Polícia Civil investiga idoso por injúria racial contra um segurança de restaurante em IpanemaReprodução / Redes Sociais

Rio - A defesa do idoso Aloysio Augusto da Costa, de 83 anos, suspeito de cometer injúria racial contra o segurança de um restaurante em Ipanema, na Zona Sul do Rio, apresentou uma petição na 14ª DP (Leblon) pedindo para que a vítima do processo fosse investigada por injúria. De acordo com o documento encaminhado à distrital na quarta-feira (21), ao qual o DIA teve acesso, o advogado do aposentado alega que Lucas Rodrigues Neves xingou o seu cliente de "filho da p*", após Aloysio chamar o rapaz de "neguinho" e dizer que ele estava "favelizando" a calçada.
Na petição, a defesa também diz que os vídeos da discussão que circulam nas redes sociais cortam o momento em que Lucas faz o xingamento. "Lucas ofende a honra do requerente de forma intencional e agressiva", diz em um trecho do texto.

Ralph Hage, advogado do segurança do restaurante, informou que a defesa vai responder nos autos do procedimento policial às alegações da defesa do idoso. Hage esclarece que o Código Penal prevê a isenção de pena "àquele que é provocado, de forma reprovável, pelo suposto ofendido". "Em suma, não é a reação do Lucas que a Lei procura punir ou inibir, e sim a do Sr. Aloysio", rebate o advogado de Lucas.

Filho de idoso prestou depoimento

O filho de Aloysio, Bernardo Augusto da Costa, de 43 anos, foi ouvido na 14ª DP (Leblon), na quarta-feira (21). Na oitiva, Bernardo afirmou que, ao ir até o restaurante conversar com o gerente, para entender o motivo da confusão, foi intimidado por pessoas, entre elas funcionários e clientes do restaurante, com ofensas de forma agressiva. Ele disse ainda que precisou se retirar do local para "não ser agredido fisicamente".

Bernardo citou também as condições físicas e mentais do pai. Segundo o filho, Aloysio perdeu a visão total de um olho e enxerga parcialmente do outro, tem dificuldade de caminhar e está em um processo de demência.

Este diagnóstico também foi apresentado pela defesa do aposentado no último dia 14. No laudo, um médico afirma que Aloysio foi diagnosticado preliminarmente com demência e Alzheimer e, por isso, não tem condição para depor.

Ainda de acordo com o documento médico, os problemas de saúde comprometem a "capacidade de julgamento e tomada de decisões referentes aos atos da vida civil".
Também nesta semana, a 14ª DP ouviu novamente o segurança, dois garçons e uma cliente que presenciaram a discussão. Em depoimento, na segunda-feira (19), a cliente do restaurante e um dos garçons afirmaram que presenciaram o idoso ofendendo o segurança com o termo racista. A cliente disse aos policiais que ouviu o xingamento e que foi para a área externa tentar acalmar Lucas. Ao chegar perto do segurança, viu que ele estava chorando após a briga. Cerca de cinco minutos depois, o filho de Aloysio foi até o restaurante para pedir ao gerente do estabelecimento que retirasse o segurança da calçada. Outras testemunhas, então, começaram a chamar o filho do idoso de racista, que retrucou, segundo testemunha, da seguinte forma: "Por que eu sou racista? Porque ele é neguinho?".

Relembre o caso

Aloysio, que mora em frente ao estabelecimento em que Lucas Rodrigues Neves trabalha, reclama, há meses, de um banco colocado próximo ao prédio, para que o segurança visualize melhor o entorno do restaurante. Em uma das ocasiões, o idoso foi filmado chamando Lucas de "neguinho". Aloysio disse, ainda, que o funcionário estava "favelizando" a calçada.

Em outro vídeo, o filho do idoso, também morador, aparece reclamando da presença de Lucas enquanto pedestres reprovam a atitude do homem, o chamando de racista.

Em nota, o restaurante Babbo Osteria afirmou que não tolera qualquer tipo de atitude preconceituosa e que no dia 15 de maio e 11 de junho foram feitos registros de ocorrência, "ambos denunciando atitudes racistas contra um de nossos colaboradores por parte de um vizinho".

O estabelecimento informou, ainda, que está tomando todas as medidas cabíveis para proteger e apoiar o funcionário. "Somos um restaurante que preza pelo respeito e não admitimos qualquer ato de preconceito na casa", finaliza a nota.

O chef do restaurante, Elia Schramm, disse que está dando todo o apoio necessário a Lucas. "Estamos cuidando para que ele tenha justiça e amparo emocional nesse momento, que é o mais importante", disse.