Santuário de Nossa Senhora de Fátima, no Recreio, recebeu centenas de fiéisCléber Mendes/Agência O DIA
Celebrações para Nossa Senhora de Fátima e pelo Dia dos Pretos-Velhos lotam igrejas e terreiros
Movimentação foi bastante intensa nos santuários do Recreio e do Centro; umbandistas reverenciaram a data com giras e feijoadas
Rio - O sábado (13) foi de grande movimentação nas igrejas e terreiros de umbanda da cidade do Rio. Enquanto católicos celebraram Nossa Senhora de Fátima, umbandistas comemoraram o Dia dos Pretos-Velhos – mesma data em que ocorreu a Abolição da Escravatura no Brasil, em 1888. No santuário do Recreio dos Bandeirantes, a programação começou às 7h, com a oração do terço, e seguiu com diversas missas. Já para os seguidores da religião de matriz africana, a reverência foi feita cultos, feijoada e muita música.
Luciana Ramalho, de 45 anos, levou o filho de 5 anos vestido de anjinho até o santuário na Zona Oeste. "Foi uma promessa que fiz quando ele nasceu. Promessa a gente não pode falar muito, mas desde o primeiro aninho nós vamos, no dia 13 de maio, assistir à missa com ele vestido de assim. Eu e meu filho somos do Brasil, mas nossa família é portuguesa, meu pai é português, por isso nossa devoção", disse a gerencia comercial.
De acordo com a tradição católica, a primeira aparição de Nossa Senhora aconteceu a três pastorinhos, na cidade de Fátima, em Portugal, no ano de 1917. As manifestações seguintes se deram no dia 13 de seis meses seguidos. Lucia, Francisco e Jacinta responderam de forma positiva aos apelos da Virgem, que pedia orações, penitência e conversão. Desde então, o calendário dos devotos é fortemente marcado pela data.
Já na tradição da umbanda, que nasceu em 1908, em São Gonçalo, os pretos-velhos são espíritos escravizados que voltam à Terra para ajudar as pessoas. Chamados de "vovô" e "vovó", muitos foram submetidos a castigos, trabalhos físicos e humilhações, e tornaram-se espíritos evoluídos, que hoje auxiliam todos que precisam de ajuda. Nos terreiros, umbandistas fazem os preparativos, tradicionalmente compostos por giras e itens oferecidos para as entidades.
No Grupo de Irradiação Espiritual Francisco de Assis (Giefa), em Campo Grande, Zona Oeste do Rio, liderado pelo babalorixá Neucimar Souza, foi servida feijoada, repleta de caridade. "Nós costumamos festejar com uma gira em homenagem a todos pretos e pretas-velhas e servimos uma feijoada, que é uma comida que essas entidades faziam para se alimentar com todas as sobras dos senhores do período colonial, como vísceras, pés e orelhas dos animais. É um símbolo que até hoje cultuamos e, a partir dele, tentamos oferecer a nossa energia positiva e a nossa vibração", contou.
"O dia 13 de maio marca a visão geral da umbanda e o sincretismo com a Nossa Senhora de Fátima, que é o dia da Abolição da Escravatura. Os pretos-velhos têm uma grande representatividade por sua simplicidade, humildade e caridade. São por esses espíritos, que voltam até o plano terrestre para nos dar apoio, consolo e tranquilidade, que dedicamos o nosso dia. É pela sabedoria de terem passado por um cativeiro e, ainda assim, terem se tornado espíritos evoluídos", completou o responsável pelo Giefa.
Na Zona Norte, o tradicional Renascença Clube, reconhecido como quilombo urbano por sua luta antirracista e valorização da cultura afro-brasileira, também celebrou a data com feijoada. Na sequência, houve uma homenagem pelos 50 anos da montagem do espetáculo "Orfeu Negro" no local.
Fiéis fazem peregrinação
A devoção à Nossa Senhora se manifesta, na Igreja Católica, sob os mais diversos títulos. São inúmeras representações atribuídas à Virgem Maria. Segundo os preceitos da comunidade Canção Nova, houve aparições de Nossa Senhora em muitos países e, a partir destas, surgiram os demais títulos, a maioria com origem na devoção popular. Partindo deste princípio, o responsável pela pastoral de eventos da Paróquia Nossa senhora da Conceição, na Tijuca, Pablo Barbosa, levou 44 fiéis para acompanhar os festejos no santuário, no Recreio.
"Nossa paróquia é de Nossa Senhora também. Ela é uma só, com diversas denominações. Como somos de uma paróquia mariana, nosso grupo resolveu prestar essa homenagem e participar desse momento de fé, vivência e espiritualidade. Nós saimos da Tijuca às 8h30 e iniciamos a peregrinação, participamos da celebração no Santuário de Nossa Senhora de Fátima e seguimos para o Santuário da Mãe Rainha em Vargem Grande", completou.
No Cadeg, em Benfica, também houve uma procissão em homenagem à Nossa Senhora de Fátima na ala principal do mercado. Outro local que registro intensa movimentação durante o dia inteiro foi no santuário decicado à Nossa Senhora, na Rua do Riachuelo, no Centro, onde houve diversas missas.
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