Thiago Leonel Fernandes da Motta era sambista e foi um dos fundadores do Samba Pra RodaReprodução/Redes Sociais
Torcedor morto por inspetor penitenciário era cinegrafista e criador de roda de samba solidária
Thiago Leonel Fernandes da Motta, 40, foi assassinado por Marcelo de Lima, durante briga em um bar da Tijuca, após Fla x Flu
Rio - Operador de câmera, cinegrafista e "sommelier" de botequim foi a maneira usada por Thiago Leonel Fernandes da Motta, de 40 anos, para se descrever em seu perfil nas redes sociais. Mas, para os amigos, ele era "um artista da imagem", "talentosíssimo câmera, diretor de fotografia e fotógrafo" e um "grande entusiasta da arte e da boêmia". Torcedor do Fluminense, o homem foi morto a tiros por um inspetor penitenciário, na noite deste sábado (1º), após a partida contra o Flamengo pela final do Campeonato Carioca, no estádio do Maracanã.
Em suas redes sociais, Thiago costumava compartilhar mais registros de seus trabalhos do que próprios. Ele foi cinegrafista da TV Globo e participou de diversas produções em streamings como "Encantado's" da GloboPlay e "Eleita" do Prime Video. Além do trabalho por trás das câmeras, a vítima era sambista e foi um dos fundadores do Samba Pra Roda, que apoia o projeto social sem fins lucrativos Buscando Ajuda para Sonhos Executáveis (B.A.S.E). A apresentação do grupo de pagode que aconteceria neste domingo (2) foi cancelada.
Em uma publicação, o Samba Pra Roda relata que Thiago foi responsável por juntar o grupo musical e que em seu aniversário de 2017, ele realizou uma roda de samba com os amigos no Bar do Omar, no Morro do Pinto, no Santo Cristo, onde morava, o que desde então, se tornou um encontro todos os domingo no local. Nas redes sociais, o estabelecimento também divulgou um aviso de que a apresentação de hoje foi cancelada, junto com a imagem de um coração partido.
"A partir de agora, toda vez que nos reunirmos vai faltar um amigo, um irmão, um colega de trabalho e um incentivador dos nossos encontros repletos de samba e alegria (...) Toda vez que tiver Samba Pra Roda, você será lembrado. Obrigado por tudo e por tanto, você foi um cara gigante na vida de quem teve a sorte de cruzar contigo", diz o texto.
O crime aconteceu em um bar, que estava cheio, na Rua Isidro de Figueiredo, no bairro da Tijuca, na Zona Norte. A vítima foi atacada a tiros pelo inspetor penitenciário Marcelo de Lima, após uma briga que ainda envolveu outro torcedor do Fluminense, Bruno Tonini Moura, de 38 anos, também baleado por Marcelo. O cinegrafista morreu no local. Já o outro homem foi socorrido para o Hospital Badim, no Maracanã, onde passou por cirurgia. A vítima está internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em recuperação pós-cirúrgica.
O agente da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) foi detido e teve sua arma apreendida pelos PMs. Marcelo e testemunhas foram levados para a 19ª (Tijuca), onde prestaram depoimento. Em seguida, o caso foi encaminhado para a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC). O inspetor foi autuado em flagrante por homicídio qualificado por motivo fútil contra Thiago e tentativa de assassinato contra Bruno. A Seap repudiou a ação do servidor e informou que será aberto um Procedimento Disciplinar Administrativo contra Marcelo, em paralelo às investigações da Polícia Civil.
Na manhã deste domingo, familiares do torcedor tricolor estiveram no Instituo Médico Legal (IML) Afrânio Peixoto, no Centro do Rio, para a liberação do corpo. Ainda não há informações sobre o local e horário do sepultamento da vítima. "Hoje o dia ficou mais triste… Ainda mais porque Thiago, que sempre foi um grande entusiasta da arte e da boêmia, teve sua vida interrompida covardemente e abruptamente após uma partida de futebol", escreveu o Samba Pra Roda. "Que a justiça seja feita contra essa covardia executada por um agente do estado, não nos calaremos e esperamos resposta das autoridades", completou.
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