Familiares estiveram no IML do Centro do Rio para reconhecimento do corpo da Aline Silva, morta pelo ex-marido na frente do filho. Na foto: irmão da Aline, Luzias Costa da Silva (blusa rosa listrada)Pedro Ivo

Rio - O menino de oito anos, fruto do casamento de Aline Oliveira Silva, de 41 anos, e Marcius dos Reis Resener de Oliveira, presenciou o pai atirar duas vezes contra a mãe, na tarde de sexta-feira (5), na frente da escola onde estudava. Segundo o próprio garoto relatou a familiares, Marcius apareceu na frente do colégio encapuzado e, ao ver mãe e filho indo embora, atirou contra a ex-companheira. Aline tentou ainda abraçar o filho para protegê-lo dos disparos. Bastante alterado, o assassino puxou o menino e, antes de fugir com ele, retornou e atirou na cabeça de Aline.
O irmão da vítima, Luzias Costa da Silva Júnior, foi ao Instituto Médico Legal (IML) do Centro para liberar o corpo, na manhã deste sábado (6). Ainda sem acreditar no crime, Luzias disse que o sobrinho contou em detalhes o que presenciou e chegou a pedir ao pai que não atirasse novamente. "Ele ainda não sabe que ela está morta, mas ele viu o Marcius atirar nas costas dela. Ele contou também que viu uma mulher avisando ao pai que ela [Aline] não estava morta. 'Vai lá e atira de novo', disse essa mulher para o Marcius. Ele foi lá e atirou de novo, segurando a mãe do menino com a outra mão", contou. Ainda segundo o irmã, câmeras de segurança da região podem comprovar o relato.
O ex-casal estava em disputa judicial para conseguir a guarda da criança e, desde 18 de fevereiro, a guarda foi concedida para Aline. A decisão não agradou Marcius, que passou a ameaçá-la. Temendo pela vida, a vítima tentou medidas protetivas na Justiça, mas as solicitações foram negadas.
O último pedido feito pelos advogados, em 23 de março deste ano, foi negado pelo 2º Juizado de Violência Doméstica de Bangu. Marcius também teve dois pedidos de prisão negados. Ele foi descrito como uma pessoa extremamente possessiva e ciumenta e tinha "muito ciúme da família de Aline, de amigos e irmãos da igreja".
"A gente fica com a sensação de impunidade. É uma história que já vem se arrastando há anos e eu acompanhei de perto. As ameaças não paravam, e ele sempre conseguia se 'safar', ele tentou inverter a situação se colocando como a vítima e conseguia", lembrou o irmão de Aline.
Luzias conta ainda que, após a separação do casal, a irmã nunca resistiu em compartilhar a guarda, mas Marcius não aceitou e sumiu por cerca de um ano e meio com a criança. "Teve uma época também que ele manteve a Aline em cativeiro, ela foi espancada, estuprada e foi incentivada a se matar. A mãe do Marcius ajudou ela a fugir, na época", diz.
Morte poderia ter sido evitada, diz irmão
A família de Aline acredita que a morte dela poderia ter sido evitada. "As denúncias não configuravam ameaças, mesmo a gente tendo todas as provas, isso mostra a ineficiência da justiça. Nada foi feito, até chegar no ponto que chegou. Somos uma família simples, sem recursos. Se tivéssemos dinheiro esconderíamos ela em algum lugar, porque as ameaças eram constantes. A mãe dele é advogada criminal e eu sei que ela mexeu os pauzinhos para livrá-lo outras vezes", desabafa Luzias, que espera que Marcius seja condenado pelo crime. "A lei é branda e sabemos que ele pode sair, mas que fique preso o máximo que puder", concluiu.
Marcius foi preso horas do crime pela Polícia Militar. Segundo o 14° BPM (Bangu), agentes localizaram o homem, que estava tentando fugir para a Favela do Rebu, em Senador Camará. A criança também foi resgatada e conversou com agentes do Conselho Tutelar da Barra da Tijuca na sexta-feira (5). O menino está sob os cuidados da família materna até o momento.
Marcius foi encaminhado ao sistema prisional e aguarda audiência de custódia. A Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) investiga o crime e busca imagens das câmeras de segurança do local do crime.
Segundo a família, Aline deve ser enterrada no domingo (7), no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, na Zona Oeste do Rio.
*Colaborou Pedro Ivo