Raquel Franco mostra imagens do radar do Sumaré, que cobre a cidade do RioPedro Ivo/ Agência O Dia

Rio - O último fim de semana chuvoso na cidade do Rio registrou 100 milímetros (mm) de chuvas entre 0h de sábado, dia 8, e 0h do dia seguinte, em bairros como Jardim Botânico e Alto da Boa Vista. A informação foi divulgada pelo Centro de Operações Rio (COR), na manhã daquele domingo. Mas o que isso significa exatamente? Meteorologista-chefe do Alerta Rio, Raquel Franco 'traduz' a informação: 100 mm de chuva significa que choveu 100 litros de água em um espaço de 1 m². É como se, num quadrado de 1 metro, fossem despejados cinco galões de água de 20 litros. Isso mesmo, aqueles galões azuis que o entregador do bairro leva até a sua casa.


"Mas isso foi num intervalo de 24 horas. Se fosse em um intervalo de uma hora, seria catastrófico", explica Raquel: "Em um intervalo de uma hora, a gente considera que 25 milímetros já é uma chuva forte".

Ou seja, 25 litros de água em um quadrado de um metro, num intervalo de uma hora.

"Mas aí entram uma série de outras variáveis para estimarmos o impacto na cidade. Se chover 25 mm em uma hora no Parque da Pedra Branca, que é pouco habitado e com um tipo de solo que absorve essa água, é uma coisa. Se for na Grajaú-Jacarepaguá, no horário de rush, teremos um grande transtorno", diz Raquel.

Nesta última situação hipotética, a meteorologista já teria deixado a sala do Alerta Rio e estaria ao lado do coordenador da Sala de Situação. Os dois espaços ficam no COR. Ao lado do coordenador, que geralmente é um profissional com experiência em centros operacionais de aeroportos, ela forneceria em tempo real os dados não só dos pluviômetros, que fazem a medição das chuvas em milímetros, mas também dos radares meteorológicos e satélites.

Ao coordenador caberia analisar outros fatores, como impactos na mobilidade, quedas de árvores, bolsões d'água e alagamentos, para definir os cinco estágios operacionais da cidade: normalidade, mobilização, atenção, alerta e crise, com as respectivas orientações para o cidadão, que são repassadas pelo site e pelas redes sociais do COR.

Mas e antes de a água cair?

A medição dos pluviômetros - são 33 espalhados na cidade, com envio de informação a cada 15 minutos - se dá quando a chuva atinge a superfície do solo. É o dado concreto de um trabalho de monitoramento diário e constante das equipes do Alerta Rio.

A previsão do tempo para um intervalo de quatro dias se dá principalmente pela análise, feita pelo meteorologista, de modelos matemáticos, com equações e aproximações físicas feitas em super computadores. Depois disso, em situações mais próximas aos eventos chuvosos, o Alerta Rio passa a fazer uso de outras ferramentas, como os satélites.
Um deles permite o monitoramento da atmosfera em todo o continente americano. Por sinal infravermelho, os satélites medem a temperatura no topo da nuvem, e acompanham seu deslocamento.

"Se a nuvem estiver muito fria, com gelo, é sinal de tempestade", diz Raquel.

A temperatura é visualizada no mapa por meio de cores. Quanto mais fria está a nuvem, a cor vermelha se intensifica. A gradação rosa significa a temperatura mais baixa. Na última segunda-feira, a cor aparecia sobre a região amazônica: um registro em torno de -80ºC.

"Esta é uma nuvem de tempestade, que está acontecendo por lá", explica Raquel.

Em outras áreas do mapa, a cor vermelha estava na região de Mato Grosso do Sul e São Paulo. A partir de equações numéricas e conhecimento sobre o comportamento da atmosfera, o meteorologista Bruno Dumas preparava o boletim das 16h.

"Provavelmente teremos chuva no fim da tarde de amanhã (terça-feira)", diz.

Neste momento, da janela em frente à sua estação de trabalho, de onde, instantes atrás, avistava-se céu totalmente azul, já era possível visualizar algumas nuvens.

"É este cara aqui se aproximando", comenta Bruno, apontando para o mapa na tela de seu computador, que mostra cor vermelha sobre São Paulo.

Radares e balão atmosférico da Aeronáutica

Às imagens dos satélites somam-se outras duas ferramentas que permitem um acompanhamento imediato: o balão atmosférico lançado pela Aeronáutica no Aeroporto do Galeão duas vezes ao dia e os radares meteorológicos, que lançam ondas eletromagnéticas que incidem sobre as nuvens e retornam com a informação se foi detectada gota de chuva nelas. Os dados são visualizados em outras duas telas na sala do Alerta Rio. 
A cada dia, as informações do balão atmosférico confirmam ou não a previsão dos dias anteriores. O equipamento, de gás hélio, é lançado da superfície às 9h e às 21h. Ele contém sensores que identificam uma série de dados, como temperatura, umidade do ar e a intensidade e direção do vento.

"A partir da sondagem, a gente calcula índices de instabilidade, a energia disponível para ocorrência ou não de uma tempestade naquele determinado dia", explica Raquel.

Já com as nuvens formadas sobre o Rio de Janeiro, os profissionais voltam a atenção para os radares meteorológicos. O que cobre a capital está localizado no Sumaré. É ele que gera as imagens comumente divulgadas pelo Twitter do COR.

"Conseguimos ver em tempo real se a nuvem de chuva está ganhando força, para onde está se deslocando e com que velocidade. É a partir desses dados que informamos sobre a possibilidade e intensidade de ocorrência de chuva e em que locais da cidade, horas ou minutos antes de ela cair."

O monitoramento do radar do Sumaré tem raio de alcance de 140 km e traz atualizações a cada dois minutos. Já os situados em São Paulo, Petrópolis, Niterói, Macaé e Guaratiba, também analisados pelo Alerta Rio, gera informações a cada cinco minutos. 
"Por isso é importante que as pessoas olhem a previsão do tempo constantemente. Às vezes ficam com aquela previsão de três dias atrás na cabeça e não olham mais. O comportamento da atmosfera é muito dinâmico. Uma previsão nova anula a anterior", alerta Raquel.

Nas imagens do radar do Sumaré, que são divulgadas para a população, as cores significam a quantidade de água dentro das nuvens. As cores laranja, vermelha e rosa indicam progressivamente as nuvens mais carregadas.