Ingrid Ramos Ferreira, de 41 anosArquivo pessoal
Clínica onde mulher morreu em procedimento não tinha licença da Vigilância Sanitária
Perícia encontrou série de irregularidades no estabelecimento, que foi interditado. Médica relatou que Ingrid Ramos Ferreira, 41, sofreu convulsão após aplicação de anestesia
Rio - A clínica estética onde Ingrid Ramos Ferreira, de 41 anos, morreu durante um procedimento, não tinha licença para funcionar. O estabelecimento passou por um perícia da Polícia Civil e acabou interditado pelo Instituto Municipal de Vigilância Sanitária (Ivisa), após uma série de irregularidades serem encontradas. A sala comercial fica na Avenida Olegário Maciel, na Barra da Tijuca, Zona Oeste, onde, nesta quinta-feira (15), a mulher passou por uma reparação da abdominoplastia feita no ano passado, mas acabou sofrendo complicações e não resistiu.
Segundo o delegado Ângelo Lages, titular da 16ª DP (Barra da Tijuca), que investiga o caso, além da falta de licença da Vigilância Sanitária, na clínica também foram encontrados medicamentos fora da validade e materiais para cirurgias, que não poderiam ser usados, já que o estabelecimento não tem autorização para realizar procedimentos cirúrgicos. O Ivisa também encontrou tubos de coleta de sangue vencidos; próteses mamárias com indício de reutilização; e autoclave sem o correto fluxo para a esterialização.
A dona da clínica e médica que realizou o procedimento em Ingrid, Eliana Maria Jimenez Diaz, foi autuada e o estabelecimento interditado, depois da inspeção. De acordo com o Instituto Municipal de Vigilância Sanitária, no ano passado, o local já havia sido multado por falta de licenciamento. O Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) abriu uma sindicância para apurar o caso.
Em depoimento na distrital nesta sexta-feira (16), a médica relatou que o procedimento era para a retirada de uma queloide na região do abdômen e que não precisava ser realizado em um centro cirúrgico. Eliana contou que utilizou 15 miligramas da substância Dormonid Maleato de Midazolam - usado para o tratamento de curta duração da insônia -, e uma solução anestésica com lidocaína e um pouco de adrenalina. Logo depois da aplicação da anestesia, Ingrid teve uma convulsão, que durou entre três e quatro minutos.
Ainda segundo a oitiva, Eliana precisou desobstruir as vias aéreas da paciente, mas ela passou a espumar pela boca e contrair o corpo. A médica chegou a perguntar para o filho da vítima, que a acompanhava, se a mãe tinha intolerância a alguma substância usada e pediu que outros pacientes acionassem o Serviço de Antedimento Móvel de Urgência (SAMU). Pouco depois, Ingrid começou a perder pulsação e a cirurgiã fez manobras de ressuscitação, que também foram realizadas pelo médicos do Samu, mas eles não conseguiram reverter o quadro e a mulher acabou morrendo.
A 16ª DP aguarda o laudo do exame do Instituto Médico Legal (IML) para definir a causa da morte e diligências estão em andamento para esclarecer os fatos. Ingrid era natural da Bahia e, atualmente, morava na Pavuna, Zona Norte. A vítima deixa um filho de 14 anos, que a acompanhou no procedimento, e outra de 22, que está grávida de oito meses. O corpo da mulher foi sepultado neste sábado (17), no Cemitério de Mesquita, na Baixada Fluminense.
Família acredita em erro médico
A família acredita que a morte de Ingrid tenha sido provocada por erro médico e, de acordo com o irmão Ícaro Ramos Ferreira, 33, o estabelecimento era inadequado para a realização do procedimento. "Para mim aquilo ali era um açougue, não era uma clínica. Só Deus sabe a dor que eu estou sentindo (...) Essa clínica é um 'hotelzinho', parecendo uma quitinete, é uma sala pequenina", afirmou ele, que gravou um vídeo no momento em que chegou ao local. Nas imagens, uma pessoa fala que a vítima sofreu uma reação alérgica a anestesia.
"Para mim a médica não falou nada, ela não conseguia nem abrir a boca, estava muito abalada. Lá, tinha remédio fora da validade, o que poderia ter causado isso. Assim que chegamos percebemos que era um lugar inadequado. Nós saímos de lá 2h", relatou Ícaro. Cunhada da mulher, Juliana Guedes contou que ela havia feito uma abdominoplastia no ano passado, também com Eliana Maria, e voltou outras vezes porque o procedimento não ficou bom.
"Na primeira vez, demorou a cicatrizar. Depois, ela fez uma lipo nas costas e, agora, ela voltou porque não estava como ela queria, a médica falou que não precisava ir no hospital. Ela pagou esse procedimento há um ano e, como não foi feito de forma correta, ela pediu que fosse reparado um erro. A abdominoplastia foi feita em um hospital, a lipo nas costas já foi na clínica, todos os procedimentos foram realizados pela mesma médica", disse.
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