Operação da Policia Militar na Cidade de DeusPedro Ivo / Agência O Dia

Rio - A comunidade da Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio, viveu mais um dia violento nesta segunda-feira (10) — fato que tem se tornado cada vez mais comum na região. Tanto à tarde quanto no período da manhã, tiroteios entre traficantes e policiais militares assustaram moradores. Na ONG Nóiz, as crianças precisaram ficar trancadas em uma biblioteca para se proteger dos tiros durante a operação.
"Infelizmente, isso é comum aqui dentro. A PM veio aqui de manhã, algumas escolas já não tiveram aula, e outras sim. Eles voltaram exatamente na hora que as crianças saem da escola. No momento em que o tiroteio aconteceu, as crianças estavam fazendo balé. Tivemos que trancá-las na biblioteca, elas estão lendo livros, tentando relaxar. Elas estão em segurança, enquanto a bala 'tá comendo' lá fora. Ficamos muito preocupados sobre como as crianças crescem nesse ambiente. Os pais estão desesperados, estou recebendo mensagem para segurar as crianças aqui dentro", relatou o presidente da ONG, André Melo.
Focado em promover educação e cultura para jovens a partir de 4 anos, os responsáveis pela ONG precisaram disputar a atenção das crianças com os tiros. No lado de fora, agentes do 18º BPM (Jacarepaguá) e do 2º Comando de Policiamento Aéreo (2º CPA) foram atacados a tiros durante uma operação para reprimir a movimentação de criminosos na região. Após o intenso confronto, os suspeitos fugiram para o interior da comunidade. Não houve registro de presos, feridos ou apreensões.
André Melo, que presenciou o tiroteio durante a manhã e a tarde desta segunda-feira, criticou a operação. Ele acredita que, assim como os policiais, os moradores também ficam suscetíveis aos tiros. Além disso, o presidente da ONG também afirma que o resultado não é alcançado: mesmo com as ações, o crime organizado segue atuando na região. Para buscar o resultado da educação, o Projeto Nóiz segue na tentativa de construir um ambiente saudável para as crianças, nem que seja entre as paredes da organização.
"Sobre os tiroteios durante as operações, é um formato que a gente não acredita, está provado que não dá certo. Não é só um trabalho de operação, porque acaba expondo todo mundo, inclusive os policiai, e não se tem resultado. Então, é essa referência que as crianças crescem. É uma violência que elas convivem, uma violência psicológica. Tentamos dar todo o suporte para elas dentro do ambiente saudável, que é o que tentamos transformar a ONG aqui. Tentar lidar com a coisa de uma forma menos traumática, porque temos certeza que não é assim que o Estado enxerga. Criam seus filhos em outro ambiente, em escola particular, alguns com segurança. Eu, no momento em que estou falando com você, estou ouvindo o barulho dos tiros aqui", lamentou.
Por volta das 19h, a PM informou que a operação foi finalizada e o policiamento segue reforçado na região. "Ainda no clima tenso", como relatou André, crianças puderam, então, deixar a biblioteca.
Em nota, a Secretaria de Estado de Polícia Militar informou que, de acordo com os dados compilados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), as mortes por intervenção de agente do estado apresentaram os menores valores para o acumulado do bimestre e para o mês de fevereiro desde 2017. No comparativo com os primeiros dois meses de 2022, o delito registrou redução de 1% no acumulado e de 5% no mensal.
"A Corporação destaca que as ações de enfrentamento ao crime organizado são planejadas com base em informações de inteligência, sendo pautadas por critérios técnicos e pelo previsto na legislação vigente, tendo como preocupação central a preservação de vidas, sendo executadas de forma integrada com outros órgãos de segurança. O Governo do Estado vem investindo em equipamentos para que as ações da Polícia Militar sejam cada vez mais técnicas e seguras para os policiais e a sociedade", concluiu.
* Reportagem do estagiário Fred Vidal, sob supervisão Thiago Antunes