Waelinton Gonçalves dos Santos ficou preso 50 dias por um crime que teria sido cometido pelo irmão Reprodução/Redes sociais

Rio - Preso há 50 dias por causa de crimes que teriam sido cometidos pelo irmão, o operário da construção civil Waelinton Gonçalves dos Santos, de 33 anos, foi solto no início da tarde desta quarta-feira (5). Mesmo em liberdade, o operário continua respondendo por roubo, tentativa de roubo, porte ilegal de arma e homicídio, todos praticados no Rio Grande do Norte. A defesa tenta provar no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte e do Rio que o verdadeiro autor dos crimes é Vando Gonçalves dos Santos, morador de Natal.
Já do lado de fora da cadeia pública Tiago Teles de Castro Domingues, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, onde estava preso desde o dia 16 de maio, Waelinton reencontrou a mulher, as duas filhas menores e o cunhado. Emocionado, ele contou que neste momento pensa apenas em descansar em casa, ao lado da família.
O alvará de soltura do operário foi expedido na noite de terça-feira (4), após a Justiça do Rio receber do Rio Grande do Norte as decisões judiciais. de acordo com Diego Moreira Saldanha, advogado que defende o operário, o caso tem um alto grau de dificuldade devido o caso tramitar no Rio Grande do Norte.
"As ações penais continuam e temos agora que provar uma vez de todas que ele é inocente. Já apresentamos defesas preliminares em dois processos. E vamos interpor uma revisão criminal nos próximos dia", disse o advogado.
Waelinton teve a prisão substituída por quatro medidas cautelares: comparecimento obrigatório em juízo a cada 30 dias; proibição de manter contato ou se aproximar das vítimas, ou pessoas relacionadas aos delitos imputados, e a proibição de ausentar-se da Comarca do Rio de Janeiro, onde mantém domicílio, até revogação da medida.
Entenda o caso
Em maio, após a prisão do operário, a família descobriu que ele estava respondendo por crimes cometidos entre outubro de 2014 e agosto de 2015, todos em tramitação no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte (TJRN). A defesa apresentou provas à Justiça que podem comprovar a inocência dele em todos os casos.
O primeiro crime trata-se de um roubo a uma farmácia em Natal, ocorrido em outubro de 2014. O suspeito que se apresentou como Waelinton ficou sete meses e quatro dias preso, sendo solto em maio de 2015. Pouco antes, em janeiro do mesmo ano, o operário se mudou para o Rio com a mulher. Em fevereiro de 2015, Waelinton estava trabalhando de carteira assinada em uma empresa de construção, também no Rio.
O segundo processo foi registrado no dia 24 de julho de 2015, por tentativa de roubo e posse ilegal de arma. O advogado do preso também apresentou provas que mostram que dez dias antes desse crime Waelinton havia mudado de emprego, também de carteira assinada, em uma empresa com sede em São Conrado, na Zona Oeste do Rio.
Em busca por informações dessa ocorrência, a defesa dele descobriu que nesse crime o homem que disse chamar Waelinton foi baleado, passou por uma cirurgia na barriga e depois fugiu do hospital sem ser formalmente identificado. "Juntamos aos autos do processo fotos recentes do rapaz que demonstram não possuir qualquer cicatriz na região da barriga, além de ter carteira de trabalho assinada. O próprio Ministério Público reconheceu a possibilidade de que o rapaz não estivesse no Rio Grande à época dos fatos", afirmou o advogado.
No dia 28 de agosto, mais um crime, dessa vez um homicídio no Rio Grande do Norte, foi imputado ao operário. Dois dias antes, Waelinton havia se casado no cartório com Michele, no Rio. "Como uma pessoa que tinha acabado de casar, estava em lua de mel, saiu do Rio de Janeiro e matou uma pessoa? Como uma pessoa que foi baleada no dia 24 de Julho de 2015 e passou por uma cirurgia, estava em nova empresa no Rio de Janeiro onze dias depois? O próprio delegado no inquérito policial fez essa pergunta", disse o defensor.
Ainda de acordo com o advogado, a defesa já conseguiu com o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) dois alvarás de soltura. Porém, há ainda outros dois processos em andamento na Justiça do Rio Grande do Norte.
"Fico me perguntando como o estado consegue errar desta forma? Como a polícia, o Ministério Público e o Poder Judiciário conseguem fechar os olhos para tanta ilegalidade? O erro começou no inquérito policial e, embora tivesse materialidade de crime, foram incapazes de identificar o verdadeiro autor dos fatos e um abismo foi chamando outro abismo. A polícia foi incapaz de promover um inquérito sem vícios, o Ministério Público ofereceu denúncia e o juiz recebeu", criticou Diego Saldanha.
O que diz o Tribunal de Justiça RN
Segundo o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, a 8ª Vara Criminal de Natal concedeu liberdade provisória a Waelinton no dia 23 de junho, expedindo o alvará de soltura, a ser cumprido pela Justiça do RJ, por meio de carta precatória, a qual foi expedida no dia 27. O alvará foi cumprido oito dias depois da expedição.
Já a 2ª Vara Criminal de Natal revogou a prisão preventiva no dia 27 de junho e expediu o alvará de soltura na mesma data.