Na foto, parentes e amigos de Guilherme Lucas carregam seu caixão do Cemitério de CatumbiCléber Mendes/Agência O Dia
Comoção marca enterro de homem morto em ação da PM no Catete
Amigos e familiares mostraram indignação diante da atitude dos agentes, que levou à morte de Guilherme Lucas Martins Matias, de 26 anos, que voltava de um baile funk
Rio - Guilherme Lucas Martins Matias, de 26 anos, morto durante uma ação da Polícia Militar, foi enterrado na tarde desta segunda-feira (7), no Cemitério de Catumbi, na Zona Norte. O sepultamento foi marcado pela dor e a sensação de indignação de amigos e familiares diante da atitude dos agentes.
Guilherme Coutinho, o motorista do veículo em que Guilherme Lucas estava junto com outros amigos, admitiu que havia feito uma bandalha na Rua do Fialho, mas não pretendia fugir, apenas cortar caminho. "Saímos da Rua Santo Amaro, entramos na Rua do Fialho. São duas curvas, na segunda curva, ele [o PM] pulou no meio da rua e deu tiro. Aí eu acelerei o carro e fui embora. Ele continuou dando tiro. Não teve ordem de parada, ele já pulou e atirou. Não mandou a gente parar", disse.
Coutinho também desmentiu a versão dos agentes de que havia uma pistola prata dentro do veículo e revelou que antes da ação dos agentes, todos vinham se divertindo e rindo dentro do veículo. "Estava uma gritaria de felicidade, depois foi uma gritaria de desespero. Depois [dos disparos], eu subi com o carro. Nem sei como carro andou, porque o primeiro tiro que ele deu estourou alguma coisa do óleo, vazou óleo para caramba na rua e no hospital", afirmou.
"Nesse momento, deixei os outros meninos na Rua Navarro, e segui com o Guilherme para o hospital. Ele era o mais grave, já estava ficando mole. Fui no caminho falando com ele", relembrou.
Após o enterro, parentes e amigos realizaram uma manifestação pacífica no Túnel Santa Bárbara, no Catumbi. A pista ficou fechada por 20 minutos, como forma de protesto.
Nesta segunda (7), o porta-voz da Polícia Militar do Rio de Janeiro, coronel Marco Andrade, afirmou que os agentes envolvidos na ação não deveriam ter atirado e desrespeitaram o protocolo da corporação.
"Segundo os policiais militares que estavam no local, um veículo que vinha na contramão não obedeceu à ordem de parada. E os policiais efetuaram disparos de arma de fogo. Todo esse protocolo não faz parte dos nossos materiais de instruções, de abordagem, nas nossas técnicas, realizadas constantemente nos nossos centros de formação", disse o coronel em entrevista à TV Globo.
O porta-voz afirmou ainda que os PMs usavam câmeras portáteis em suas fardas e que as imagens vão ajudar a esclarecer o ocorrido. Andrade também revelou que as armas dos policiais foram recolhidas para realização da perícia e um procedimento interno foi instaurado pela Corregedoria da Polícia Militar para apurar o caso.
Relembre o caso
Guilherme Lucas morreu, na manhã deste domingo (6), no Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro do Rio. Ele havia saído com amigos de um baile funk no Morro do Santo Amaro. Paulo Rhodney do Nascimento de Jesus e Matheus Coutinho Martins da Silva, amigos da vítima, também ficaram feridos na ação.
Em depoimento na 5ª DP (Centro), um dos PMs contou que ao ver o carro na contramão, foi para o meio da pista e fez sinal para que parasse, o que não teria acontecido. Na oitiva, disse ainda que o motorista acelerou o veículo contra o agente, que conseguiu sair da frente. Ele relatou também que o passageiro do banco do carona estava com uma pistola apontada em sua direção e que, por isso, fez sete disparos contra o automóvel.
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