Rio – Sabe o TikTok, a rede social que "bomba" principalmente entre jovens do mundo inteiro? Pois é, ele agora também está sendo usado como ferramenta de educação em escolas públicas do Rio. A iniciativa é da MultiRio (Empresa Municipal de Multimeios da Prefeitura), que acaba de entrar na "dança" favorita das gerações Z (nascidos entre 1995 e 2010) e Alpha (a partir de 2010) para levar, através de uma linguagem divertida, conteúdos para estudantes do Ensino Fundamental (8º e 9º anos) e da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da rede.
Lançado neste mês, o perfil @multirio_oficial aposta na participação de alunos como "tiktokers" (termo que define quem gera conteúdo) e, ainda, em personagens criados pela Secretaria Municipal de Educação (SME), em conjunto com a MultiRio, para o Rioeduca, programa de videoaulas para TV.
Após o período de férias, as postagens deverão ser diárias, trazendo curiosidades, além de dicas de matemática e língua portuguesa no formato de pequenas pílulas, apresentadas por professores da rede. Mas a "dancinha", característica principal do TikTok, não será deixada de lado: a conta já tem uma animação que ensina passinho de funk.
Todo o conteúdo é elaborado em conjunto com professores municipais. Eventualmente, os alunos irão até o estúdio da MultiRio filmar, mas as gravações também podem acontecer nas escolas. O objetivo é estar cada vez mais próximo do público-alvo, formado por pré-adolescentes e jovens.
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O vídeo inaugural do perfil foi feito no pátio da Escola Municipal Orlando Villas Boas, na região central do Rio. A gravação usou uma tirolesa para "sobrevoar" o espaço, filmando os jovens enquanto vibravam.
Cristina Stellitano, diretora da escola há mais de 40 anos, conta que os alunos adoraram a novidade e a participação no conteúdo: "Foi perguntado em algumas turmas finais da escola quem gostaria de participar de uma filmagem, sem falar que era para o TikTok. Eles só souberam na hora e ficaram doidinhos, adoraram, amaram. No dia seguinte já estavam perguntando quando seria postado", detalha, aos risos. "Essa garotada adora um TikTok, e quando veio a notícia de que a MultiRio abriria um canal, pediram logo o nome", completa a diretora.
Foi o caso da estudante Rita Emanuelle Stuart Machado Ramos, de 12 anos, que não apenas seguiu o perfil de imediato, como o enviou para toda a família acompanhar também. "Eu amei demais me ver no vídeo. Agora será muito mais legal aprender", diz, empolgada.
Yohana Costa Meneses, 13, comemorou a gravação com os colegas: "Eu achei muito legal e divertido, e acho importante este perfil, porque o TikTok agora é uma das plataformas mais usadas, e é bom a MultiRio ter uma representatividade. Os jovens amam muito as redes sociais, ficamos muitas horas online, então tendo conteúdo de ensino reflete em coisa boa, os vídeos vão aparecer no feed e vamos ver", opina.
O perfil está em fase experimental, um período para a MultiRio entender quais são os temas e assuntos de interesse do público dentro da esfera educacional. A empresa planeja desenvolver conteúdos autorais com os estudantes e também publicar produções dos próprios alunos, um trabalho realizado com as áreas pedagógicas da rede.
Paulo Roberto de Mello Miranda, diretor-presidente da MultiRio, ressalta que a página busca informar com um conteúdo leve e visual atrativo. "A ideia é estar onde os nossos alunos estão, entrar nesta rede social com a linguagem adequada para que o perfil possa interessar e atingir o público."
Algumas pílulas contra a desinformação estão sendo preparadas, com conteúdos que vão direto ao ponto sobre a checagem adequada de informação, para evitar notícias falsas e a importância de procurar fontes confiáveis, com a credibilidade de um canal oficial de um órgão da prefeitura.
"Eles (os alunos) sabem que o conteúdo tem garantia de ser uma informação segura. Queremos ser esse canal, de o aluno saber que é uma publicação feita com critério e com fonte confiável, e usar essa linguagem descontraída e virtual que eles gostam para levar conteúdos que ajudam no processo de ensino", reforça o diretor-presidente do órgão.
