Policiais realizaram operação na Cidade de Deus um dia depois da morte do adolescente, de 13 anosReginaldo Pimenta / Agencia O Dia

Rio - "A gente têm imagens que dão para ver o meu sobrinho no chão, ainda vivo, e o policial acaba de executar ele". Este é o relato de Hamilton Menezes, tio do adolescente, de 13 anos, que morreu durante uma operação da Polícia Militar (PM) na Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio, na noite deste domingo (6). As armas dos policiais envolvidos na ação foram apreendidas e a Polícia Civil investiga o caso.
Segundo o pintor Hamilton Menezes, a família teve acesso a uma câmera de segurança da região, cujas imagens mostrariam o momento em que um policial do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq) atira contra o jovem. "Ele estava passeando de moto com um amigo em uma das ruas da Cidade de Deus, onde foram abordados já a tiros. Uma bala pegou na perna do jovem e ele caiu. [Pelas imagens], dá para ver o T. M F. no chão ainda vivo e o policial vai lá e acaba de executar", contou o tio do rapaz.
O pintor afirmou que as imagens foram feitas por uma câmera de segurança de um borracheiro, que fica próximo ao local da morte. Mas, de acordo com Hamilton, os policiais conseguiram apagar o momento da suposta execução. "Com internet e Bluetooth, eles conseguiram, com o celular, ter acesso e apagar só a parte da execução. Mas a gente têm um minuto antes e um pouquinho depois: dá para ver o PM dando o último tiro para executar", relatou.
Muito abalada, Priscila Menezes, mãe do adolescente, expressou a dor de perder um filho. "Era um menino carinhoso e agora vai ficar as lembranças dele vivo. 13 anos só. Tinha um futuro pela frente. Nada vai trazer meu filho de volta. Ele era só uma criança e não era envolvido com nada", relatou a mãe.
Hamilton, ainda, contou que o rapaz, além de religioso, havia passado no exame de um clube júnior de futebol. "Não era um menino de faltar a escola. No futebol, treinava durante a semana e final de semana tinha torneio. Era da igreja. Além disso, ele passou no exame do Serrano Futebol Clube. Esse era T. M. F.", completou Hamilton.
Além de Hamilton, moradores, que estavam no local, afirmaram que os militares forjaram a cena da morte do adolescente. "Eles forjaram. Começaram a dar tiro para um mato por nada. Acho que para colocar provas no local do crime", acusou o pintor.
O ouvidor geral da Defensoria Pública (DPERJ), Guilherme Pimentel, explicou que, durante esta madrugada, a DPERJ recebeu diversas denúncias da Cidade de Deus sobre a ação que matou o rapaz. "Agora, tivemos um adolescente alvejado. É muito preocupante. Recebemos denúncias de moradores da Cidade de Deus desde as primeiras horas da madrugada. Estamos em contato com a família dele. Não podemos naturalizar a morte de crianças e adolescentes", disse o ouvidor.
A Polícia Militar (PM) disse que uma pistola foi encontrada no local e que os agentes teriam sido atacados. Sobre isso, o tio do menino comentou: "Impossível, impossível, impossível. A perícia vai ser feita e vão ver que não tem vestígios de pólvora na mão dele".
Segundo a Polícia Militar, o comando da corporação instaurou um procedimento apuratório para averiguar as circunstâncias da ação, que matou o adolescente.
Em nota, a Polícia Civil informou que a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) foi acionada e investiga a morte do jovem. Além disso, as armas dos agentes envolvidos na ação foram apreendidas e a perícia foi realizada no local. Ainda de acordo com a polícia, diligências estão em andamento para esclarecer o caso.
Ainda não há informações sobre o sepultamento do jovem.
*Reportagem do estagiário Leonardo Marchetti, sob supervisão de Iuri Corsini. Colaborou Pedro Ivo