Severina da Silva Nunes, de 69 anos, foi baleada e morta no Morro do Turano, Zona Norte do RioDivulgação
Ao fim das oitivas, o advogado criminalista Gláucio Maciel, que defende a família de dona Severina no processo, acompanhou as quatro testemunhas até à especializada. Para ele, uma das testemunhas disse à polícia que estava sentada na cadeira onde a idosa foi atingida um minuto antes de a tragédia acontecer.
Ainda de acordo com o advogado, não havia operação no momento dos disparos. "Era uma manhã tranquila, não havia operação", diz. Gláucio. "Três casas depois do bar tem a base da UPP do Turano, nesse horário costuma subir viatura para fazer troca de turno, a surpresa para os moradores foi ter ocorrido os disparos", completou.
A defesa da família de dona Severina tenta provar que, ao contrário do que a Polícia Militar alegou na ocorrência, não houve confronto no Morro do Turano. "As testemunhas ainda estão com muito medo, por isso estamos acompanhando todos e dando suporte psicológico. Se não houver testemunha, o caso pode ser arquivado, pode se tornar mais uma estatística", lamentou Gláucio.
Relembre o caso
Dona Severina estava sentada em uma cadeira de plástico tomando café, do lado de fora de um bar, quando foi atingida pelos disparos. Ela chegou a ser socorrida por PMs e levada para o Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro do Rio, mas não resistiu aos ferimentos e morreu.
Késsia da Silva, grávida de oito meses, foi atingida por estilhaços na mesma ação. Ela foi socorrida e levada para a mesma unidade de saúde e liberada horas depois. Ela e o bebê estão bem. Severina era moradora do Morro do Turano, onde vivia com a família. Um dos filhos dela chegou a ver a mãe morta próximo à casa deles, na Rua Joaquim Pizarro, uma das vias de acesso à comunidade. Em vídeos publicados nas redes sociais, moradores aparecem desesperados ao identificar que a mulher baleada na ação era a idosa.
Um outro vídeo mostra as marcas de tiros no telhado e na cadeira do bar onde a idosa estava. Veja imagens:
Isso é uma absurdo, uma covardia que a @PMERJ fez no Turano
— César M¹² (@cesarcorreia96) June 15, 2023
Uma senhora e uma grávida, não teve confronto, foi execução. pic.twitter.com/YbJ0hWRnfc
Carinhosamente apelidada de Milonha pelos vizinhos, Severina era considerada a alegria da família e a tia favorita dos sobrinhos. O corpo da idosa foi sepultado no último dia 17, no Cemitério de São Francisco Xavier, no Caju.
Investigação
A Polícia Militar instaurou um procedimento na Corregedoria Geral da corporação para apurar as circunstâncias da ação. Os agentes também tiveram as armas apreendidas para perícia, mas continuam atuando em serviços administrativos.
De acordo com a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), responsável pelas investigações, os policiais da UPP envolvidos na ação foram ouvidos na especializada e diligências estão em andamento.
A Comissão de Direitos Humanos e Assistência Jurídica (CDHAJ) da OABRJ recebeu, na tarde da última segunda-feira (19), familiares de dona Severina. Participaram do encontro os procuradores Rodrigo Mondego, Mariana Rodrigues, Leonardo Guedes e a integrante da comissão Patrícia Félix.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.