A seleção também passa pela curadoria do acervo da MultiRio (mais de 10 mil objetos de mídia e educação), focada em temas que são tendência no momento entre o universo juvenil e que fazem sentido na linguagem do TikTok, lançando mão de registros que fazem parte dos 30 anos do órgão, comemorados em 2023.
Rede preferida entre 9 e 17 anos
A rede social chinesa é a plataforma mais utilizada por crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos, segundo levantamento do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). Apesar do sucesso, ela tem se mostrado falha na segurança dos usuários por disseminar, no feed, conteúdos nocivos e tóxicos - muitos relacionados a transtornos alimentares, por exemplo, e desafios perigosos - por conta de hashtags codificadas usadas por criadores de conteúdo para escapar da moderação do aplicativo.
Para estes casos, a estratégia do perfil da MultiRio é dar dicas e recomendações para o uso saudável das mídias sociais e de jogos, principalmente aqueles que estejam em voga entre os alunos. Conteúdos com orientações sobre cuidados ao publicar e conviver no ambiente digital e como tratar informações dos colegas, para evitar cyberbullying, também estão no script, unindo o lúdico ao trivial.
Estudo recente da agência brasileira Curious sobre o Tiktok revelou que os vídeos curtos são o melhor formato para produzir conteúdo e engajar a audiência. As gravações educativas e tutoriais estão em 2º lugar na lista dos formatos que mais trazem resultado, com 23,4%, perdendo apenas para as danças virais (29,5%). Em seguida vêm o que estiver em alta (19,2%), humor e pegadinhas (15,7%) e dublagem (12,1%).
O aluno Adrian Alexandre Rodrigues de Lima, de 12 anos, também elogia a iniciativa. "Os jovens de hoje em dia gostam de aprender através da tecnologia", diz o estudante do 7º ano da Escola Municipal Orlando Villas-Boas.
A próxima edição da Bienal Internacional do Livro do Rio, que acontecerá em setembro, terá a cobertura de alunos da rede municipal para o canal do TikTok da MultiRio. Trata-se da Andar - Agência de Notícias dos Alunos da Rede -, uma parceria da empresa de mídias com a Subsecretaria de Ensino da Secretaria Municipal de Educação.
A agência reúne iniciativas de jornalismo jovem das escolas (são 11 escolas participantes), elaborando entrevistas, comentários e bate-papos.
Especialista dá dicas para uso sem excessos
Em meio ao uso crescente das redes sociais como forma de entretenimento e até mesmo ferramenta de pesquisa e informação, a neuropedagoga Renata Lavradas, 34 anos, alerta para o cuidado que as novas gerações devem ter com a Internet.
"A tecnologia traz muitos benefícios para a vida de todos, inclusive das crianças e adolescentes, mas o uso excessivo também gera muitas consequências negativas. De acordo com o manual da pediatria, é aconselhado o uso de telas somente a partir de 2 anos, por uma hora ao dia, e, a partir dos 6 anos, o tempo de exposição às telas não pode ultrapassar três horas diárias", diz.
Renata também ressalta para os riscos do uso em excesso. "Deixar a criança no celular por muito tempo sem supervisão pode trazer consequências bastante sérias. Além da exposição a conteúdos que podem ser inapropriados para a idade, a saúde mental da criança que passa muito tempo no celular acaba ficando afetada, pois o sistema de recompensa cerebral é estimulado com conteúdos que trazem um prazer momentâneo, prejudicando as funções executivas e cognitivas e perdendo o controle do impulso e prazer pela aprendizagem fora das telas. Além disso, pode ocasionar atraso na fala, pois inibe o interesse pela socialização, afetar a qualidade do sono, por inibir a produção de melatonina no cérebro, e ocasionar vícios em jogos eletrônicos", avalia Renata.
Crianças e adolescentes ainda precisam de monitoramento, por isso a profissional recomenda aplicativos como o "Google Family Link", que ajuda a estabelecer duração e tipos de conteúdos assistidos: "Não podemos esquecer que os adultos precisam ser os principais exemplos, desconectando-se da Internet e usando o tempo livre com qualidade fora das telas, praticando a leitura, meditação, passeios ao ar livre, brincadeiras e jogos lúdicos para propiciar a socialização e aprendizagens essenciais para o neurodesenvolvimento", finaliza.
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