Crime bárbaro que chocou o Brasil e repercutiu no mundo todo foi no Estácio, em 2018; Suel (detalhe), um dos acusados, rodou na segunda divulgação

Rio - Em sua delação premiada, o ex-policial militar Élcio de Queiroz citou mais um homem que teria participado do plano de execução da vereadora Marielle Franco. Trata-se de Edmilson Oliveira da Silva, o 'Macalé', que por sua vez foi executado em 2021. No interrogatório, Élcio afirma que o homem participou da vigilância de Marielle e que partiu dele o contato com Ronnie Lessa encomendando o assassinato.

Élcio acrescenta que Maxwell e Macalé tinham conhecimento de que Marielle seria o alvo de Ronnie Lessa e que a estavam monitorando a vítima desde, pelo menos, os últimos meses de 2017.

O trio já havia tentado realizar a execução enquanto a vereadora estava em um táxi na Tijuca. Na ocasião, Macalé cumpria a função de fazer a 'contenção'. Ele ficava no banco de trás do carro armado com uma AK47. Maxwell conduzia o carro e Ronnie realizaria a execução. Mas na ocasião, segundo Ronnie teria contado a Élcio, o motorista desistiu da ação, alegando problemas no carro. 

"Edmilson Macalé esteve presente em todas; inclusive foi através do Edmilson que trouxe... vamos dizer, esse trabalho pra eles. Essa missão pra eles foi através do Macalé, que chegou até o Ronnie", afirmou no depoimento à PF.

Nesse sentido, Macalé pode ser um personagem intermediário entre o mandante do crime e o executor, Ronnie Lessa.

Segundo o MP, Maxwell, preso na operação de segunda-feira (24) teria ajustado com o executor e com "Macalé", prestado auxílio moral e material em atos preparatórios e também, se desfazendo de provas do crime.

A investigação do novo suspeito, no entanto, ficou prejudicada pelo lapso de cinco anos, desde o crime, ocorrido em 14 de marçio de 2018. As companhias telefônicas, por exemplo, não precisam mais registrar os dados do cliente passado o período.

Chamadas entre Lessa e Macalé

No histórico de chamadas da linha usada por Lessa no início de 2018 constam nove registros de chamadas para Macalé em seis datas diferentes, todas antes do crime. Segundo o relatório da PF, os dois eram próximos: "O número pode não parecer expressivo fora de contexto, porém são unísonos os relatos de que Lessa raramente falava ao telefone. Outro fato, portanto, que constitui prova da relação entre Lessa e Macalé no período em que, segundo Élcio Queiroz, engendravam a execução da vereadora Marielle Franco", diz trecho do relatório da Polícia Federal.
A Polícia Federal (PF) e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) prenderam, na segunda-feira, o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, no âmbito das investigações sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, além da tentativa de homicídio da assessora Fernanda Chaves. O ex-militar, preso na sua casa, no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio, já havia sido condenado por atrapalhar as investigações, mas cumpria a pena em regime aberto.
A Operação Élpis é a primeira fase da investigação conduzida pela Polícia Federal e pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. Além da prisão de Suel, os agentes também cumpriram seis mandados de busca e apreensão na cidade do Rio e na Região Metropolitana. Na casa do ex-bombeiro, foram apreendidos armas, celulares e outros bens.
Na decisão do juízo da 4ª Vara Criminal da Capital, que determinou a prisão de Suel, é citada sua ligação com Ronnie Lessa, um dos presos sob acusação de participação na morte de Marielle. O ex-bombeiro teria ajudado a monitorar os passos da vereadora e participado, um dia após o crime, da troca de placas do Cobalt, carro usado no assassinato, e se desfeito das cápsulas e munições utilizadas na execução, assim como providenciado o desmanche do veículo.
A operação foi realizada após delação premiada de Élcio de Queiroz, outro preso por envolvimento na morte de Marielle, que revelou a participação de Suel nos planos de Lessa para assassinar a vereadora. Segundo o delator, Maxwell participou da manutenção e guarda do carro, da vigilância da vereadora e, após o crime, auxilia os executores a trocar as placas do veículo, a contatar a pessoa responsável a se desfazer do carro. Ele também auxiliava na defesa dos acusados, fora outras questões, como o auxílio a se desfazer das armas.
Isso demonstra que, em liberdade, ele continuaria a se desfazer de provas. Foi o que constou no pedido acolhido pelo Judiciário", informou o promotor de Justiça Eduardo Martins ao detalhar os motivos do pedido de prisão.
No dia 10 de junho de 2020, Suel foi preso, acusado de obstruir as investigações sobre a execução de Marielle e Anderson. Na época, a promotora do MPRJ Simone Sibilio, que respondia pela investigação do caso no órgão, afirmou que o ex-bombeiro era o proprietário do carro usado para ocultar um arsenal de Lessa.
Em coletiva de imprensa concedida na segunda-feira, o ministro da Justiça Flávio Dino revelou que a delação de Élcio foi feita há cerca de vinte dias. Ele afirmou que nas próximas semanas haveria outras operações em decorrência das provas colhidas na segunda-feira durante a operação da PF com o MPRJ. Ele ressaltou que não existe crime perfeito e que as provas indicam que há outras pessoas envolvidas no crime.