Velório de Joel Luiz Rodrigues da Silva, morto durante tiroteio em Costa Barros. o Sepultamento foi realizado no Cemitério do Murundu, Realengo, Zona Norte do Rio nesta sexta-feira(29). Foto: Cléber Mendes/Agência O DiaCléber Mendes/Agência O Dia
Publicado 29/09/2023 16:59
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Rio - Joel Luiz Rodrigues da Silva, de 67 anos, morto depois de ser atingido por uma bala perdida durante um confronto entre criminosos em Barros Filho, na Zona Norte, foi sepultado, na tarde desta sexta-feira (29), no Cemitério do Murundu, em Padre Miguel, Zona Oeste. A região sofre com intensas trocas de tiros desde o começo da semana por causa de disputa territoriais entre facções.
O sepultamento foi marcado por muita emoção de familiares e amigos, que levaram camisas com os dizeres 'Eterno vô Joel'. A irmã caçula da vítima, Joana D'Arc Cristina de Souza, disse que a família está arrasada com a perda, mas que precisa levantar a cabeça para poder cuidar da mãe, de 90 anos.
"A minha dor maior. Se meu irmão estivesse doente, eu entenderia, mas uma violência que hoje está no nosso Rio de Janeiro? Está doendo tanto. Ele era uma pessoa feliz. A gente ia para o Swing & Simpatia juntos, para o show da Alcione juntos. Ele era um cara que, se a gente tivesse brigando, ele pedia assim: 'Gente, não briga não. A vida é bela!'. Hoje, acabei de deixar um irmão mais velho aqui no cemitério. A minha mãe não chora, desde quarta-feira não come, a minha mãe está tão triste que quando eu chegar em casa agora eu não posso nem chorar. Eu tenho que trazer alegria", disse.
Joana desabafou sobre a intensa violência que atinge o local onde o irmão morava. Ela revelou que assistia os casos pela TV, mas não imaginava que algo poderia acontecer com um membro de sua família.
"Eu via na TV as famílias chorando. Eu sentia a dor porque sou ser humano, mas a gente jamais imagina que vai acontecer com a nossa família nossa. Ele era um pai, um amigo, um avô e tanto. Ele era alegre. Hoje, no Rio de Janeiro, a gente não pode sair. Não pode nada. A violência está muito grande. Eu estou com uma dor que só eu sei. Todo mundo fala que cada um tem a sua, mas a minha dor está enorme. Ver meu irmão, um homem cheio de vida, que dedicou à família, partir desse jeito. Eu só peço ajuda porque está doendo muito", completou.
Na tarde de quarta-feira (27), Joel foi baleado a caminho do mercado. Ele chegou a ser socorrido e encaminhado à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Costa Barros. Posteriormente, ele foi transferido para o Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, ainda na Zona Norte, mas não resistiu aos ferimentos.
Joel deixa a mulher, filhos, 12 netos e quatro bisnetos. No dia em que foi baleado, um dos parentes chegou a pedir para que ele não fosse para rua por conta do tiroteio.
A morte é investigada pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC). Segundo informado pela Polícia Civil nesta sexta-feira (29), a investigação segue em andamento para identificar a origem e a autoria do disparo que atingiu a vítima.
Guerra por território
Desde o começo da semana, criminosos de grupos rivais estão em disputa pelo domínio territorial de comunidades do Complexo da Pedreira e do Chapadão, localizados na Zona Norte do Rio. Ambos são um grande conjunto de favelas que fica entre os bairros de Costa Barros, Barros Filho, Coelho Neto, Parque Colúmbia, Pavuna, Anchieta, Guadalupe e Ricardo de Albuquerque.
A disputa na região ocorre entre as facções Comando Vermelho (CV) e Terceiro Comando Puro (TCP) e gera diversos momentos de terror para quem mora na área. Na noite de quarta-feira (27), criminosos jogaram um artefato explosivo dentro de um ônibus que passava pela Avenida Brasil, na altura de Barros Filho. O crime deixou três pessoas feridas.
O passageiro Eduardo Vieira Pontes, de 61 anos, que deu entrada no Hospital Albert Schweitzer, em Realengo, na Zona Oeste, no mesmo dia, após ficar gravemente ferido, foi transferido para uma unidade de rede privada já em estado estável nesta sexta-feira (29). Outro ferido, Luiz Silva, 65, que foi encaminhado também ao Hospital Albert Scheweitzer, com ferimentos moderados, permanece internado na unidade com quadro de saúde estável. Já Elaine Ivo, 35, atendida no mesmo hospital, recebeu alta ainda na quarta-feira (27).
Ainda na quarta, um tiroteio nas proximidades da estação Costa Barros afetou a circulação de trens do ramal Belford Roxo e fechou, por uma hora, quatro estações da SuperVia. De acordo com a concessionária que administra o serviço de trem no estado, as estações fechadas para embarque e desembarque foram as de Rocha Miranda, Honório Gurgel, Barros Filho e Costa Barros.
Na terça-feira (26), moradores da comunidade Terra Nostra, em Costa Barros, vivenciaram um intenso tiroteio. Segundo relatos nas redes, integrantes TCP estariam tentando retomar o controle da comunidade, que teria sido dominada pelo CV recentemente.
*Colaboração de Cléber Mendes
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