Manifestantes levaram bolas brancas e colocaram faixas pretas em ruas da Cidade de Deus durante protesto sobre a morte de menino baleado durante ação policialArquivo Pessoal

Rio - Familiares, amigos e moradores realizaram uma manifestação, na noite desta segunda-feira (7), contra a ação policial que terminou na morte de um adolescente, de 13 anos, na Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio. O menino foi baleado enquanto andava de moto em uma das ruas da comunidade.
Os presentes levaram cartazes e faixas pretas foram espalhadas pelas ruas da comunidade. Os manifestantes utilizaram bolas brancas para pedir paz e Justiça. Fogos de artifício também foram utilizados para homenagear o menino.
A concentração dos familiares e amigos aconteceu na Rua Pintor Leandro Joaquim, próximo à Estrada Marechal Miguel Salazar Mendes de Moraes. Ao DIA, Nathaly Flausino, tia do menino, disse que os moradores e amigos estão tristes porque sabem que o adolescente não tem envolvimento com o tráfico. 
"A população está indignada, ferida e triste. Todo mundo sabia que ele não era do movimento, que ele não era do tráfico. Isso está causando revolta", comentou.
Durante o encontro, a Rua Pintor Leandro Joaquim ficou parcialmente interditada. Depois, um grupo de manifestantes seguiu pela Estrada Marechal Miguel Salazar até a Praça da Cidade de Deus. O acesso para o trecho pela Estrada dos Bandeirantes, sentido Barra da Tijuca, foi bloqueado, segundo o Centro de Operações Rio.
Vídeos postados nas redes sociais mostram policiais borrifarando spray de pimenta nos manifestantes com o objetivo de afastá-los. Um blindado da corporação estava estacionado próximo ao local.
Questionada sobre o assunto, a Polícia Militar informou apenas que agentes do Batalhão de Rondas Especiais e Controle de Multidão (Recom) acompanharam a movimentação.
Família acusa PMs de ter matado adolescente
Familiares do menino estiveram, na manhã desta segunda-feira (7), no Instituto Médico Legal (IML) Afrânio Peixoto, no Centro do Rio, para liberação de seu corpo. Segundo o pintor Hamilton Menezes, a família teve acesso a uma câmera de segurança da região, cujas imagens mostrariam o momento em que um policial do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq) atira contra o jovem.
"Ele estava passeando de moto com um amigo em uma das ruas da Cidade de Deus, onde foram abordados já a tiros. Uma bala pegou na perna do jovem e ele caiu. [Pelas imagens], dá para vê-lo no chão ainda vivo e o policial vai lá e acaba de executar", disse o tio do rapaz.
O pintor afirmou que as imagens foram feitas por uma câmera de segurança de um borracheiro, que fica próximo ao local da morte. Mas, de acordo com Hamilton, os policiais conseguiram apagar o momento da suposta execução. "Com internet e Bluetooth, eles conseguiram, com o celular, ter acesso e apagar só a parte da execução. Mas a gente têm um minuto antes e um pouquinho depois: dá para ver o PM dando o último tiro para executar", relatou.
Além do tio, moradores, que estavam no local, afirmaram que os militares forjaram a cena da morte do adolescente. "Eles forjaram. Começaram a dar tiro para um mato por nada. Acho que para colocar provas no local do crime", acusou o pintor.
Muito abalada, Priscila Menezes, mãe do adolescente, expressou a dor de perder um filho. "Era um menino carinhoso e agora vai ficar as lembranças dele vivo. 13 anos só. Tinha um futuro pela frente. Nada vai trazer meu filho de volta. Ele era só uma criança e não era envolvido com nada", relatou a mãe.
Fábio Silva, treinador do adolescente no Canelinhas Futebol Clube, projeto social no qual o menino jogava futebol, cobrou autoridades e pediu ajuda contra a ação policial na Cidade de Deus. Ele ainda destacou que o projeto está de luto pela morte do aluno.
"A Cidade de Deus e o projeto Canelinhas acordam de luto. Está sendo um dia muito triste na nossa comunidade porque ontem perdemos nosso aluno, que gostava de futebol, tinha um sonho e esse sonho foi interrompido. Pedimos para que as autoridades competentes venham a nos ajudar porque o que fizeram com essa criança foi uma covardia imensa. Precisamos de vocês autoridades competentes. Estamos passando por dificuldades dentro das nossas comunidades por excesso de violência dos policiais. Ninguém chega atirando em um condomínio de rico. Ninguém chega atirando na rua no centro da cidade, em Copacabana ou na Barra da Tijuca. Aqui na Cidade de Deus, os policiais já chegam atirando sem sequer saber quem é que eles vão acertar", disse.
O que diz a PM
Em nota, a PM informou que uma equipe do BPChq estava realizando um patrulhamento na esquina da Estrada Marechal Miguel Salazar com a Rua Geremias, na noite de domingo (7), quando dois homens em uma moto atiraram contra os militares. O jovem, de 13 anos, foi atingido por um dos disparos e morreu no local. A área foi isolada para que a Polícia Civil realizasse a perícia. Uma pistola 9mm foi apreendida na ação.
Segundo a corporação, os policiais que participaram da ocorrência não usavam câmeras acopladas em seus uniformes. A corregedoria abriu um procedimento interno para apurar o caso. As armas dos agentes foram apreendidas e a DHC realiza diligências para esclarecer o caso.
Não há informações sobre o sepultamento do menino.