Rio - O padre Luciano Borges Basílio, responsável pela missa em homenagem a Marielle Franco e Anderson Gomes realizada nesta terça-feira (14), data que o assassinato de ambos completa cinco anos, na Igreja Nossa Senhora do Parto, destacou a importância da ex-vereadora no combate à desigualdade social e pediu que a Justiça seja feita.
O sacerdote ministrou a missa de frente para Luyara, filha de Marielle, os pais da ex-vereadora, Marinete da Silva e Antônio Francisco da Silva Neto, e a viúva da ex-parlamentar, a vereadora Monica Benicio (Psol). A família de Marielle estava próxima à de Anderson. A viúva do motorista, Agatha Arnaus, também acompanhou emocionada a celebração, vestindo uma camiseta que pedia justiça em nome do marido.
Em seu discurso, Luciano, que é defensor de políticas antirracistas e amigo próximo da família de Marielle, disse que ela foi uma "mulher preta, pobre e periférica que se tornou símbolo dos direitos humanos, bandeira que tanto carregou durante seu mandato".
"Quanto mais humanos somos, mais divinos nos tornamos. Matou-se o corpo, mataram alguém muito especial. Mas seu legado será lembrado. Alguém que lutou pelo povo periférico. Pedido de justiça e não é pedido de vingança. A vingança não nos traz paz. A justiça traz leveza para a alma. Estamos de mãos dadas", disse o padre durante a cerimônia.
Neste dia 14 de março completam-se cinco anos da execução de Marielle Franco e de Anderson Gomes. A vereadora e o motorista foram assassinados a tiros enquanto passavam de carro entre os bairros Estácio e Cidade Nova, na região central do Rio em 2018. A celebração religiosa foi uma das atividades, esta mais emocional e afetiva, da data cheia de atividades que reivindicam justiça para as vítimas.
A vereadora e viúva de Marielle, Monica Benicio, afirmou que a falta de respostas sobre o mandante e a motivação do crime impede que as famílias e amigos vivam o luto em paz.
"Cinco anos é pouco tempo para a saudade que os entes próximos sentem das vítimas e muito tempo sem a elucidação do caso para a democracia. Tem momentos políticos, que o estado nos obriga pelos cinco anos sem resposta sobre quem mandou matar Marielle e porque. E momentos como esse, que o nosso luto deveria permitir, que é rememorar a saudade, mas não de um lugar violento, e sim de um lugar de vibrar muito amor e paz para Marielle e para o Anderson. Mas infelizmente, o estado brasileiro ao não responder, faz com que a gente precise não só revisitar as saudades, mas também revisitar a violência para seguir cobrando justiça para que nunca mais aconteça nada parecido", disse a parlamentar.
Marielle Franco foi a quinta parlamentar mais votada em 2016, em seu primeiro mandato. Nascida e criada no complexo de favelas da Maré, formou-se socióloga na PUC-Rio e mestre em Administração Pública na UFF. Em sua trajetória política, defendeu o direito das mulheres, as classes populares, de favelas e periferias e os direitos humanos.
No fim de fevereiro, o ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB-MA), determinou que a Polícia Federal instaurasse um inquérito para apurar a execução. O mandante do crime ainda não foi identificado. Ronnie Lessa, autor dos disparos, e Élcio Queiroz, que conduzia o veículo, foram presos em 12 de março de 2019.
O delegado federal Guilhermo de Paula Machado Catramby, titular do setor de inteligência policial, foi o encarregado a ajudar o Ministério Público na investigação.