rio, a partir das 18h com previsão para acabar às 23h. Vão passar pelo palco os artistas Marcelo D2, Djonga, Luedji Luna, DJ Tamy e Criolo. A bateria da Mangueira e a Orquestra Maré do Amanhã também vão se apresentar.
Durante a manhã, parlamentares do Psol, partido de Marielle, reuniram-se em frente à Câmara Municipal do Rio, na Cinelândia, para estender a faixa "Quem Mandou Matar Marielle?" na fachada do Palácio Pedro Ernesto. Uma exposição também foi aberta ao público com obras em homenagem a Marielle Franco, no Museu do Amanhã, na Praça Mauá. A escultura gigante "Corte seco - Marielle" de 11 metros de altura foi doada pelo artista Paulo Nazareth para o Instituto Marielle Franco e inaugurada no Museu de Arte do Rio, também na Mauá.
A escultura 'Corte seco - Marielle', de 11 metros de altura, está exposta no Museu de Arte do Rio, na Praça Mauá - Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia
A escultura 'Corte seco - Marielle', de 11 metros de altura, está exposta no Museu de Arte do Rio, na Praça MauáReginaldo Pimenta / Agencia O Dia


Marielle Franco foi a quinta parlamentar mais votada em 2016, em seu primeiro mandato. Nascida e criada no complexo de favelas da Maré, formou-se socióloga na PUC-Rio e mestre em Administração Pública na UFF. Em sua trajetória política, defendeu o direito das mulheres, as classes populares, de favelas e periferias e os direitos humanos.

No fim de fevereiro, o ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB-MA), determinou que a Polícia Federal instaurasse um inquérito para apurar a execução. O mandante do crime ainda não foi identificado. Ronnie Lessa, autor dos disparos, e Élcio Queiroz, que conduzia o veículo, foram presos em 12 de março de 2019.

O delegado federal Guilhermo de Paula Machado Catramby, titular do setor de inteligência policial, foi o encarregado a ajudar o Ministério Público na investigação.