Alunos da E.M. Paulo Maranhão, em Realengo, em visita à parte poluída do PiraquaraDivulgação
Na escola de Realengo, o engajamento de alunos e profissionais envolveu a comunidade. Pais e alunos foram juntos conhecer a nascente do Rio Piraquara, no Parque Estadual da Pedra Branca, onde as águas jorram ainda limpas. Depois, visitaram os pontos em que o curso d'água é poluído. Em 2020, o rio transbordou num grande enchente que invadiu casas, arrastou carros e destruiu o pavimento das ruas.
"Todos puderam ver in loco o processo de destruição do rio. E isso muito por conta da ação das pessoas de jogar lixo em seu curso. Os alunos plantaram árvores perto da nascente, e foi uma oportunidade de falarmos também, na prática, como funciona o processo de fotossíntese", diz a professora Jocileia Macêdo.
A mobilização no bairro ainda resultou em uma passeata em que alunos carregaram cartazes e distribuíram panfletos de conscientização. Um dos participantes foi Guilherme de Almeida, de 8 anos, que, junto com os colegas, entrevistou moradores do bairro sobre a história do rio.
"A pessoa que eu entrevistei contou que antigamente brincavam no rio, que tinha peixinhos. Eu fico muito triste quando vejo o rio sujo. Aprendi que não devemos jogar lixo nele, nem móveis ou animais mortos", diz Guilherme.
A entrevista dos moradores é uma das ações que podem ser aplicadas na fase inicial do projeto, em que os alunos vão até o rio, fazem o diagnóstico do problema e pesquisam sobre sua história. Na Escola Municipal Antônio Pereira, em Tomás Coelho, o processo resultou em uma peça teatral, que foi apresentada à comunidade em várias sessões no fim do ano. A unidade voltou ações para o Rio Timbó.
"Na encenação, mostramos toda a história do rio, desde quando escravos alforriados pescavam nele até o momento em que surgiram construções irregulares e passou-se a despejar lixo em seu curso, culminando em uma grande enchente nos anos 1970, uma tragédia que marcou a região. Colocar as coisas dessa forma por meio do teatro foi impactante e gerou muitas reflexões entre pais e alunos", diz a professora Karina Vargas.
Projeto piloto no Rio Carioca
Presidente da Oscip Planetapontocom, Silvana Gontijo explica que a metodologia para integrar a preservação dos rios às disciplinas do currículo escolar foi desenvolvida entre 2014 e 2020, durante o projeto-piloto que envolveu 27 escolas situadas na bacia do rio Carioca. O material fica disponível aos professores na plataforma esserioemeu.org, onde há um mapa em que é possível clicar em cada escola e ver informações do rio que está perto.
No Carioca, Silvana conta que em um ano e seis meses foi possível recuperar trechos do rio, como a queda d'água situada no Silvestre, entre Santa Teresa e Cosme e Velho, e acabou virando um ponto de lazer e convivência entre moradores de uma comunidade da região.
"Também conseguimos o tombamento do Carioca pelo Inepac (Instituto Estadual do Patrimônio Cultural). Foi a primeira vez que um rio urbano teve este reconhecimento", acrescenta.
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