Samuel Martins Soares (E) e Hugo Marcelo Martins (D), primo e irmão, descreveram Guilherme Lucas Martins Matias como um pai dedicadoPedro Ivo/Agência O Dia

Rio - Familiares estiveram no Instituto Médico Legal (IML) Afrânio Peixoto, no Centro do Rio, nesta segunda-feira (7), para liberar o corpo de Guilherme Lucas Martins Matias, 26, morto após ser baleado, no Morro do Santo Amaro, no Catete, Zona Sul. Parentes descreveram o frentista como um pai dedicado e lamentaram que o filho dele, de 4 anos, não vai poder comemorar o Dia dos Pais, na próxima semana, ao seu lado. O jovem voltava de um baile funk, no domingo (6), quando o carro em que estava com outros quatro amigos foi alvejado por policiais militares.
Guilherme Lucas morava com filho, a mãe, o irmão mais velho, as duas sobrinhas e a cunhada, no Morro da Coroa, em Santa Teresa, no Centro. Atualmente, ele havia deixado o trabalho como frentista e, há cinco dias, estava cobrindo as férias do primo como zelador, na Tijuca, Zona Norte. Segundo Samuel Martins Soares, ele cuidava do menino sozinho, desde a separação, e queria ser um pai presente, porque não teve um durante sua criação. O familiar contou ainda que a criança voltava da igreja com a mãe, quando a vítima foi baleada e que ainda não sabe sobre a morte.
"Um 'moloque' alegre, cuidava do filho dele sozinho, estava segurando a barra sozinho, cuidando com a mãe dele, na correria, fazendo um extra cobrindo minhas férias, para tomar conta do filho dele. Ele era um paizão, todo mundo via no olhar dele o prazer de cuidar do filho. A gente não teve um pai presente, então, a gente está fazendo o mínimo, cuidar dos nosso filhos, ser aquele pai presente, com garra. Está chegando o Dia dos Pais, imagina a criança de 4 aninhos de idade, não poder comemorar com o pai. O filho dele estava saindo da igreja com a mãe, pulando, saltitando, sem saber da situação que estava ocorrendo", lamentou Samuel. 
Irmão da vítima, Hugo Marcelo Martins disse que ainda não acredita na morte do jovem e que sua mãe está muito abalada. Ele contou que Guilherme havia comemorado o aniversário com a família no sábado (5) e à noite, decidiu ir com os amigos para o baile. Na volta da celebração, segundo o motoboy Guilherme Coutinho Martins da Silva, que dirigia o carro em que estavam, eles entraram na contramão da Rua do Fialho e, no momento em que subiam a via, viram um PM, que atirou sem realizar uma abordagem. Assustado com os tiros, o motorista acelerou.
Em depoimento na 5ª DP (Centro), um dos PMs contou que ao ver o carro na contramão, foi para o meio da pista e fez sinal para que parasse, o que não teria acontecido. Na oitiva, disse ainda que o motorista acelerou o veículo contra o agente, que conseguiu sair da frente. Ele relatou também que o passageiro do banco do carona estava com uma pistola apontada em sua direção e que, por isso, fez sete disparos contra o automóvel. A versão foi negada pelos ocupantes do veículo que sobreviveram e pelos familiares da vítima. 
"Perdi meu irmão jovem, alegre. Foi difícil (receber a notícia da morte), não deu para acreditar, ainda não caiu a ficha. A minha mãe está muito abalada. Ele era trabalhador, alegre, pai de família. Ele era um paizão, tomava conta do filho dele sozinho, porque separou da esposa e pegou o filho para morar com ele. Não tinha bandido dentro do carro, só tinha trabalhador voltando do baile e indo para casa. (Agora, espero) justiça, que os policiais paguem pelo erro deles", desabafou Hugo Marcelo. 
"Ele estava felizão, comemorando o aniversário dele. Infelizmente, meu primo foi curtir o baile e, na hora de sair, aconteceu essa fatalidade. Já estão piorando a situação, falando que eles estavam armados. Todos são trabalhadores, puxaram na ficha e não conseguiram nada, o carro do 'moloque' todo certinho, todo direitinho. Eu não estaria aqui 'botando a cara' por bandido nenhum. Não conseguiram nem abordar eles, como que vão conseguir achar uma arma com eles? Totalmente errado. Não apresentaram nenhuma arma", completou o primo.
O motorista chegou a socorrer Guilherme Lucas para o Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro, mas o jovem não resistiu aos ferimentos. Além dele, o fiscal Matheus Coutinho Martins da Silva e o ator Paulo Rhodney do Nascimento de Jesus foram atingidos no quadril e joelho, respectivamente, e receberam alta da mesma unidade ainda no domingo. O motoboy e o primo dele, Jean Lucas Rodrigues, que também estava no veículo, não se feriram. Ainda não há informações sobre o horário e o local do sepultamento do frentista. 
Procurada, a Polícia Militar informou que o comando determinou a instauração de um procedimento apuratório interno para averiguar as circunstâncias da ação e que as câmeras corporais utilizadas pelos policiais já foram recolhidas e os envolvidos na ocorrência prestaram depoimento na 5ª DP. "A 1ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (1ª DPJM) acompanha o caso", completou a corporação. A Polícia Civil disse que a arma do PM envolvido na ação foi apreendida e as câmeras corporais solicitadas para perícia.
"O desejo agora é a justiça, o policial pagar pelo que fez com meu primo. Eu não ia estar aqui 'botando a cara' por bandido, não, eu tenho 32 anos de idade, eu jamais dei problema, nunca apareci em reportagem arrumando problema com nada. Hoje eu estou aqui pelo meu primo, que estava apenas cobrindo as minhas férias e estava curtindo o aniversário dele", declarou Samuel.
*Colaborou Pedro Ivo