Pedro Ricardo Conceição da Rocha, o King, de 19 anos, é suspeito de criar grupos no Discord para cometer crimesReprodução
Polícia identifica duas vítimas de grupo do Discord que praticava estupro virtual
Ambas tiveram envolvimento com Pedro Ricardo Conceição da Rocha, o King, de 19 anos, preso nesta terça-feira (4)
Rio - A Polícia Civil identificou, no Rio de Janeiro, duas adolescentes que foram vítimas de Pedro Ricardo Conceição da Rocha, o King, de 19 anos, apontado como criador do principal grupo do Discord, plataforma onde membros praticavam estupros virtuais, e induziam à automutilação e ao suicídio de crianças e adolescentes. Ele foi preso na terça-feira (4) em Teresópolis, na Região Serrana.
De acordo com o delegado Luiz Henrique Marques, titular da Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (DCAV), o grupo possui dezenas de vítimas identificadas, porém somente duas delas são do Rio, até o momento.
"O grupo tem ramificação no Brasil todo, não só no Rio de Janeiro, e dezenas de vítimas identificadas. No Rio, em relação ao King, temos duas vítimas, uma já ouvida e outra que será ouvida ainda essa semana", afirmou.
King foi preso na segunda fase da Operação Dark Room, que teve como objetivo o cumprimento de três mandados de busca e apreensão e um de prisão nas cidades de Cachoeiras de Macacu, na Região Metropolitana, e Teresópolis, na Região Serrana. O criador do principal grupo foi flagrado escondido na casa de sua avó.
Além dele, dois adolescentes de 14 e 17 anos foram apreendidos na primeira fase da operação. Segundo o delegado, há centenas de suspeitos em todo o Brasil, incluindo adultos e adolescentes.
"Parte [dos suspeitos] já foram identificados e parte ainda está sendo, por todos os estados. A qualquer momento poderão surgir novas prisões, tanto no Rio de Janeiro como em outros estados", expôs.
A plataforma Discord é um aplicativo de comunicação com suporte a mensagens de texto, voz, chamadas de vídeo e entre outros, concebido inicialmente para a comunidade gamer, mas que acabou se popularizando entre os jovens e adolescentes para outros fins, onde usuários com interesses comuns se reúnem em grupos do aplicativo, chamados de 'servers' (servidores).
Três servidores da plataforma eram utilizados por um mesmo grupo de jovens e adolescentes de várias regiões do país para cometerem atos de extrema violência contra animais e adolescentes, além de divulgarem pedofilia, zoofilia e fazerem apologia aberta ao racismo, nazismo e a misoginia.
Vídeos publicados na plataforma, e obtidos durante a investigação, mostravam ainda mutilações e sacrifícios de animais como parte de desafios impostos pelos criadores e administradores dos servidores como condição para membros ganharem cargos na comunidade, o que se traduzia principalmente em permissões e acesso às funções dentro do grupo. A maioria dessas ações era transmitida ao vivo em chamadas de vídeo para os integrantes dos servidores.
Vítimas em todo o Brasil
Além disso, adolescentes também foram chantageadas e constrangidas a se tornarem escravas sexuais dos líderes para que cometessem os estupros virtuais que eram transmitidos ao vivo por meio de chamada de vídeo para todos os integrantes do servidor. Durante a sessão, as vítimas eram xingadas, humilhadas e obrigadas a se automutilar. Ao comando do seu “Deus” ou “dono” faziam cortes com navalha nos braços, pernas, seios, genitália e tudo mais que ele mandasse fazer. Muitos espectadores riam e vibravam com a crueldade, uma prática conhecida como “LULZ” (trolar e rir do sofrimento alheio).
Tais vítimas, de várias regiões do Brasil, eram escolhidas no próprio Discord, em perfis abertos das redes sociais ou até mesmo indicadas por integrantes do grupo. Utilizando engenharia social e pesquisas em sites de bancos de dados e consulta de crédito, os líderes obtinham informações pessoais delas, numa prática conhecida como “DOX”. A partir daí iniciavam uma série de chantagens afirmando que possuíam fotos comprometedoras que seriam vazadas ou enviadas para os pais, caso não se rendessem às ordens. Na maioria das vezes estavam blefando.
Grupos públicos nas redes sociais eram criados posteriormente para publicar os vídeos e expor as vítimas dos estupros virtuais, numa prática conhecida como “exposed”.
As investigações iniciaram em março deste ano após o compartilhamento de dados de inteligência com a Polícia Federal e delegacias de diversos estados do país. Os adolescente alvos da operação são acusados de associação criminosa; induzimento, instigação ou auxílio a suicídio e estupro. Desde Abril, mais de 10 pessoas foram presas/apreendidas pela Polícia Federal e Polícias Civis dos estados.
O que as vítimas devem fazer
Para o delegado da Dcav, os pais devem ficar atentos aos seus filhos e ao que eles fazem na internet. "Os pais devem conversar com seus filhos para saber se foram vítimas. E procurar a delegacia mais próxima se confirmar terem sido vítimas do grupo", explicou.
As denúncias podem ser feitas na delegacia e também pela central de atendimento Disque-Denúncia, pelos telefones (21) 2253 1177 ou 0300-253-1177 ou pelo WhatsApp (21) 2253-1177.
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