Familiares e amigos de Julio Cesar Rodrigues Pereira realizaram um protesto em frente ao presídio de Benfica, na Zona Norte do RioCléber Mendes / Agência O Dia

Rio - Preso por suspeita de tráfico de drogas, Julio Cesar Rodrigues Pereira, de 27 anos, teve a prisão mantida, neste sábado (18), em sua audiência de custódia. Familiares e amigos do jovem organizaram um protesto em frente ao presídio de Benfica, na Zona Norte do Rio e afirmaram que a prisão é injusta, alegando que ele trabalha com venda de laticínios no bairro do Jacaré, Zona Norte. 
A advogada de Julio, Edna Jesus de Almeida, informou que ele agora está sendo preso preventivamente e vai responder ação penal. Ela também declarou que vai ao juiz de origem pedir a revogação da prisão. "É totalmente desnecessário. Ele trabalha como MEI, é vendedor ambulante e, naquele dia, optou em passar por uma das vias como já faz de costume na comunidade em que trabalha. Foi nesse momento que estava tendo uma incursão policial e os agentes o prenderam. Agora vamos começar a trabalhar no juiz da causa para que possa reverter esse quadro triste, de mais um trabalhador preto tendo seu direito aliciado, acusado de tráfico de drogas". 
Edna explicou que seria impossível ele ter comercializado droga em uma comunidade ocupada pela polícia. "Já tem ocupação lá, isso seria inviável no meu sentir. Como uma feira de drogas estava acontecendo se a comunidade é ocupada por policias? Queremos mostrar ao juiz que os fatos não aconteceram daquela forma que foi narrado. Temos esperança que o promotor, que vai assumir o caso, entenda". Julio ficará preso hoje e amanhã em Benfica, depois ele seguirá para o presídio enquanto aguarda o processo. 
De acordo com parentes do rapaz, ele deixou os dois filhos na escola e estava saindo para trabalhar quando viu uma correria na comunidade. Após escutar um tiroteio, ele também correu. Com isso, policiais militares foram atrás dele e de outros quatro suspeitos, que foram presos em flagrante.
Em conversa com O DIA, a mulher de Julio, Camilla Salene Alves Dias, questionou a atuação da Polícia Militar. Ela afirmou que o marido não estava em posse das drogas, mas que o material teria sido atribuído a ele pelos policiais.
"Na manhã de quinta-feira, fizemos nossa rotina normal. Eu saí para trabalhar e ele levou as crianças para a escola. Ele estava indo para o trabalho quando a polícia chegou atirando, fizeram um cerco e ele saiu correndo. Os policiais levaram ele junto de outros meninos que já tinham prendido e 'forjaram' a droga em cima dele. Ele sempre trabalhou. No momento, ele não está trabalhando de carteira assinada, mas não estava em casa parado", contou Camilla.
Na delegacia, policiais do Batalhão de Choque (BPChq) afirmaram que os cinco homens estavam com drogas em um local conhecido como ponto de venda do tráfico na comunidade. Durante a ação, foram apreendidos drogas, dinheiro em espécie e um celular. O caso foi encaminhado à 25ª DP (Rocha Miranda) e os suspeitos foram autuados pelo crime de tráfico de drogas.
Sobre a situação, a PM afirmou, em nota, que a decisão pela manutenção da prisão fica a cargo da autoridade policial responsável pela delegacia na qual a ocorrência é apresentada, após apreciação dos fatos.
De acordo com a apuração dos policiais civis, Julio Cesar foi apreendido em três situações quando era menor de idade. Com isso, o delegado recomendou a prisão preventiva do suspeito.
Segundo a defesa de Julio Cesar, a quantidade apreendida é pequena e, por isso, não pode ser enquadrado como crime de tráfico. Além disso, ele afirma que não conhece os outros presos durante a operação, mas admite ser usuário de drogas.
Ainda de acordo com a advogada do rapaz, ele não possui antecedentes criminais, pois não foi condenado por nenhum crime. Ele também apresentou um certificado de microemprendedor indiviudal, um documento indicando que ele atua como vendedor ambulante de produtos alimentícios.
O comerciante Hamilton Machado, que compareceu no protesto, afirmou que trabalha como chefe do Julio Cesar há cerca de um ano. Ele relatou que o jovem deu azar de passar pelo local errado no momento errado, mas espera que a Justiça não determine a prisão preventiva.
"Ele começa a trabalhar por volta das 9h, o momento em que aconteceu a prisão. Trabalhamos próximo à linha férrea e ele tem duas opções: por dentro da linha ou por dentro da comunidade. Ele veio andando pela linha e, infelizmente, tem uma 'boca de fumo' por ali. Toda comunidade tem... Ele estava passando na hora errada e no lugar errado", afirmou o comerciante.
"Ele deu azar de começar uma correria e ficou assustado. Eu estava longe, mas um dos meninos foi à delegacia para explicar que ele não tem nada a ver e o policial disse que a droga estava na mão dele, o que não é verdade. Eu boto certeza que não estava, ele trabalha todo dia. Esperamos que a Justiça entenda isso. Nem todos na comunidade são vagabundos", concluiu.
* Reportagem do estagiário Fred Vidal, sob supervisão de Iuri Corsini
* Colaborou Cléber Mendes