Rio - A Polícia Federal afirma que os trabalhos investigativos dos últimos cinco anos apontam que Ronnie Lessa e Maxwell Corrêa, o Suel, tinham uma "intrínseca relação". A sociedade na exploração de serviços de "gatonet" em Rocha Miranda, na Zona Norte do Rio, constitui objeto de outro procedimento investigativo, diz a PF. Nesta sexta-feira, uma operação em conjunto com o MPRJ mirou o esquema.
Durante sua colaboração premiada, um dos executores de Marielle Franco e Anderson Gomes, o ex-PM Élcio de Queiroz, afirmou que Maxwell explorava "gatonet", exploração de sinal de TV e internet, em Rocha Miranda, mas não soube afirmar se o bairro era a sede do criminoso. "Não sei. A sede eu não sei. Quando eu fazia entrega, fazia muito na área de Rocha Miranda. Via o falecido que fazia cobrança dele, que foi até executado; o Jorginho que fazia cobrança dele e mataram ele", contou em delação.
Élcio no entanto, confirmou que o ex-bombeiro tinha uma sociedade com Ronnie Lessa. "O Ronnie tem sociedade com o Suel nessas antenas da gatonet. Só que da parte da comunidade de Jorge Turco. Todo asfalto ali, que não é comunidade, é do Suel. Essa parte seria do Ronnie, que entrou depois que o cara tentou tomar dele e tal... então o Ronnie entrou de sociedade", afirmou.
De acordo com o relato do colaborador Élcio de Queiroz, Lessa, Suel e Macalé estavam empenhados em campanas para monitorar Marielle Franco desde os últimos meses de 2017.
Em seu relatório, a PF também cita que a denúnica anônima realizada à DH em de 15 de outubro de 2018, ponto de partida para que se chegasse aos executores, apontava como autores do crime Ronnie Lessa e um bombeiro militar, no caso, Maxwell Corrêa. O denunciante também informou, na época, que o veículo saiu do "quebra-mar", um dos locais onde os ex-militares mantinham o carro estacionado, segundo Élcio.
Durante a delação, o ex-PM afirmou que Maxwell tinha a incubência de fazer a troca de local dos veículos. "Até por que o Ronnie não pode dirigir por causa da perna dele, só se for automático. Então a chave ficava com Maxwell pra ele trocar o carro de lugar, ali na Barra da Tijuca, não sei se ele ia pra Rocha Miranda. Mas naquele local eu sei que ele trocava ali do estacionamento de um lugar pro outro. Tem dois lugares ali na Praia dos Amores, ali tirava de um local, como se fosse algum hóspede, alguém que frequentasse aquele local pra não ficar o carro parado nas mesmas condições que aconteceu com o carro anterior", contou Élcio aos policais.
Operação mira gatonet
Uma operação da Polícia Federal e do Ministério Público do Rio (MPRJ) na manhã desta sexta-feira (4) mirou o esquema de gatonet. Até o início da tarde, um homem foi conduzido até a sede da PF, no Centro do Rio. Os agentes cumprem sete mandados de busca e apreensão em endereços no Complexo do Lins, no Méier, e no Rocha, ambos na Zona Norte da cidade. Além da condução, um carro e malas com objetos ainda não identificados foram apreendidos.
De acordo com as investigações, Suel teria arrendado os pontos de gatonet após sua primeira prisão, em 2020. A ação mira endereços de pessoas que teriam envolvimento no esquema do ex-bombeiro.
Maxwell foi preso no no último dia 24 de julho, em sua casa, no Recreio dos Bandeirantes, durante a Operação Élpis, a primeira fase da investigação da PF com o MPRJ sobre as mortes de Marielle e Anderson.
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