André Luiz Frambach prestou depoimento ontem na Decradi Rogério Fidalgo / Ag News

Rio - O ator André Luiz Frambach, de 26 anos, noivo de Larissa Manoela, prestou depoimento, nesta quarta-feira (20), na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), no Centro do Rio, sobre um inquérito que investiga a pedagoga Silvana Taques Elias dos Santos, de 51 anos, mãe da atriz, pelo crime de racismo religioso.
André deixou a delegacia junto com os advogados, sem falar com a imprensa. A investigação começou depois que a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa do Rio (CCIR) entrou com uma notícia-crime, no dia 22 de agosto, contra Silvana, que teria utilizado termos ofensivos para atacar a religião da família do ator, que é espírita kardecista.
Após Larissa Manoela desejar uma feliz celebração de Natal de 2022, a mãe teria respondido com palavrão e deboche: "Esqueci de te desejar... Que você tenha um ótimo Natal aí com todos os guias dessa família macumbeira". A Decradi recebeu a notícia-crime e abriu uma investigação para apurar uma possível prática de intolerância religiosa por parte da pedagoga.
De acordo com a denúncia do CCIR, a mensagem de Silvana "extravasa os limites da livre manifestação de ideias, constituindo-se em insultos, ofensa e estímulo à intolerância e ao ódio contra as religiões de matriz africana".
Representante da Comissão, o Babalawô e professor do programa de pós-graduação em História Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ivanir dos Santos, ressaltou que casos como este evidenciam as dificuldades em enfrentar o preconceito religioso no Brasil.
"A liberdade religiosa ainda é desafio para a sociedade brasileira, seja na esfera privada ou pública. Precisamos pontuar que a liberdade religiosa, a liberdade de culto e crença é garantida por lei. Assim, casos como esses, evidência o quanto ainda precisamos lutar e educar para uma sociedade mais justo e que acima de tudo respeito às diferenças", disse.
O advogado Carlos Nicodemos, que assina a notícia-crime, afirmou que o objetivo da ação foi levar às autoridades policiais um fato que está sendo amplamente divulgado e que configuraria como crime por incitar preconceito de religião.
"Cabe às autoridades policiais fazer uma investigação e verificar se houve um impulsionamento desse diálogo, inclusive com intuito de promover uma ofensa às religiões de matriz africana. Certamente, a apuração inicial será na oitiva das partes envolvidas, mesmo não sendo uma questão de interesse privado, mas sim de interesse coletivo. Não há espaço para qualquer tipo de tolerância no que diz respeito à discriminação. A responsabilização criminal é uma forma pedagógica e de chamar atenção da sociedade para um novo tempo, um tempo de respeito a todas as religiões", afirmou Nicodemos.
A CCIR é uma organização sem fins lucrativos formada por representantes da sociedade civil, Ministério Público, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Polícia Civil. A comissão tem atuação na luta contra a discriminação social, econômica, religiosa e sexual em todo o território nacional.