O caso está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC)Divulgação

Rio - A morte do homem encontrado decapitado, neste domingo (30), no Anil, pode ter relação com a guerra entre tráfico e milícia que ocorre há meses na Zona Oeste do Rio. A Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) segue tentando identificar a vítima.
Segundo relatos nas redes sociais, o homem morava na Gardênia Azul, foi sequestrado por traficantes do Comando Vermelho (CV) e levado para a Cidade de Deus, que tem domínio da facção. No local, ele teria sido torturado e morto.
O corpo da vítima foi deixado decapitado, na noite desde domingo (30), na Estrada de Jacarepaguá, no Anil. Nas imagens recebidas pelo DIA, é possível ver o homem, ainda não identificado, estirado no chão com a cabeça ao lado do corpo e as pernas amarradas.
Agentes do 18º BPM (Jacarepaguá) estiveram no local e acionaram a perícia da DHC. De acordo com a Polícia Civil, a especializada instaurou um inquérito para apurar o homicídio. As diligências seguem em andamento para esclarecer todos os fatos.
Tráfico x milícia
A Zona Oeste do Rio viveu sob forte influência de milicianos durante anos, mas, recentemente, traficantes têm tentado invadir as comunidades da região para expandir seus domínios. Além do Anil, onde o corpo foi encontrado neste domingo (30), a disputa entre os criminosos rivais também acontece na Cidade de Deus, Gardênia Azul, Muzema, Itanhangá, Tirol, Rio das Pedras, Complexo da Covanca e Praça Seca. Na Zona Norte, o conflito ainda ocorre nos Morros do Fubá e Campinho. 
Com recorrentes invasões, o tráfico, comandado por Edgar Alves de Andrade, também conhecido como 'Doca' e 'Urso', um dos líderes do CV na Penha, na Zona Norte, tomou conta das comunidades e expandiu pontos de venda de drogas pela Zona Oeste.
Sob nova liderança criminosa, comerciantes locais tem sido alvo de ameaças. Alguns deles são até mortos, como foi o caso do vendedor de água Ironaldo Salvador de Alcantara, de 51 anos, em março deste ano. De acordo com testemunhas, o motivo do homicídio teria sido a recusa do homem em comprar mercadoria de traficantes que agora comandam a Gardênia.
Um dos principais palcos dessa disputa é a Rua Araticum, no Anil. Na última terça-feira (25), um comerciante foi sequestrado no local. Segundo testemunhas, o homem se recusou a pagar uma taxa ilegal cobrada por criminosos no local. Ele foi levado para a Cidade de Deus e resgatado por policiais militares na comunidade da Covanca, em Jacarepaguá. Conhecida como a Rua da Morte, o local já registrou mais de 15 homicídios em menos de cinco meses.
Morte de Gargalhone
O miliciano Leandro Siqueira de Assis, o Gargalhone, de 46 anos, foi assassinado em maio deste ano, na Barra da Tijuca, ainda na Zona Oeste do Rio. O homicídio pode ter sido motivado por um racha dentro da milícia que atua na região de Jacarepaguá. O corpo do criminoso foi encontrado baleado dentro de um carro abandonado em frente ao Mercado do Produtor, na Avenida Ayrton Senna.
Segundo as investigações, Gargalhone era ex-chefe da milícia da Gardênia Azul e, junto com comparsas, havia se aliado ao Comando Vermelho (CV) para retomar o controle da região. Para o delegado Marcus Vinícius Amim, titular da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), o homem e Philip Motta Pereira, o Lesk, procurado pela polícia, perderam o apoio da milícia aliada e se uniram ao tráfico para retomar o poder.
Leandro integrava a milícia que atuava em especial na região da Gardênia Azul desde 2016, e possuía ligações com o grupo de Wellington da Silva Braga, o Ecko, também da Zona Oeste. Ele e o grupo de Ecko tomaram as regiões da Praça Seca e do Campinho, que eram dominadas pelo miliciano Macaquinho, em janeiro de 2021, pouco antes de ser preso pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas e ao Crime Organizado (Draco) em cumprimento a um mandado de prisão.
Os soldados do grupo paramilitar mais procurado do Rio, com apoio de Gargalhone, invadiram a comunidade, após uma briga com o antigo comparsa Danilo Dias Lima, o Tandera. Contudo, após a morte de Ecko, durante uma operação da Polícia Civil no bairro de Paciência, na Zona Oeste do Rio, em junho de 2021, Gargalhone perdeu apoio para invadir e retomar o controle da região, que estava sendo chefiada pelo miliciano André Boto.
Sem apoio de Zinho, irmão e sucessor de Ecko, Leandro e Lesk pediram ajuda a traficantes da Cidade de Deus, que é vizinha da Gardênia. A parceria foi firmada e o tráfico teria conseguido expandir os negócios para dentro da comunidade.